- O Globo
Se havia alguma dúvida, não há mais. A eleição presidencial deste ano se transformou na metonímia da divisão social que se espalhou pelo país desde o pleito de 2014. O antipetismo mergulhou de cabeça na candidatura de Jair Bolsonaro, enquanto os herdeiros do lulismo aderem com velocidade impressionante à orientação do líder maior do PT. Só na última semana, Haddad cresceu 11 pontos percentuais de acordo com o Ibope, uma média de 1,5 ponto ao dia.
A polarização é gritante e crescente. Há um mês, antes de o PT lançar oficialmente Haddad, 24% dos eleitores se dividiam entre o petista e Bolsonaro (20% para o ex-capitão, 4% para o ex-prefeito de São Paulo). Hoje, 47% do eleitorado está entre eles. E não há sinais de que o ritmo de crescimento de ambos esteja no fim.
A eleição de 2018 tem tudo para ser dizimadora das premissas que pautavam as análises eleitorais há décadas. Nos últimos 30 anos, havia um consenso de que, para ganhar as eleições presidenciais, era necessário que os candidatos caminhassem em direção ao “centro”. Bolsonaro incentivou o quanto pôde o radicalismo —e acabou sendo vítima dele. O PT fez o mesmo em seu campo, desafiando ininterruptamente as instituições. Em vez de terem sido reduzidos a um gueto, ambos expandiram a polarização pela sociedade.
Os candidatos que apostaram que o país iria, como sempre fez, buscar nomes ponderados se aproximam da irrelevância. Geraldo Alckmin, detentor de metade do tempo de TV e integrante do partido que por 20 anos rivalizou com o PT a disputa do Planalto, viu sua distância para Bolsonaro saltar de 13 para 21 pontos percentuais em duas semanas. Antes considerada decisiva, a possível migração dos votos dos outros candidatos de centro-direita —Alvaro Dias, João Amoêdo e Henrique Meirelles, com 2% cada —para sua candidatura tornou-se agora irrelevante.
Talvez o maior retrato do momento que vivemos esteja no derretimento de Marina Silva. Nos últimos oito anos, a ex-senadora foi a principal voz em defesa de uma “terceira via”, contra a polarização então representada por PT e PSDB. Depois de sair de duas eleições presidenciais com apoio de cerca de 20% do eleitorado, a senadora tinha ontem 6% das intenções de voto. Ciro Gomes, que também lutou por espaço nesse campo alternativo, manteve seu patamar na pesquisa, mas é difícil crer que conseguirá fazer algo para interromper a trajetória de Bolsonaro e de Haddad.
É alarmante notar que, embora o processo esteja em curso, a tendência é que a maioria dos brasileiros saia desapontada, vença quem vencer. Segundo o Ibope, tanto Bolsonaro quanto Haddad têm hoje 50% mais rejeição do que intenção de votos.
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