Luiz Carlos Mendonça de Barros
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Os juros cairão em janeiro, e o ciclo de afrouxamento monetário pode se mostrar maior que o esperado
A CONTRAÇÃO do crédito que nos atingiu a partir de outubro passado é uma das principais responsáveis pela mudança brusca no ritmo de crescimento da economia brasileira. Não por outra razão o governo vem tomando em cascata várias medidas para tentar reverter esse movimento. Nesta semana, o CMN aprovou mais uma mudança na contabilidade dos bancos com o objetivo de abrir espaço para mais empréstimos. É preciso cuidado com esse tipo de medida, cujo uso em excesso pode comprometer a segurança do nosso sistema bancário. Além disso, os efeitos na oferta de crédito são duvidosos e devem ocorrer principalmente nos bancos públicos, com os riscos que conhecemos.
No caso dos grandes bancos privados, não deve haver grande mudança, já que não se trata de falta de capacidade, mas de menor disposição para emprestar, e sobre esta o governo tem pouca influência. Outra frente importante nessa batalha, para evitar uma contração maior do ritmo da economia, é a condução da política monetária do BC. Em sua última reunião, o Copom claramente mudou sua posição ao informar ao mercado que discutiu a possibilidade de iniciar o tão esperado -e necessário- processo de redução da taxa Selic. A decisão de manter os juros foi tomada para acomodar os membros que ainda relutavam em aceitar uma inflexão abrupta na política monetária.
Para entender a dinâmica desse conflito, o mercado esperou com ansiedade a divulgação -que aconteceu ontem- da ata completa dessa reunião. A mensagem clara do Copom é que a decisão de reduzir a taxa Selic já está tomada e deve ser efetivada em sua reunião de janeiro próximo. Fica em aberto a dimensão dessa redução ao longo das próximas reuniões. São várias passagens na ata que permitem essa leitura antecipada. A primeira diz respeito a uma das questões que têm dividido a opinião do mercado: o impacto da desvalorização do real na inflação. No passado, uma desvalorização da magnitude da ocorrida nos últimos três meses sempre pressionou a inflação de forma importante. Esse padrão levou um grupo de economistas até a pedir uma aceleração da velocidade de aumento da Selic. Hoje, estão todos amuados com os termos da ata.
Estive sempre do lado dos que pediam reflexão e alertavam de que, desta vez, a perda de valor do real ocorria no momento de uma recessão global, com queda brutal nos preços de commodities e produtos intermediários. A combinação desses dois movimentos reduziu muito o impacto da desvalorização do câmbio nos preços internos, como mostram os últimos indicadores no atacado. Ainda há riscos, mas eles parecem menores do que nossa experiência histórica indicaria. Por outro lado, a incrível e brusca descontinuidade da oferta de crédito e da atividade reduz sensivelmente a pressão futura sobre os preços. Não por outra razão, o Copom mencionou que houve queda na sua projeção de inflação para 2009, mesmo considerando a forte alta do câmbio.
A combinação dessas duas forças abre um cenário novo para a ação do Banco Central. E essas mudanças não passaram despercebidas pela maioria dos membros do Copom. Apesar do uso de qualificativos, tão ao uso dos bancos centrais, a mensagem é clara. Os juros serão reduzidos em janeiro como passo inicial para um ciclo de afrouxamento monetário que pode se mostrar maior que o esperado pela maioria dos analistas.
Luiz Carlos Mendonça de Barros , 66, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Os juros cairão em janeiro, e o ciclo de afrouxamento monetário pode se mostrar maior que o esperado
A CONTRAÇÃO do crédito que nos atingiu a partir de outubro passado é uma das principais responsáveis pela mudança brusca no ritmo de crescimento da economia brasileira. Não por outra razão o governo vem tomando em cascata várias medidas para tentar reverter esse movimento. Nesta semana, o CMN aprovou mais uma mudança na contabilidade dos bancos com o objetivo de abrir espaço para mais empréstimos. É preciso cuidado com esse tipo de medida, cujo uso em excesso pode comprometer a segurança do nosso sistema bancário. Além disso, os efeitos na oferta de crédito são duvidosos e devem ocorrer principalmente nos bancos públicos, com os riscos que conhecemos.
No caso dos grandes bancos privados, não deve haver grande mudança, já que não se trata de falta de capacidade, mas de menor disposição para emprestar, e sobre esta o governo tem pouca influência. Outra frente importante nessa batalha, para evitar uma contração maior do ritmo da economia, é a condução da política monetária do BC. Em sua última reunião, o Copom claramente mudou sua posição ao informar ao mercado que discutiu a possibilidade de iniciar o tão esperado -e necessário- processo de redução da taxa Selic. A decisão de manter os juros foi tomada para acomodar os membros que ainda relutavam em aceitar uma inflexão abrupta na política monetária.
Para entender a dinâmica desse conflito, o mercado esperou com ansiedade a divulgação -que aconteceu ontem- da ata completa dessa reunião. A mensagem clara do Copom é que a decisão de reduzir a taxa Selic já está tomada e deve ser efetivada em sua reunião de janeiro próximo. Fica em aberto a dimensão dessa redução ao longo das próximas reuniões. São várias passagens na ata que permitem essa leitura antecipada. A primeira diz respeito a uma das questões que têm dividido a opinião do mercado: o impacto da desvalorização do real na inflação. No passado, uma desvalorização da magnitude da ocorrida nos últimos três meses sempre pressionou a inflação de forma importante. Esse padrão levou um grupo de economistas até a pedir uma aceleração da velocidade de aumento da Selic. Hoje, estão todos amuados com os termos da ata.
Estive sempre do lado dos que pediam reflexão e alertavam de que, desta vez, a perda de valor do real ocorria no momento de uma recessão global, com queda brutal nos preços de commodities e produtos intermediários. A combinação desses dois movimentos reduziu muito o impacto da desvalorização do câmbio nos preços internos, como mostram os últimos indicadores no atacado. Ainda há riscos, mas eles parecem menores do que nossa experiência histórica indicaria. Por outro lado, a incrível e brusca descontinuidade da oferta de crédito e da atividade reduz sensivelmente a pressão futura sobre os preços. Não por outra razão, o Copom mencionou que houve queda na sua projeção de inflação para 2009, mesmo considerando a forte alta do câmbio.
A combinação dessas duas forças abre um cenário novo para a ação do Banco Central. E essas mudanças não passaram despercebidas pela maioria dos membros do Copom. Apesar do uso de qualificativos, tão ao uso dos bancos centrais, a mensagem é clara. Os juros serão reduzidos em janeiro como passo inicial para um ciclo de afrouxamento monetário que pode se mostrar maior que o esperado pela maioria dos analistas.
Luiz Carlos Mendonça de Barros , 66, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).
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