- Folha de S. Paulo
Brexit e Brasil, o que um tem a ver com o outro? Nas palavras de um ministro de Temer, muito. Para ele, é um alerta sobre os riscos de se fazer consulta popular ou convocar eleição como resposta a uma tensão política e social, quando surpresas podem sair das urnas.
Argumento, diria, usado em causa própria. O grupo de Temer quer transformá-lo em presidente definitivo. Não tem nenhum interesse numa eleição neste momento. Para ser justo, não só o grupo de Temer, mas PSDB, DEM e, creio, até o PT.
O receio é que se repita aqui a perplexidade que tomou conta do Reino Unido, que dormiu como parte da Europa e acordou fora. Surpresa tão forte para alguns que já se fala em novo plebiscito e até na resistência da Escócia à decisão.
Num momento de forte sentimento nacionalista e de rejeição a políticas de austeridade, prevaleceu o desejo de deixar a União Europeia. Algo um pouco fora do radar dos donos do poder no Reino Unido.
Por aqui, o temor é de repetição do pesadelo britânico. Toda uma geração da política brasileira, acostumada a velhas práticas de financiamentos ilegais de campanha, pode ser despachada de vez se for feito neste ano um novo pleito.
Daí que o desejo do establishment é que Temer fique no cargo, dando tempo para os partidos que se lambuzaram na propina se reorganizem e tentem chegar em melhores condições em 2018.
Em outras palavras, a velha política tem um medo danado de se expor às urnas neste momento. Ainda mais com as delações em curso prometendo não poupar ninguém. Do PT ao PMDB, passando por PSDB, DEM, PSB, PP e outros.
Tudo bem que há o fator econômico como boa justificativa para deixar Temer onde está, mas o real motivo desses grupos é sobreviver ao vendaval da Lava Jato. Só que, pelo andar da carruagem das investigações, está cada vez mais difícil saber quem vai restar no páreo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário