• Referindo-se a Sérgio Guerra, petista defendeu que todos os integrantes de partidos que tenham praticado 'mal feitos' paguem pelos seus atos
Júnia Gama – O Globo
BRASÍLIA — A presidente Dilma Rousseff (PMDB), candidata à reeleição, admitiu neste sábado, pela primeira vez, que houve desvio de dinheiro público no esquema de corrupção na Petrobras citado em depoimentos de delação premiada pelo ex-dirigente da estatal Paulo Roberto Costa e pelo doleiro Alberto Youssef. Em entrevista coletiva no Palácio da Alvorada, Dilma afirmou que faria “o possível” para que os valores desviados sejam devolvidos aos cofres públicos. A presidente também demonstrou que o tom da campanha até o segundo turno da eleição continuará sendo de ataques contra o adversário Aécio Neves (PSDB).
— Eu farei todo o meu possível para ressarcir o país. Se houve desvio de dinheiro público, nós queremos ele de volta. Se houve, não; houve, viu? — afirmou a presidente, que não costuma admitir erros.
Ela, no entanto, disse não saber estimar o valor do desvio.
— Daqui para frente, a não ser que eu seja informada pelo Ministério Público ou pelo juiz, não tenho medida nenhuma a tomar, não é o presidente que processa. Eu tomarei todas as medidas para ressarcir tudo e todos, mas ninguém sabe ainda o que deve ser ressarcido, porque a chamada delação premiada, onde tem os dados mais importantes, não foi entregue a nós. Até eu pedi, como vocês sabem, tanto ao Ministério Público, quanto para o ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki, mas ambos disseram que estava sob sigilo — disse Dilma.
Hoje, o órgão regulador do mercado americano, a Segurity Exchange Comission, abriu investigação para saber se o escândalo na Petrobras prejudicou acionistas.
Beneficiado pela delação premiada, Paulo Roberto envolveu políticos do PT, do PMDB e do PP, base aliada do governo. As denúncias começaram a partir da Operação Lava-Jato, deflagrada em março pela Polícia Federal, para investigar um esquema de lavagem de dinheiro que teria movimentado R$ 10 bilhões ilegalmente.
Sobre a citação do ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra, morto em março deste ano, na delação premiada de Paulo Roberto Costa, como receptor de propina para que esvaziasse a CPI da Petrobras em 2009, Dilma disse que não iria “comemorar” o vazamento seletivo, que antes havia atingido apenas partidos da base aliada, inclusive o PT. A presidente defendeu que todos os integrantes de partidos que tenha praticado “mal feitos” têm de pagar.
— É interessante notar que os vazamentos seletivos acontecem para todos os lados. Isso não é bom, não vou aqui comemorar nada, Só acho que o pau que bate em Chico, bate em Francisco. Essa é uma lei, né? pontuou Dilma.
— Não acho que alguém no Brasil tenha a primazia da bandeira da ética. O retrospecto do PSDB não lhe dá essa condição, acho que não dá a partido nenhum. Todos os integrantes de partido que tenham cometido crime, delito, mal feito, têm de pagar por isso. Ninguém está acima de qualquer suspeita no Brasil. — completou.
De acordo com o jornal “O Estado de S.Paulo”, Paulo Roberto afirmou na delação que o esquema de corrupção na estatal repassou R$ 1 milhão à campanha da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), em 2010. O marido da senadora, o atual ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, e na época ministro de Planejamento, Orçamento e Gestão do governo Lula, foi quem teria recebido o dinheiro.
'Não é uma fala correta para mulheres'
Questionada se pretende amenizar os ataques contra o adversário tucano após ações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e críticas nos bastidores de integrantes da Corte em relação ao tom bélico da campanha, a presidente negou que o TSE tenha feito qualquer intervenção em sua campanha, alegando que as ações ainda não foram julgadas e, apesar de dizer que o baixo nível deve ser “superado”, deu demonstrações de que devem prevalecer os ataques a Aécio Neves nessa reta final.
— Eu não concordo que o TSE teve qualquer intervenção na minha campanha. Gostaria de saber onde e quando. Acho que isso ainda será julgado. Eu acredito que o que é baixo nível da campanha é algo que deve ser completamente superado — disse Dilma.
A presidente se referiu ainda ao fato de Aécio Neves estar processando a presidente por difamação, calúnia e injúria por propaganda na qual diz que o tucano não respeita as mulheres. Dilma afirmou, na coletiva, que Aécio teria sido desrespeitoso com a presidente e com Luciana Genro, candidata do PSOL derrotada no primeiro turno, por tê-las chamado de “levianas”.
— É óbvio que tem de ter discussão, aí o candidato adversário não gosta muito e passa para atitudes um tanto quanto desrespeitosas, foram desrespeitosas comigo e com a Luciana Genro. Ele pode inclusive querer processar, mas quem devia querer processar somos nós, porque a nós duas ele chamou de leviana, coisa que não se faz. Não é uma fala correta para mulheres — disse Dilma.
Palanques no Rio
Quanto à sua participação nos palanques dos dois candidatos ao governo do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB) e Marcelo Crivella (PRB), Dilma afirmou ter uma “relação especial” com ambos:
– Tenho em relação aos dois uma situação muito específica. Com Pezão fiz talvez a parceria mais estreita que o governo federal fez com um governo local. Tenho admiração sincera e acho ele um excepcional gestor, além de uma pessoa excepcional também. Em relação ao Crivella, tenho a mesma opinião, ele foi meu ministro da Pesca, sei a dedicação do Crivella. Se alguém tirou e deixou um legado para continuar tirando a Pesca do anonimato no Brasil, tornando-a um dos setores fundamentais, foi o Crivella. Tenho em relação a ambos uma relação especial – afirmou a presidente.
No 1º turno, ataques de Dilma a Marina
Apesar de agora criticar na sua propaganda política o candidato Aécio Neves (PSDB) por desrespeitar as mulheres, a candidata Dilma Rousseff (PT) e sua equipe de campanha recorreram à tática do ataque à ex-candidata do PSB, Marina Silva, no primeiro turno. Faltando pouco mais de 20 dias para a votação, Marina se queixou publicamente das mentiras que tinham sido espalhadas contra ela e prometeu não atacar “uma mulher”. Como resposta, Dilma disse que "coitadinho" não poderia ocupar o mais alto cargo do país.
— Tem de segurar a crítica, sim. O Twitter é o de menos (referindo-se a críticas nas redes sociais). O problema são pressões de outra envergadura que aparecem e que, se você não tem coluna vertebral, você não segura. Não tem coitadinho na Presidência. Quem vai para a Presidência não é coitadinho, porque, se se sente coitadinho, não pode chegar lá — afirmou Dilma.
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