• Petistas receberam 1,75 milhão de votos na legenda (21,6% dos votos válidos) e tucanos, 1,92 milhão (23,8%) para Câmara Federal
Beatriz Bulla e Ricardo Brito - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - O PT perdeu nas eleições deste ano o posto de partido com maior voto na legenda para a Câmara dos Deputados. Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que, desde a eleição de 1990, a sigla concentrava o maior número de eleitores que preferem depositar o voto no partido e não em um candidato específico. Mas o quadro mudou em 2014. Da legislatura passada para a atual, a queda do total de votos dados ao partido chegou a quase 25%. Não bastasse, é a primeira vez na história recente que o partido ficou atrás do PSDB no total de votos em legenda recebidos.
Pela legislação, os eleitores que votam na legenda para cargos de deputados federal, estadual (ou distrital) e ainda vereador declaram uma espécie de "voto sem cabeça". Esse tipo de voto tem o mesmo peso para o chamado quociente eleitoral daqueles que são dados pelos eleitores aos candidatos. O quociente eleitoral, por sua vez, é o número mínimo de votos que cada partido ou coligação partidária precisa ter para eleger um representante no Legislativo. Ou seja: quanto maior os votos nos candidatos e os votos na legenda, maiores as chances de eleição.
Na eleição deste ano, os petistas receberam 1,75 milhão de votos de legenda para a Câmara dos Deputados (o que representa 21,6% do total de votos válidos). Foram ultrapassados pelos tucanos, que amealharam 1,92 milhão de votos por esse formato (23,8%). A título de comparação, em 1990, o PT conquistou 1,790 milhão de votos (24,1%) e o PSDB apenas 340 mil votos (4,6%). Nesse período, os votos válidos para deputados federais pularam de 40,5 milhões para 96,8 milhões de eleitores, um aumento de 139%.
Em termos absolutos, o partido alcançou o recorde de votações na legenda para deputado federal na primeira eleição de Lula, em 2002. Naquela ocasião, o PT conquistou 2,35 milhões de votos nessa modalidade (27,13% dos votos válidos), o que fez o partido eleger 91 deputados, conquistar a maior bancada da Câmara e, de quebra, eleger o presidente da Casa. Em termos proporcionais, o maior desempenho do partido foi em 1994, quando ficou com 50,63% dos votos válidos (2.007.076 votos na legenda).
Contudo, os votos nos partidos políticos para a Câmara tiveram uma diminuição de 914 mil entre a eleição passada e a atual, de 9 milhões para 8,1 milhões no período. PSDB e PMDB também reduziram esse tipo de votação de 2010 a 2014, mas somente o PT foi responsável por uma queda de 60% dos "votos sem cabeça" em todo o País.
Histórico. Historicamente, o PT sempre defendeu o fortalecimento do partido com a votação dos eleitores na legenda. Na atual eleição, por exemplo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, principal líder político do partido, gravou vídeo conclamando o eleitor a votar "13" no pleito deste ano.
O secretário de Organização do PT, Florisvaldo Souza, credita a perda de apoio de simpatizantes do partido à "campanha de ódio contra o PT" feita neste ano. "Enfrentamos uma campanha que foi das mais difíceis de nossa história", disse Souza. "É uma disputa permanente. Tem momentos em que se sofre algum revés", admitiu o secretário.
Além dos ataques ao PT, Souza cita a redução dos partidos grandes com a entrada de novas legendas no debate político e o esgotamento do modelo atual de campanha eleitoral, além das dificuldades de arrecadação em 2014.
A proporção de votos válidos recebida para a Câmara dos Deputados, tanto em legenda como em candidatos, também foi reduzida. De 2010 para 2011, o total de votos recebidos pelo partido caiu de 16,8% para 14%, mesmo com maior número de candidatos lançados. O TSE contabilizou 361 candidatos aptos a disputar uma vaga na Câmara dos Deputados neste ano pelo PT. Em 2010, foram 340 nomes nesta situação. Com 70 deputados eleitos, o partido ficou com a pior bancada eleita em números desde a eleição de Lula.
A crise de representação sofrida pelos partidos políticos afeta aqueles com mais tradição, explica o cientista político e professor do Insper Carlos Mello. "Quem mais perde é quem mais tem", resume. "Some-se a esse processo, que é mundial, o desgaste natural de 12 anos de governo do PT, com os escândalos, e pode-se explicar a queda nos votos em legenda", acredita o professor.
A professora do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (IESP-UERJ), Argelina Cheiub Figueiredo, vê no PT, ao fim do período de governo, perda de eleitores da própria esquerda: "O PT enfrentou resistências de vários lados. É normal para um partido de esquerda que assume o poder perder eleitores da própria esquerda. E, com todas as denúncias, o partido ficou rotulado como corrupto, é uma classificação que tem impacto sobre aqueles que vão votar na legenda".
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