Folha de S. Paulo
Teto de gastos impede execução de políticas
anticíclicas
Nas "Odes"
(2.10), o poeta romano Horácio aconselha Licínio a não arriscar muito,
aventurando-se em alto mar, nem a acovardar-se, nunca se afastando da costa,
mas a buscar a moderação, a "aurea mediocritas".
O Brasil faz um pouco isso ao criar uma série de mecanismos, formais e informais,
que, se não nos deixam avançar muito, também nos protegem de desastres maiores.
O teto de gastos, até ser arrombado pela atual legislatura, era um desses dispositivos. Trata-se sem dúvida de uma regra burra, que reduz a capacidade do bom gestor de fazer investimentos e até de executar políticas anticíclicas. Mas, enquanto durou, ele ajudou a manter os mercados tranquilos mesmo diante do grave problema fiscal do país. Contribuiu para manter baixa a taxa básica de juros, o que era uma bandeira tanto do empresariado como da esquerda.
Algo parecido vale para as vinculações
orçamentárias. É outra regra burra, que engessa o bom gestor e pode até
obrigá-lo a gastar em setores onde não há necessidade. Mas, como nossos
governantes podem ser ainda mais burros do que a regra, ela acaba preservando a
educação e a saúde de cortes inconsequentes.
Se quisermos, até nosso arranjo político
segue esse modelo. O centrão cometeu um crime de lesa-pátria ao aliar-se a
Bolsonaro em vez de destituí-lo pela via do impeachment. Mas, ainda assim, o
grupo político frustrou algumas das propostas do presidente. O mais vistoso
desses vetos foi à PEC do voto impresso, que poderia servir de trampolim para
um golpe. O presidente também não conseguiu aprovar as maluquices do Escola sem
Partido nem alterar a legislação sobre armas (os retrocessos vieram por
decreto).
Esses mecanismos pró-mediocridade mostram
sua utilidade justamente quando aparece um governante destruidor como
Bolsonaro. O problema com eles é que também nos amarram a uma mediocridade não
tão áurea, que vai transformando o Brasil num fracasso.
2 comentários:
Fora boçal. Jair tarde!!!
Análise correta.
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