O Globo
A COP no Brasil precisa
superar seus desafios e ser bem-sucedida para enfrentar a guerra invisível
provocada pelas mudanças climáticas
O Brasil estará amanhã na constrangedora situação de participar de uma reunião convocada pela ONU para discutir o custo exorbitante da hospedagem em Belém. O assunto deixou de ser um problema logístico para estar no centro do debate sobre o sucesso ou não da COP 30. A ganância e a falta de gerenciamento da questão podem destruir nossa chance de tornar bem-sucedida a primeira Conferência do Clima na maior floresta tropical do planeta. Há outros problemas. O governo Donald Trump não mandou um representante sequer para as reuniões preparatórias, o que derruba a expectativa de haver alguma participação dos Estados Unidos.
Trump já anunciou a retirada
do Acordo de Paris, mas há uma regra de carência. O país fica um ano ainda,
mesmo depois de ter anunciado a saída. Havia no Itamaraty a esperança de que os
americanos fossem participar. Hoje, há mais ceticismo. Uma COP é chamada assim
porque é uma “Conferência das Partes” do acordo do clima. Os Estados Unidos
ainda podem vir, porque são “parte”, explicou a diretora-executiva da COP, Ana
Toni. “Se vierem, serão bem-recebidos”, disse ela. Mas o que fariam? Ana Toni
lembra que os Estados Unidos não são apenas o governo.
— A gente tem conversado
muito com as empresas americanas, com governos subnacionais, com a sociedade, e
eles são muito vocais. Eles sabem a gravidade da mudança do clima.
A diretora-executiva admite
que o problema da hospedagem em Belém, e esse entra e sai dos Estados Unidos no
acordo, atrapalham as negociações. No caso da acomodação, o mundo inteiro está
preocupado porque a COP tem que ser inclusiva. Ter a participação de todos os
países, delegações grandes o suficiente para negociar as inúmeras questões.
Para ser inclusiva é preciso que todos venham.
— Acho que há também um
preconceito contra Belém, contra o imaginário que é fazer uma COP na Amazônia.
Muita gente não conhece Belém e acha que é uma cidade menor. Mas se o problema
é preço, está na nossa responsabilidade e a gente — governo, setor privado,
hotéis — tem que resolver o problema.
Todo esse esforço global de
enfrentar a destruição do meio ambiente e a mudança do clima começou no Rio. A
Rio 92 foi o marco inicial porque foram assinadas na cidade as duas grandes
convenções, do clima e da biodiversidade, que norteiam toda a discussão desde
então. São 33 anos de árduo trabalho. O mundo volta ao Brasil quando a situação
piorou muito, a ponto de Ana Toni definir como “guerra invisível”.
— A crise climática está se
agravando rapidamente e matando pessoas. Tem essa guerra invisível em que todo
dia alguém está morrendo de calor ou por causa de enchentes, pela seca, por
fome provocada pela mudança do clima.
As COPs viraram um processo
e não um evento por vez. Ana Toni explica que durante muito tempo o mundo
negociou a grande lei. O Acordo de Paris foi finalmente assinado há uma década.
Daí para diante, nos dez anos seguintes, as reuniões foram fazendo a “regulamentação”.
Daqui a três meses, o mundo chega ao Brasil para discutir o avanço. Perguntei à
diretora qual vai ser a grande marca da COP de Belém, o que seria considerado
um sucesso.
— A primeira marca que
precisamos deixar, não só o Brasil, mas o mundo, é o da aceleração da
implementação de tudo que já foi acordado até aqui. O fim do desmatamento é um
dos acordos já feitos na COP 28. Mas é uma COP na Amazônia. Pode ser um divisor
de águas para a compreensão de que não existe combate à mudança do clima sem a
preservação da natureza. Muitos ainda acham que a tecnologia pode resolver o
problema, mas vai ficar 100% claro na COP da Amazônia que preservar a natureza,
conservar as florestas, proteger os oceanos são essenciais para o combate à
mudança do clima. E estamos apresentando uma cesta de instrumentos para a
solução como o TFFF, o fundo de florestas tropicais para sempre, o mercado de
carbono para as áreas degradadas, uma plataforma de investimentos para, com
ajuda da economia, combater a crise climática.
A COP é a mais viva das
conferências da ONU. Para isso é fundamental ter todos os países. Também é
decisivo ter muita participação da sociedade pressionando os delegados. Uma COP
sem sociedade civil e sem os países mais pobres é a receita do fracasso. Por
esta razão é preciso que, nesta semana, o Brasil dê respostas ao mundo de como
reduzir o custo da acomodação na linda cidade de Belém do Pará.
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