O Estado de S. Paulo
Na Rússia e Hungria, prevaleceram os interesses políticos de Jair Bolsonaro, não do Brasil
O
presidente Jair Bolsonaro apresentou “solidariedade” ao presidente da Rússia,
Vladimir Putin, e chamou de “irmão” o primeiro-ministro da Hungria, Viktor
Orbán. São manifestações sem conexão com a diplomacia e os interesses do Brasil
e só satisfazem a vontade dele de brincar de líder da extrema direita
internacional.
Não
faz sentido Bolsonaro dizer que é “solidário” a Putin, que chamou de “amigo” e
“pessoa que busca a paz”, quando o russo se une à China e confronta o Ocidente,
em particular os EUA, ao ameaçar invadir a Ucrânia. Soa como se o Brasil se
posicionasse a favor de Moscou, contra Washington.
Também
é de um voluntarismo quase infantil Bolsonaro se identificar com Orbán e citar
um lema integralista, “Deus, pátria e família”, ao qual acrescentou
“liberdade”. Que Deus, que pátria, que família e que liberdade?
Até adversários apoiaram a ida à Rússia, lembrando que os dois países têm interesses comuns, assento nos Brics e todos os ex-presidentes, desde Fernando Henrique, foram a Moscou. E o Brasil não poderia ceder à pressão americana para cancelar a viagem.
A
mala, porém, volta vazia. Na Rússia, agricultura, fertilizantes e comércio, que
seriam centrais, ficaram em segundo plano. Na Hungria, “anunciaram” a venda de
dois aviões da Embraer, firmada em 2020. Logo, o foco não é nos resultados, mas
nos motivos da ida.
A
comitiva enxugou por exigência da Rússia, mas teve os generais Braga Netto (Defesa),
Augusto Heleno (GSI), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Laerte Souza
Santos (Estado-Maior Conjunto), os comandantes do Exército, Marinha e
Aeronáutica e o almirante Flávio Rocha (SAE).
Para
quê? Os russos são tradicionais fornecedores de equipamentos militares para a
América Latina, mas nossas Forças Armadas já executam um ambicioso plano de
renovação de equipamentos, definidos, aliás, na era PT. Não é hora de ir às
compras. Sobram acordos de cooperação em defesa. Logo com a Rússia...
Também
foi Carlos Bolsonaro, o 02, craque num outro tipo de guerra: da internet. A
Rússia é especialista em guerra cibernética e integrou o exército de fake news
de Donald Trump contra Hillary Clinton. Trump, Putin, Orbán, Bolsonaro...
Mistura azeda que está no forno para produzir a nova extrema direita
internacional.
De um embaixador: “O objetivo real da viagem foi a cooperação cibernética da Rússia para a campanha digital do presidente. O resto qualquer ministro resolveria”. Quem foi a Moscou não foi o presidente do Brasil, foi Jair Bolsonaro. Que voltou a manipular as Forças Armadas a seu bel-prazer.
Um comentário:
O vereador Carlucho não precisava ter ido a Moscou.
Postar um comentário