quinta-feira, 19 de junho de 2025

BC marca três acertos de uma vez - Alvaro Gribel

O Estado de S. Paulo

Se alguém tinha dúvidas sobre a independência do BC neste governo Lula, vai ter de repensar

O Banco Central acertou três vezes ao subir os juros para 15% ao ano na reunião de ontem. Primeiro, surpreendeu parte do mercado com a alta adicional de 0,25 ponto porcentual, o que vai ajudar a ancorar as expectativas de inflação. Segundo, deixou claro que os juros vão permanecer elevados por bastante tempo, para evitar interpretações equivocadas de que eles possam cair em virtude das pressões políticas. E, por fim, ainda deixou a porta aberta para um novo ciclo de alta, mais à frente, caso os preços não voltem para o centro da meta.

O BC também tinha motivos para manter a Selic em 14,75%, e não estaria errado se optasse por esse caminho. Mas a alta adicional vai aumentar a confiança de que a inflação não sairá do controle no País, e isso compensa esse torniquete mais apertado na política monetária. Por um lado, o impacto no mercado de juros será residual, já que a taxa já estava bastante alta; por outro, o efeito sobre as expectativas será muito maior, porque não era isso que estava precificado na curva de juros. Ganha-se muito a um custo pequeno.

A decisão também é coerente com o comunicado da última reunião, de maio, que falou em “cautela adicional” na condução dos juros, e nas falas recentes do presidente do BC, Gabriel Galípolo, e de vários de seus diretores. O BC também segue o manual de política monetária ao encerrar o ciclo após um aumento na menor dosagem do remédio, de 0,25 ponto.

Uma pesquisa realizada pelo banco BTG Pactual mostrou o mercado financeiro dividido como poucas vezes se viu: 51% das 76 instituições que participaram da sondagem apostavam na manutenção da Selic, enquanto 49% acreditavam em mais um aumento de 0,25. Ainda assim, a maioria apostava que o mais correto era o BC votar por uma nota alta.

Muita gente pode se perguntar por que subir ainda mais os juros se as expectativas de inflação para este ano estão em queda (foram de 5,5% para 5,25% nas últimas quatro semanas) e, além disso, o dólar também caiu ao menor patamar desde outubro. A resposta é que o BC não só pode como deve aproveitar o bom momento para conquistar mais confiança e quebrar o que os economistas chamam de “inércia” da inflação, quando os preços elevados no presente contaminam as estimativas sobre o futuro.

Se alguém tinha dúvidas sobre a independência do Banco Central neste governo Lula, será obrigado a repensar. Esta diretoria cumprirá seu papel institucional de segurar os preços e ser o guardião da moeda. •

 

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