• Motivo foi alto endividamento, agravado pela queda no preço do petróleo; classificação serve de baliza para investidores
• Nota da Petrobras está ainda a dois degraus de perder o grau de investimento, selo de bom pagador da dívida
Toni Sciarretta, Samantha Lima - Folha de S. Paulo
SÃO PAULO, RIO A cinco dias da eleição presidencial, a agência de classificação de risco Moody's decidiu reduzir a avaliação da Petrobras, a maior estatal brasileira. A nota mede a capacidade de uma empresa pagar suas dívidas e serve de baliza para os investidores.
Embora as agências de classificação tenham cometido erros de avaliação na crise global de 2008, notas menores atribuídas por ela tendem a afastar investidores e a derrubar o preço das ações.
Em nota, a Petrobras ressaltou que foi mantido o grau de investimento --espécie de selo de bom pagador-- da estatal. A Moody's rebaixou a nota da Petrobras de Baa1 para Baa2, considerada mediana, e colocou a avaliação em perspectiva negativa (pode ocorrer novo rebaixamento).
Para perder o grau de investimento, a avaliação precisa cair ainda mais dois degraus: Baa2 e Baa3.
O motivo para o rebaixamento foi o alto endividamento da estatal, que se torna mais difícil de administrar com a queda nos preços do petróleo. Para a agência, a capacidade da Petrobras de honrar sua dívida piorou nas últimas semanas, após o petróleo descer ao menor valor em quatro anos.
O rebaixamento da Petrobras foi comunicado após o fechamento da Bolsa e só deve ter impacto nesta quarta (22) nos mercados.
Nesta terça (21), as ações preferenciais (sem voto) recuaram 6,92%, para R$ 16,68. Os papéis ordinários (com voto) caíram 5,43%, para R$ 16,19. A baixa foi atribuída à vantagem numérica da presidente Dilma Rousseff nas pesquisas (leia ao lado).
A Moody's afirmou que só "bem depois" de 2016 a Petrobras conseguirá reduzir seu endividamento, o que contraria as expectativas originais da agência.
"Enquanto a Petrobras tem sido relativamente bem-sucedida na execução do seu programa de capitais ambicioso e cumpriu metas de produção agressivas, a alavancagem continuou a crescer em 2014, dada principalmente a sua incapacidade de repassar os custos relacionados com derivados de petróleo importados, além da desvalorização da moeda local", disse Nymia Almeida, responsável pela avaliação na Moody's.
A dívida líquida da Petrobras está em R$ 241,3 bilhões --cresceu R$ 20 bilhões em três meses. A empresa tem uma alavancagem estimada em 40% --ou seja, usa 40% de capital de terceiros em relação ao seu patrimônio líquido, o capital próprio. O recomendável para grau de investimento é de 35%.
A relação entre dívida e Ebitda, importante medida de dívida (demonstra quantos anos a empresa precisa trabalhar para gerar caixa para cobrir sua dívida), aumentou de 3,52 para 3,94 em apenas seis meses. A meta era baixar para 2,5 até 2015.
As maiores dificuldades para reduzir a dívida são o enorme plano de investimento (US$ 44 bilhões por ano) e a defasagem no repasse de preços, que agora não existe mais. A defasagem custou R$ 59,3 bilhões nos últimos três anos, de acordo com a corretora Gradual.
Nesta terça (21), o petróleo do tipo Brent fechou a US$ 86,23 o barril, com alta de 0,97%. No ano, porém, a queda é de 22,5%. O real também se desvalorizou 4,7% no ano, até agora.
No Brasil, diz-se que a exploração do pré-sal se torna inviável com o petróleo cotado entre US$ 50 e US$ 60.
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