Folha de S. Paulo
Depois do choque do
tarifaço, juros e moeda dos EUA voltam à tendência de queda, por ora
O tarifaço Trump-Bolsonaro
causou febre nos mercados
financeiros do Brasil em julho. Parece estar passando. As taxas de
juros de prazo de dois anos ou mais estão à beira de voltar à linha da
tendência de queda que vinha desde fevereiro, como se observa no atacado do
mercado de dinheiro. O preço do dólar parece
voltar à tendência de queda que se via desde abril, grosso modo.
Essa calmaria relativa ocorre durante a ofensiva "Blitzkrieg" do "duce" Donald Trump e de novo surto da insurreição permanente dos Bolsonaros e cúmplices. Portanto, pelo menos na visão da maioria dos donos e dos negociadores de dinheiro grosso, o risco de agravamento da guerra econômica de Trump e o golpismo sem fim dos Bolsonaros não têm peso suficiente para "fazer preço", para alterar correntes maiores que influenciam preços (câmbio, juros). Números piorados nas contas externas, de entrada de dólar ("fluxo cambial"), a ruindade porém estagnada das contas públicas e o tumulto político-eleitoral ora não fazem coceira nesse cenário.
A valorização do real em
relação ao dólar desde o início do ano parece se dever, em uns dois terços, ao
enfraquecimento mundial da moeda americana —essa conta sempre será imprecisa e,
de resto, varia a depender do modelo que se use. A perspectiva de crescimento
do PIB e de taxas de juros menores nos Estados
Unidos, entre outros problemas (descrédito), ajuda a desvalorizar o dólar.
No mais, a valorização do real deve ter sido causada pela diferença crescente
de taxas de juros brasileiras e americanas e um tico pela fraqueza no resto do
mundo relevante.
O real menos fraco contribui
sobremaneira para um comecinho de desinflação. O crescimento econômico parece
mais comedido, assim como o do crédito, apesar de números fortes de emprego e
salários. Pode ser também que a economia agora possa crescer mais sem inflação
excessiva (tem "PIB potencial maior"), a julgar pelo que se viu nos
últimos três anos e pouco. Por tudo isso, pode ser que a desinflação custe
menos em termos de PIB e emprego.
Se assim é, afora choques e
novos ataques trumpistas, os próximos momentos de tensão menos imprevisíveis
aconteceriam no final do ano. Em geral, a taxa de câmbio dá um salto em
dezembro. A partir do final do ano, pode ser que a política eleitoral "faça
preço". A direita, apesar de forte, está em uma sinuca e dividida. Quanto
mais durar a esperança dos golpistas na sobrevivência de Bolsonaro (até por
meio da anistia), mais distante ou incerta a definição da candidatura
direitista. Especialmente, mais difícil fica a decisão de Tarcísio de Freitas,
preferido do dinheiro grosso para fazer o ajuste fiscal, desregulamentar,
conter impostos e "pacificar" o país sob um fantástico bolsonarismo
moderado. A hipótese Lula 4 deve pesar nos preços.
O golpismo pode provocar
danos nos projetos caros ao governo ou bagunça maior no Congresso, melando o
jogo. Não vai ser antes de outubro que se vai poder estimar o tamanho da
baderna, ainda que seja intenção da maioria dos comandos do Congresso voltar o quanto
possível ao "business as usual". Dada a demonstração de força da
coalizão de quem quer fugir da polícia (bolsonaristas, ladrões de emendas
etc.), é possível que saia alguma lei de reforço da imunidade para essa gente.
Com tantos problemas
crônicos e conjunturais, com a democracia com a faca no pescoço, o dólar mais
fraco vai segurando a nossa onda.
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