Palocci e Meirelles teriam condições de enfrentar a crise
- Valor Econômico
A presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff detesta, com todas as suas forças, que digam, que pensem, que falem da influência do ex-presidente e seu criador Lula nos seus destinos e nos destinos do governo. Aliás, abomina igualmente essa história de criador e criatura; por sinal, um símbolo dessa aversão foi o conteúdo e o tom da propaganda de Chico Buarque para a sua campanha, em que o compositor, orientado, se atira de cabeça no contencioso Dilma-Lula, relegando-o a um apadrinhamento longínquo, de quatro anos atrás, enquanto teria agora optado por ela por causa dela mesma, em pessoa, como criatura autônoma.
Porém, há um fato cuja evidência torna a antipatia apenas algo de foro íntimo: Dilma chegou aos 50% do eleitorado com o socorro de Lula. E, se vencer no domingo, deverá o feito aos métodos, ao envolvimento, à bandeira, à campanha do PT. E de Lula.
Assim, não poderá tomar a distância do partido que desejava, ou se prenunciava, e que, em vários momentos dos últimos quatro meses de campanha integral e ininterrupta, levou-a a dar um chega prá lá no ex-presidente. Nesta semana final do processo, porém, a candidata parou de reagir, em público, pelo menos, para dar os braços a Lula de quem precisou como nunca para tentar superar o adversário.
Quem faz bem a cara de pau dessa campanha sem propostas, sem programa, sem anúncio de equipes ou de mudanças, com base no ataque pessoal, é ele. Ou uma voz em off da equipe de João Santana. Na boca de Dilma, tudo parece ventriloquismo de marqueteiro. Até isso deverá ao comandante petista.
Que parou de se fazer emburrado e falsamente discreto, para não só participar de tudo como, ao seu estilo e ao estilo PT, ser o porta-voz das maiores barbaridades sem freios nem pejo, nem mesmo o obstáculo da verdade, para dar conselhos à candidata.
Dilma terá o que se convencionou chamar de seu PT ao seu lado, no Palácio, e afirma-se que não fez compromissos em manter ninguém no cargo por não ter disputado eleições este ano. O núcleo político no qual confia já matriculou pelo menos quatro integrantes: Jaques Wagner, Miguel Rossetto, Aloizio Mercadante e Giles Azevedo. Mas há o problema grave da crise econômica que vai atingir todo o país, especialmente os mais pobres e o emprego da classe média, e nesse ponto está o primeiro conselho de Lula.
Ele já conversou com ela sobre uma saída para enfrentar a crise. O ex-presidente continua achando que, na economia, a presidente deveria reunir novamente Antonio Palocci e Henrique Meirelles, cuja parceria é considerada bem sucedida no Ministério da Fazenda e no Banco Central, respectivamente, no seu governo. A ressalva é que convieram no governo de um conciliador, Lula, e seria difícil repetir a dose em um governo Dilma.
Obviamente o PT conta com reações generalizadas a Palocci, tendo em vista as razões pelas quais saiu do governo Dilma, mas acredita que já se passou muito tempo e sua atuação, se tiver resultados, fará passar a onda de protestos. É um petista, manteria a área sob o comando do partido, e Meirelles, sendo do mercado, promoveria uma aproximação da presidente com esse setor.
Nos conselhos do presidente Lula há um denominador comum: Dilma deve mudar o governo, fazer nova equipe, rever seu comportamento na relação com todos. Se for impossível mudar o temperamento, que mude o comportamento. As duas novas palavras são distensão e diálogo, o que demonstraria que compreendeu a gravidade do momento.
Há um decálogo de sugestões, sendo a volta de Palocci e Meirelles o mandamento hors concours. Recomenda, também:
- Fazer algo imediatamente para acalmar a metade do país que, se ela for eleita, não terá votado no PT.
- Aproveitar que não tem compromisso com ninguém e trocar a máquina velha por uma máquina nova.
- Ter humildade para reconhecer que o governo tanto não deu certo que a propaganda que Lula protagoniza promete um segundo governo melhor que o primeiro e apresentar finalmente seu plano.
- Em vez de rachar o PT, pode trabalhar com os seus petistas mas também com os do ex-presidente.
- Dilma deveria reconhecer dificuldades e aceitar ajuda.
- Estabelecer o diálogo com a direita, esquerda, brancos, pretos, pobres, ricos, políticos, apolíticos. Tratar bem a todos.
- Abrir a Presidência aos empresários.
- Formar uma base parlamentar sólida.
- Não errar na política. Deixar Jaques Wagner trabalhar com o Congresso, é conciliador, tem bom trânsito com os partidos.
- Transpor com competência o obstáculo da presidência da Câmara, que o PMDB vai querer para Eduardo Cunha, e o PT quer ter direito por ser a maior bancada na Casa.
Sobre tudo isso Lula já conversou com Dilma, mais detalhadamente, há poucos dias. Talvez não tenha falado ainda que não definiu se será candidato em 2018, apesar dos reiterados anúncios feitos pelo presidente do PT, talvez para manter a tropa unida.
A presidente tem sido alertada, também, que se vier a ser eleita enfrentará uma oposição renovada, que se aglutinou nesta campanha tão violenta quanto sem volta. Com discurso, com rosto definido e com destemor de enfrentar popularidade e mito, haverá uma oposição ao segundo governo Dilma, se vier a ser eleita, que o país ainda não conhece. Bem como será bestial a oposição a ser feita pelo PT caso seja seu adversário, Aécio Neves, o eleito.
O cientista político Antonio Lavareda citou, em palestra na Associação Comercial de São Paulo, segunda-feira, as influências que definem o resultado de uma campanha de reeleição com o presidente no cargo: popularidade do governo, situação da economia, tempo no poder e a campanha propriamente dita. Essa, na definição do especialista, no caso de Dilma, é de uma superioridade (sem entrar no mérito) gritante.
A campanha de João Santana pode estar dando o banho anotado pelo analista, e a popularidade do governo, as pesquisas notam, vem melhorando desde que, nos últimos quatro meses, o governo parou completamente, com a presidente, o vice, e ministros fora dos cargos, em campanha. Quanto à economia vai mal, e o tempo no poder, já vai longo e desgastante, exigindo o bombardeio da propaganda para manter a todos de pé. Dois a dois é empate.
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