quinta-feira, 19 de junho de 2025

Juros vão a 15%. Mas param por aí - Celso Ming

O Estado de S. Paulo

À última hora, para a definição de sua política de juros, o Banco Central teve de levar em conta que o mundo ficou pior. Precisou avaliar o impacto das grandes mudanças geopolíticas e econômicas ocorridas desde a reunião anterior do Copom (de 7 de maio), quando pareceu sinalizar uma pausa no ciclo de alta dos juros.

A mais importante dessas mudanças é a deflagração da guerra entre Israel e Irã, que levantou novas incertezas sobre o comportamento da inflação global, inclusive a do Brasil.

A alta do petróleo e dos combustíveis é um fato, embora ainda não tenha sido transferida para os preços internos. As cotações do tipo Brent saltaram 21,7% nesse mês de junho com o conflito no Oriente Médio. Esse deve ter sido um dos fatores que levaram o Banco Central a adotar uma postura mais prudente em sua política, aumentando os juros básicos (Selic) em mais um quarto de ponto porcentual, para 15,0% ao ano, por decisão unânime de seus membros.

No Brasil, a inflação de maio deu sinais de comportamento mais favorável. No entanto, três fatores continuam pressionando negativamente as expectativas dos formadores de preços. O mais importante deles é a persistente deterioração das contas públicas. O governo Lula ainda não conseguiu emplacar um pacote de ajuste fiscal. Os conflirias aumentam os obstáculos para a convergência da inflação à meta. A forma como o Copom se referiu ao problema foi dizer que “segue acompanhando com atenção como os desenvolvimentos da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros”.

O segundo fator adverso é a ainda forte demanda, que tem elevado os preços do setor de serviços. E o terceiro está relacionado ao impacto do tarifaço imposto de Trump, cuja magnitude continua difícil de estimar.

Essa foi a principal justificativa apresentada pelo presidente do Federal Reserve (o banco central dos Estados Unidos) para não alterar o nível dos juros básicos por lá – apesar das pressões em contrário do presidente Donald Trump.

A intenção do Banco Central agora é, como esclareceu, manter os juros em 15% ao ano por algum tempo, até que as expectativas voltem a se ancorar e a inflação convirja para a meta, que é de 3% em 12 meses, com margem de tolerância de 1,5 ponto porcentual. No momento, as projeções do mercado apontam para uma inflação de 5,2% ao final de dezembro.

Quando as incertezas se acumulam, fica difícil cravar previsões. O comunicado deixa clara essa postura. Por isso, não aponta quando, afinal, poderá voltar a reduzir os juros.

 

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