Eliane Cantanhêde
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
BRASÍLIA - Há aquela velha provocação, que se pretende engraçada, mas é profundamente machista e de mau gosto, de que "mulher gosta de apanhar". Pois, se algo ou alguém gosta mesmo de apanhar, é o Congresso Nacional. Uma vocação para Geni incrível, jamais vista.
Deixar todas as votações para a última hora já é de praxe, mas empurrar noite adentro uma decisão que, estava na cara, iria irritar brasileiros pobres e ricos de norte a sul é de arrepiar os cabelos. No fim, dar à luz 7.343 novos vereadores não só irritou a plebe rude e nem tão rude como também produziu um racha entre o Senado, que votou o projeto de madrugada, e a Câmara, que decidiu à luz do dia não assiná-lo. Ou seja, não ser cúmplice.
O mundo está em crise, o crescimento do Brasil no ano que vem tende a ser metade do previsto inicialmente, o pavor das empresas e o recuo das exportações começam a devorar sabe-se lá quantos milhões de empregos. E os senadores aumentando o número de vereadores... Façam o favor!
As pessoas querem cada vez mais empregos e cada vez menos políticos, ou menos politicagem.
Mas os senadores, além de inflarem as Câmaras de Vereadores, ainda fatiaram a proposta da Câmara para retirar uma espécie de salvaguarda: a redução do limite de repasse de verbas das prefeituras para as Câmaras Municipais. Era uma tentativa -matreira, é verdade- de evitar que ao aumento de vereadores correspondesse um aumento de despesa. Mas nem isso sobrou. Os senadores multiplicaram os vereadores e deixaram a conta pra lá.
É por essas (e por muitas outras) que os jovens brilhantes, estudiosos, bons oradores e com um mínimo de espírito patriótico nem pensam em disputar mandato político. Para se contaminar com esse tipo de coisa? E com esse tipo de gente?
Cria-se um círculo vicioso. Os quadros políticos vão ladeira abaixo e, com eles, a própria política. O que dizer? Feliz Natal!
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