O Estado de S. Paulo
À última hora, para a definição de sua
política de juros, o Banco Central teve de levar em conta que o mundo ficou
pior. Precisou avaliar o impacto das grandes mudanças geopolíticas e econômicas
ocorridas desde a reunião anterior do Copom (de 7 de maio), quando pareceu
sinalizar uma pausa no ciclo de alta dos juros.
A mais importante dessas mudanças é a deflagração da guerra entre Israel e Irã, que levantou novas incertezas sobre o comportamento da inflação global, inclusive a do Brasil.
A alta do petróleo e dos combustíveis é um
fato, embora ainda não tenha sido transferida para os preços internos. As
cotações do tipo Brent saltaram 21,7% nesse mês de junho com o conflito no
Oriente Médio. Esse deve ter sido um dos fatores que levaram o Banco Central a
adotar uma postura mais prudente em sua política, aumentando os juros básicos
(Selic) em mais um quarto de ponto porcentual, para 15,0% ao ano, por decisão
unânime de seus membros.
No Brasil, a inflação de maio deu sinais de
comportamento mais favorável. No entanto, três fatores continuam pressionando
negativamente as expectativas dos formadores de preços. O mais importante deles
é a persistente deterioração das contas públicas. O governo Lula ainda não
conseguiu emplacar um pacote de ajuste fiscal. Os conflirias aumentam os
obstáculos para a convergência da inflação à meta. A forma como o Copom se
referiu ao problema foi dizer que “segue acompanhando com atenção como os
desenvolvimentos da política fiscal impactam a política monetária e os ativos
financeiros”.
O segundo fator adverso é a ainda forte
demanda, que tem elevado os preços do setor de serviços. E o terceiro está
relacionado ao impacto do tarifaço imposto de Trump, cuja magnitude continua
difícil de estimar.
Essa foi a principal justificativa
apresentada pelo presidente do Federal Reserve (o banco central dos Estados
Unidos) para não alterar o nível dos juros básicos por lá – apesar das pressões
em contrário do presidente Donald Trump.
A intenção do Banco Central agora é, como
esclareceu, manter os juros em 15% ao ano por algum tempo, até que as
expectativas voltem a se ancorar e a inflação convirja para a meta, que é de 3%
em 12 meses, com margem de tolerância de 1,5 ponto porcentual. No momento, as
projeções do mercado apontam para uma inflação de 5,2% ao final de dezembro.
Quando as incertezas se acumulam, fica
difícil cravar previsões. O comunicado deixa clara essa postura. Por isso, não
aponta quando, afinal, poderá voltar a reduzir os juros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário