domingo, 19 de outubro de 2014

‘É uma confissão de culpa’, diz coordenador da campanha do PSDB sobre declaração de Dilma

• Oposição vê declaração da presidente como um reconhecimento tardio de que escândalo ocorreu

Evandro Éboli, Junia Gama e André de Souza – O Globo

BRASÍLIA — A oposição entendeu que as declarações da presidente Dilma Rousseff sobre a crise na Petrobras é um reconhecimento tardio da presidente sobre o escândalo que atinge a estatal. O coordenador da campanha do senador Aécio Neves (PSDB), o também senador Agripino Maia (DEM-RN), classificou a afirmação de Dilma como uma confissão de culpa. Para ele, a presidente reconheceu a corrupção somente agora por uma questão eleitoral.

— É uma confissão de culpa do petismo em relação à Petrobras. Todos os posicionamentos do governo e da presidente em relação a esse tema são sempre tardios, como foi a demissão de Paulo Roberto Costa. Demissão que se deu nos termos que o Brasil inteiro sabe, com o reconhecimento dos grandes serviços prestados por ele — disse Agripino Maia. — Até hoje, os fatos relatados não foram objeto de providências enérgicas do governo. Somente agora, às vésperas das eleições é que a presidente está reconhecendo o dolo praticado pelo petismo. Tudo isso tem um sentido eleitoral, é claro — completou.

O deputado Rubens Bueno (PPS-PR) criticou Dilma, dizendo que as declarações dela vieram após anos e anos de desvios bilionários na Petrobras. Ele cobrou que a presidente seja responsabilizada, lembrando que, ao longo dos últimas 12 anos, ela teve alguma ligação com a estatal, seja como ministra de Minas e Energia, ministra da Casa Civil, presidente do Conselho de Administração da Petrobras, ou presidente da República.

— Nesses 12 anos, só agora admite desvios na Petrobras? Por que não tomou providências na época? Todos queremos que ela seja responsabilizada por isso. Foi responsável como ministra, como presidente do Conselho, e como presidente da República, que ficou ao longo do tempo blindando de toda a forma as investigações — disse Bueno.

O ex-governador de São Paulo Alberto Goldman, coordenador da campanha tucana no estado, disse que a candidata Dilma Rousseff demorou a admitir os desvios na Petrobras.

— Demorou para falar e só falou depois que foi cobrada várias vezes por Aécio para que reconhecesse o episódio. Agora ela vai ressarcir o país como? Como? — questionou Goldman.
O líder do PSDB na Câmara, Antônio Imbassahy (BA), afirmou que o reconhecimento de Dilma de que ocorreu corrupção da Petrobras não exime a presidente de responsabilidade. Para ele, o PT se especializou em corrupção.

— Ela declarar isso agora não isenta a presidente da responsabilidade, principalmente as que envolve todas as falcatruas que aconteceram na Petrobras. Até porque ela presidiu o conselho da empresa e sempre se arvorou em anunciar que tinha o controle total de tudo que ali acontecia. Nenhum brasileiro minimamente informado acredita na declaração que ela deu alguns dias atrás, dizendo que não sabia de nada. É uma esperteza na véspera de uma eleição, que vai consagrar o fim melancólico de um governo e da decadência de um partido que abandonou suas bandeiras e se especializou em corrupção — disse Imbassahy.

O coordenador da campanha de Marina Silva, Walter Feldman, afirmou que o fato de Dilma Rousseff ter admitido que houve desvio de dinheiro em esquema de corrupção na Petrobras seria devido à impossibilidade de negar fatos “evidentes”. Feldman disse ainda que a petista vive um momento de “confusão”, por defender o combate à corrupção como candidata, mas não tê-la combatido como presidente.

— O primeiro ponto é que é impossível negar um fato tão evidente. A Petrobras se transformou no segundo sistema de mensalão da história brasileira. Seria muito estranho um dirigente negar fatos tão evidentes. Agora, há uma tentativa de mostrar que ela tem algum envolvimento com o combate à corrupção, que ela diz fazer como candidata, mas que não fez como presidente. A presidente Dilma vive um momento confuso existencial: ela não sabe se age como candidata ou como presidente — afirmou Feldman.

O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), discordou dessa avaliação.
— A presidente Dilma não está fazendo confissão de culpa alguma. Seria se ela tivesse alguma participação nisso, o que não ocorreu. As investigações estão sendo feitas e a presidente acionou a Polícia Federal, há vários inquéritos em curso e o caso está também na CGU (Controladoria Geral da União). Não é confissão de nada — disse Humberto Costa.

A coordenação jurídica da coligação de Aécio Neves apresentou neste sábado na Procuradoria Geral Eleitoral uma representação pedindo abertura de processo contra a Dilma pela veiculação de um filmete acusando Aécio de desrespeitar mulheres. Em entrevista coletiva, a presidente disse que Aécio a teria desrespeitado por tê-la chamado de “leviana” em um debate televisivo, assim como à candidata do PSOL Luciana Genro, derrotada no primeiro turno. Dilma afirmou tratar-se de uma fala que não seria “correta para mulheres".

Essa tentativa de Dilma de criar um embate de gênero com o candidato Aécio Neves (PSDB) provocou indignação em pessoas próximas a Marina, candidata derrotada no primeiro turno e que agora apoia o tucano. Auxiliares de Marina afirmam que a campanha petista está mirando os votos femininos que foram para a ex-senadora no primeiro turno e, para isso, tentam construir uma imagem de Aécio como antagonista dos direitos das mulheres.

— Vir agora com uma posição de vítima por ter ouvido o que todos os brasileiros pensam dela é mais uma vez tentar mudar a realidade. Se tem algo que ela não pode chamar para si é o fato de ser mulher, até porque ela nunca aplicou. Isso é queixa dos próprios auxiliares dela, que dizem que ela é grossa, deselegante e insensível no trato — afirma Walter Feldman.

— Esse embate de gênero só faz sentido na cabeça dela. Como eles não têm limites, tentam explorar isso. Quem é vítima de Dilma são todos os brasileiros, homens e mulheres, que acreditaram que ela, por ser mulher, teria uma gestão mais sensível aos problemas e diferenças do país. Ela tem se mostrado a figura mais autoritária à frente de um governo, superando qualquer homem — completou Feldman.

— Se for homem, pode ser leviano; se for mulher, não pode? É estranho tentar polarizar o debate dessa forma.

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