segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Governo já admite reabrir ação contra Sarney

Gerson Camarotti
DEU EM O GLOBO

Bancada petista deve apoiar recurso da oposição contra arquivamento de investigações sobre presidente do Senado

BRASÍLIA. O Palácio do Planalto já admite que as investigações sobre o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), no Conselho de Ética, serão reabertas quando for a julgamento o recurso que a oposição apresentará nos próximos dias. Na última semana, o presidente do Conselho, Paulo Duque (PMDBRJ), determinou o arquivamento sumário de todas as ações contra o senador. Apesar de contar com a retomada da apuração, o governo recebeu indicações de que sua base, inclusive o PT, não permitirá que a análise das representações seja transformada num processo de cassação.

Governistas e integrantes da oposição tentam agora levar a crise do plenário do Senado para o Conselho. Senadores ouvidos pelo GLOBO no fim de semana apontaram que essa pode ser a “saída honrosa” para tentar diminuir o clima de tensão que tomou conta da Casa. O presidente Lula foi informado de que a bancada petista trabalhará para solucionar a crise.

Tensão deve ajudar entendimento, diz Múcio Por esse roteiro, o PT apoiaria um ou dois recursos da oposição para abrir as investigações contra Sarney, provavelmente a ação que trata do envolvimento do senador com atos secretos.

Porém, pressionados pelo Planalto, os senadores do PT no Conselho não devem aceitar a abertura de processo por quebra de decoro parlamentar contra Sarney. Três petistas no colegiado — Delcídio Amaral (MS), João Pedro (AM) e Ideli Salvatti (SC) — são fiéis escudeiros do presidente Lula. Para o governo, a crise já atingiu o seu ápice e, a partir de agora, a tendência é de que o Senado encontre uma solução para o impasse.

— A tensão que tomou conta do Senado na última quintafeira deve ajudar na busca de um entendimento. Até porque, a partir de agora, todos começam a perder — observou o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro.

Mas os petistas também estariam dispostos a fazer gestos para a oposição. Nesse caso, os representantes da bancada no Conselho ajudariam a barrar a abertura de processo de cassação contra o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), caso a representação do PMDB seja acolhida por Duque. A tentativa de transferir a crise para o Conselho começou a ser desenhada depois da constatação de que Sarney estaria disposto a ir para o enfrentamento, o que poderia ter consequências imprevisíveis.

— A pior semana passou.

Todo mundo dizia que Sarney iria renunciar. Sarney não saiu, e ficou claro que isso não vai acontecer — disse o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL).

No Planalto, há preocupação com as consequências do clima de guerra no Senado, como a divisão da base governista. No PMDB, já há uma divisão sobre o tom beligerante adotado pela tropa de choque de Sarney nos últimos dias. Há sinais de insatisfação com a forma como o partido decidiu ir para o enfrentamento contra a oposição.

Integrantes da bancada já manifestam, de forma reservada, contrariedade com o fato de Renan ter mantido a linha de ataque, mesmo depois de PSDB e DEM terem emitido sinais de intimidação.

A gota d’água teria sido o bate-boca entre Renan e o tucano Tasso Jereissati (CE). Renan negou o tom agressivo: — Mais calmo que eu, impossível.

Fiquei seis meses calado.

Ontem, Sarney foi à missa, de manhã, na Igreja São Pedro de Alcântara, no Lago Sul, bairro onde mora, em Brasília. O senador não deu entrevista.

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