sexta-feira, 14 de abril de 2017

Opinião do dia – Alberto Aggio

Ultrapassado o mito da revolução, uma esquerda integrada aos sistemas democráticos parece ser a única representação positiva que fica dessa trajetória secular. Apenas como parte desses sistemas, e em luta para renová-los, é que a esquerda se pode apresentar como uma força política transformadora fundada na extensão da igualdade de oportunidades, na valorização das responsabilidades coletivas e numa concepção solidária e fraterna da vida. Uma esquerda que, como enfatizou Walter Veltroni em discurso recente, possa abrir-se à contaminação, à curiosidade, ao espírito crítico e à disponibilidade de falar a língua do outro. Em suma, uma esquerda reformista que tenha uma concepção não imóvel da sua identidade e sustente seus valores na justiça social, na defesa do valor do trabalho, na renúncia às concepções totalitárias da História e da vida, na defesa dos mais débeis, bem como na refutação do mito do sucesso individual, passando a pensar o individual e o social de maneira integrada, e não antagônica.

Não se trata de relançar a ideia de utopia, uma noção mais condizente com o arsenal linguístico do pensamento revolucionário. Aliás, não é verdade que a social-democracia esteja em crise porque se afastou da utopia. Suas perdas eleitorais resultam da incapacidade de prover o que antes provinha. Agregar um adjetivo à noção de utopia não vai resolver o problema.

Se a esquerda do século 21 quiser ter potencialidade, não poderá ser mais a esquerda que protagonizou o século 20. Haverá de ser uma “outra esquerda”, à qual importa menos uma perspectiva finalística e mais o enfrentamento das questões concretas da vida da população, tornando-as seus objetivos permanentes.

*Historiador, é professor titular da Unesp, “Uma esquerda da inventare”, O Estado de S. Paulo, 13/4/2017.

Odebrecht diz ter ajudado com ‘Carta ao Povo Brasileiro’

Empresário contou à Procuradoria-Geral da República que conheceu Lula durante uma greve e sempre colaborou com suas campanhas

Fabio Serapião Beatriz Bulla André Borges | O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Durante a negociação do acordo de colaboração, o empreiteiro Emílio Odebrecht entregou à Procuradoria-Geral da República um relato no qual detalha sua relação com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as doações para todas as suas campanhas eleitorais, o lobby praticado junto ao petista e até a ajuda para formulação da notória “Carta ao Brasileiros” – texto divulgado na campanha de 2002 para tentar acalmar o mercado financeiro diante da provável eleição do petista.

Segundo o patriarca da empreiteira baiana, sua relação com o ex-presidente começou no início da década de 80 pelas mãos do ex-governador de São Paulo, o tucano Mário Covas. “Como a greve não contava com o apoio do sindicato e tínhamos dificuldade de dialogar com os empregados que comandavam a greve, pedi apoio a Mário Covas, que por sua vez me sugeriu que eu conhecesse Luiz Inácio Lula da Silva, dada a sua reconhecida liderança no ambiente sindical e sua capacidade de mediar diálogos entre líderes grevistas e empresários”, explicou Emílio ao contar que Lula teve papel importante no fim da paralisação.

Após a eleição de 2002, quando Lula tornou-se presidente, Emílio conta que passou a reunir-se periodicamente para discutir temas empresariais de interesse da Odebrecht. “Essas conversas permitiam-me ter uma melhor compreensão das políticas de governo e, por consequência, melhor direcionar as empresas da organização, bem como tentar influenciar que o ex-presidente adotasse políticas de governo que fossem coincidentes com os nossos interesses empresariais, sendo que muitas vezes eu obtive êxito”, afirmou Emílio.

Delatores deixam elite da política do País na defensiva

Citados como beneficiários de vantagens ilícitas por ex-executivos de empreiteira, presidente Michel Temer e ex-presidentes petistas Lula e Dilma rebatem acusações

- O Estado de S. Paulo

“Tudo o que a Odebrecht diz sobre os outros é verdade. Sobre ele, é mentira”, ironizando as declarações do ex-presidente Lula sobre as delações premiadas. Ex-deputado federal (PTB) Os relatos dos delatores da Odebrecht deixaram boa parte da elite política brasileira na defensiva. 

Ontem, dois dias após o Estado revelar a lista do ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, o presidente Michel Temer e dois ex-mandatários do País – os petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff – precisaram rebater acusações contidas nas delações.

Temer, que, segundo um ex-diretor do grupo, comandou em 2010 uma reunião na qual foi acertado o pagamento de US$ 40 milhões em propina sobre um contrato da empreiteira com a Petrobrás, gravou um vídeo para rechaçar a suspeita. “Jamais colocaria minha biografia em risco.”

Temer: Jamais colocaria a minha biografia em risco

O presidente Michel Temer gravou um vídeo para voltar a se defender das acusações do ex-presidente da Odebrecht Engenharia Industrial Márcio Faria da Silva e disse que “jamais colocaria sua biografia em risco”

Carla Araújo | O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O presidente Michel Temer gravou um vídeo para voltar a se defender das acusações do ex-presidente da Odebrecht Engenharia Industrial Márcio Faria da Silva e disse que “jamais colocaria sua biografia em risco”. “Meus amigos, eu não tenho medo dos fatos. Nunca tive. O que me o que me causa repulsa é a mentira”, diz Temer em vídeo, colocado nas redes sociais do governo. O presidente reconheceu, entretanto, que a vida pública tem momentos de “profundo desconforto”.

Márcio Faria disse, em delação premiada, que Temer comandou, em 2010, quando candidato a vice-presidente da República, uma reunião na qual se acertou pagamento de propina de US$ 40 milhões ao PMDB. Temer rechaçou a versão do ex-executivo. “É fato que participei de uma reunião, em 2010, com o representante de uma das maiores empresas do país”, afirmou. “A mentira é que nessa reunião eu teria ouvido referência a valores financeiros ou a negócios escusos da empresa com políticos”, completou.

Dilma escalou Cardozo e Mantega para buscar ‘entendimento’ entre Petrobrás e Odebrecht

Empreiteiro afirmou, em delação premiada, que ex-presidente ‘colocou’ os ex-ministros da Fazenda e da Justiça para resolver impasse da empreiteira com Graça Foster, ex-chefe da estatal, em investigação de irregularidades em contrato do PAC SMS, que teve propinas para PMDB e PT

Luiz Vassallo, Breno Pires, André Borges e Beatriz Bulla

BRASÍLIA - O empreiteiro Marcelo Odebrecht relatou, em delação premiada, tratativas com a ex-presidente Dilma Rousseff para resolver impasse entre a construtora e a então presidente da Petrobrás, Graça Foster, sobre investigações em torno do PAC SMS, da estatal petrolífera. Do total do contrato, firmado entre a empreiteira e a estatal, 5% seriam destinados a propinas, divididas entre PT e PMDB.

O contrato foi alvo de investigações, que provocaram um conflito quando Marcelo Odebrecht pediu à Graça Foster ajuda para defender um executivo alvo do inquérito.

De acordo com o depoimento, o assunto foi levado a Dilma, a quem Marcelo Odebrecht diz ter explicado que ‘neste contrato’, a construtora ‘serviu de veículo, por demanda do PT e do PMDB’.

Sindicalismo de resultado

Emílio Odebrecht relata até ajuda de Lula contra greve nos anos 70

Delator diz que deu R$ 1 milhão a Paulinho, da Força Sindical, em troca de assessoria a empreiteira sobre sindicalistas; ex-presidente afirma que quem pediu dinheiro em nome dele deveria ser preso

Além de relatar pagamento de despesas pessoais de Lula, mesada para um irmão e contribuições para um filho do ex-presidente, os donos da Odebrecht delataram à LavaJato que tiveram ajuda dele no movimento sindical. “Ele (Lula) criou as condições para que eu pudesse ter uma relação diferenciada com os sindicatos”, contou Emílio Odebrecht, ao revelar que conheceu o petista no fim da década de 70 e que o então sindicalista do ABC Paulista o ajudou a conter greve de empregados da construtora na Bahia. O empreiteiro disse que sempre apoiou Lula, inclusive financeiramente, e que contribuiu com a famosa “Carta ao Povo Brasileiro”, na vitoriosa campanha de 2002. Presidente da Força Sindical, o deputado Paulo Pereira da Silva (SDSP), o Paulinho, ajudou a empreiteira, segundo um ex-executivo da Odebrecht, a enfrentar movimentos sindicais em troca de apoio financeiro da empresa.

Um relação especial

Emílio Odebrecht conta como Lula já defendia interesses da empreiteira desde os anos 70

Catarina Alencastro, Carolina Brígido e Letícia Fernandes | O Globo

-BRASÍLIA- Próximo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva há mais de trinta anos, o empresário Emílio Odebrecht relatou, em seu depoimento de delação premiada, como o ex-sindicalista que se tornou presidente da República ajudou, durante décadas, a empreiteira que leva seu sobrenome.

Lula: ‘se alguém pediu dinheiro em meu nome, tem que ser preso’

Ex-presidente ficará frente a frente com o juiz Sérgio Moro no dia 3, em Curitiba

- O Globo

-SÃO PAULO- Um dia depois de ter sido levantado o sigilo das delações da Odebrecht, o ex-presidente Lula afirmou ontem que a acusação contra ele é tão “inverossímil e irreal” que não vai “rir nem chorar”, apenas ler cada peça do processo para chegar com segurança “no dia certo”. Lula estará frente a frente com o juiz Sérgio Moro, no próximo dia 3, em Curitiba, para responder sobre o processo a respeito da compra do apartamento tríplex no Guarujá.

Em entrevista à Rádio Metrópole, de Salvador, o ex-presidente disse que não pode ficar nervoso ou perder a cabeça “por uma coisa dessas” neste momento.

— Mais um absurdo, a delação do Marcelo Odebrecht. Eu até compreendo que o Marcelo já está preso há dois anos, que ele tem família fora, que ele está comendo o pão que o diabo amassou e talvez esteja tentando criar condição para sair da cadeia. Agora, é tão inverossímil a acusação, é tão irreal, que eu não vou rir nem vou chorar. Vou analisar corretamente, vou conversar com os advogados, vou ler cada peça do processo, pra que a gente possa chegar no dia certo claramente e com segurança. A delação tem que ser provada, a pessoa tem que provar — afirmou.

Lula disse ainda que está tranquilo e desafiou empresários a dizerem que pediu dinheiro a eles.

— Eu estou muito tranquilo, porque eu continuo desafiando qualquer empresário brasileiro, qualquer empresário, a dizer que o Lula pediu R$ 10 pra ele. Se alguém pediu em meu nome, essa pessoa tem que ser presa, porque eu nunca autorizei ninguém a pedir

“Eu não vou rir nem vou chorar”, diz Lula sobre delação da Odebrecht

Por Agência O Globo e Folhapress | Valor Econômico

SÃO PAULO - Depois de virem a público vídeos das delações da Odebrecht, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quinta-feira (13) que a acusação contra ele é tão “inverossímil e irreal” que não vai rir nem chorar. Em entrevista à Rádio Metrópole, de Salvador, o ex-presidente disse que não pode ficar nervoso ou perder a cabeça neste momento. Lula depõe ao juiz Sergio Moro, titular das operações da Lava-Jato em Curitiba, em 4 de maio.

“Um absurdo a delação do Marcelo Odebrecht. Eu até compreendo que o Marcelo já tá preso há dois anos, que ele tem família fora, que tá comendo o pão que o diabo amassou e talvez esteja tentando criar condição para sair da cadeia”, disse Lula. “Agora, é tão inverossímil a acusação, é tão irreal, que eu não vou rir nem vou chorar. Vou analisar corretamente, vou conversar com os advogados, vou ler cada peça do processo.”

Dilma afirma que Marcelo Odebrecht faltou com a verdade

Por Carmen Munari | Valor Econômico

SÃO PAULO - A ex-presidente Dilma Rousseff reagiu nesta quinta-feira às declarações do ex-dirigente da Odebrecht dadas em vídeo de delação premiada. Em nota, Dilma não cita especificamente as afirmações do ex-executivo.

A nota desmente as falas do empreiteiro e o acusa de mentir. “É mentira que Dilma Rousseff tivesse conhecimento de quaisquer situações ilegais que pudessem envolver a Odebrecht e seus dirigentes, além dos integrantes do próprio governo ou mesmo daqueles que atuaram na campanha da reeleição. Ele [Marcelo Odebrecht] não consegue demonstrar tais insinuações em seu depoimento. E por um simples motivo: isso nunca ocorreu. Ou seja: o senhor Marcelo Odebrecht faltou com a verdade”, afirma no texto.

Intelectuais e artistas lançam manifesto contra 'desmonte do país'

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Economistas, professores, sociólogos e artistas lançaram o manifesto "Projeto Brasil Nação". A iniciativa é liderada pelo ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira e conta com as assinaturas de Celso Amorim, Chico Buarque de Hollanda, Fábio Konder Comparato, André Singer, colunista da Folha, entre outros.

O texto critica o "esquartejamento da Petrobras, a destruição da indústria, a demolição de direitos sociais" e afirma que "o governo reacionário e carente de legitimidade não tem um projeto para o Brasil".

O documento defende que sejam adotados cinco pontos econômicos. A primeira é uma regra fiscal que permita a atuação contracíclica do gasto público, ou seja, uma diminuição do superavit para estimular a economia em momentos de crise, política contrária à redução de gastos proposta pelo presidente Michel Temer.

O projeto também defende que a taxa básica de juros seja diminuída até se tornar compatível com o nível praticado por economia similares à do Brasil, um superavit na conta-corrente do balanço de pagamentos, a retomada do investimento público e uma reforma tributária que torne os impostos progressivos.

Leia abaixo o documento na íntegra

A salvação da política | *José Álvaro Moisés

- O Estado de S. Paulo

Um terremoto se abateu sobre a política brasileira, e alguém já usou a imagem da guilhotina para identificar o perigo que ronda o pescoço da quase unanimidade da elite política brasileira.

Não é a Revolução Francesa, por certo, mas a classe política, salvo exceções importantes, está ferida de morte em virtude das descobertas da Operação Lava Jato. Nesse caso, não é uma morte súbita, mas uma agonia que pode durar anos ao sabor de investigações, denuncias e processos de crimes praticados no financiamento de campanhas eleitorais, ao fim dos quais o resultado, quase certamente, será a condenação, a prisão e o banimento da vida pública.

Tão grande é o medo do ostracismo - como os cidadãos da Grécia antiga designavam processos similares menos radicais - que políticos das mais diferentes matizes ideológicas estão confundindo a sua situação com uma derrocada da Nação, e não propriamente com a derrocada de uma cultura política e de um modelo de condução da vida pública que comprometem a qualidade da democracia.

Se cuida, Palocci | Merval Pereira

- O Globo

Assim como aconteceu com todos os petistas que foram envolvidos no mensalão e/ou petrolão, dos mais graúdos, como José Dirceu, aos mais desimportantes, o ex-presidente Lula começa a jogar às feras um de seus principais assessores, o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci.

Já não se trata mais de tentar negar que sejam verdadeiras as acusações contra ele. Tão difícil negar que já alguns blogueiros ligados ao PT criticam a relação de Lula com a Odebrecht. Diante das delações dos executivos da empreiteira, especialmente de Marcelo Odebrecht, começam a pipocar, aqui e ali, nas declarações do próprio Lula ou em textos escritos por jornalistas ligados ao PT em blogs ou na imprensa tradicional, insinuações de que não há prova de que o dinheiro sacado por Palocci ou seus prepostos tenha realmente chegado a Lula.

De jararaca a crocodilo | Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Não sobra pedra sobre pedra, mas Lula tinha cartão pré-pago milionário fora de campanha

O ex-presidente Lula tem razão ao dizer que “cai a máscara” de todo o mundo político, porque tudo é realmente esclarecedor, além de estarrecedor, nas delações da cúpula da Odebrecht. Mas que adjetivo usar para a “conta Amigo” da Odebrecht? Era uma saco sem fundo, um cartão pré-pago em favor de Lula e gerenciado pelo ex-ministro Antonio Palocci.

Na versão de Marcelo Odebrecht, tanto para o juiz Sérgio Moro quanto para os procuradores, eram R$ 40 milhões à disposição de Palocci, o “Itália” das planilhas, que enviava emissários com sacolas para sacar R$ 1 milhão, R$ 2 milhões, R$ 3 milhões – em espécie!

Mesmo quando entravam em campo ministros como Guido Mantega e Paulo Bernardo, quem dizia “sim” a operações, negociatas, pagamentos e saques era Palocci. Está claro que ele agia como tesoureiro pessoal de Lula. E, aliás, jamais revelou quem era o proprietário real do apartamento de R$ 7 milhões que foi o pivô de sua queda da Casa Civil.

E o mundo não acabou | Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

Veio a delação do fim do mundo... e o mundo continua existindo. Como humanos, temos a tendência de superdimensionar a crise presente. Tal comportamento tem valor adaptativo, especialmente no passado darwiniano, no qual a resposta certa à maioria das ameaças era "saia correndo daí". O preço a pagar por essa arquitetura cerebral que tanto beneficiou nossa espécie é que nossas avaliações iniciais pendem para o pessimismo.

Não se trata, é claro, de diminuir a gravidade e o alcance das denúncias feitas pelo pessoal da Odebrecht. Os números falam por si só. O STF autorizou a abertura de inquérito contra oito ministros do governo Temer (no total são 28), 24 senadores (de 81) e 39 deputados federais (de 513), incluindo os comandantes da duas Casas.

O avesso | Míriam Leitão

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- O Globo

A empresa paga propina com a expectativa de se dar bem no mercado, de aumentar os lucros e ganhar contratos. O caso da Odebrecht mostra que, ao fim, a empresa conseguiu o avesso do que buscou. Era uma distorção e acabou engolindo a empresa e ditando a lógica corporativa. Hoje, há sérias dúvidas sobre a capacidade de sobrevivência da empreiteira.

Através do pagamento de propinas, a Odebrecht ganhou inúmeros contratos. Talvez fosse a mais capacitada para executar essas obras, mas em vez de vencer uma competição limpa, encurtou caminho pagando propina. Não foi a única, foi apenas a maior delas. A empresa pensava que assim dominaria o governo e de certa forma conseguiu. “Ele (Mantega) sabia que estava falando com um grande doador, com quem pagava João Santana”, disse Marcelo Odebrecht. Por outro lado, a empresa acabou dominada pelo governo que comprara. Teve que pagar propinas cada vez maiores. “Seu pessoal está com a goela muito aberta”, disse Emílio a Lula. Teve que fazer obras que não faria, como a construção do estádio do Corinthians, que era para ser de R$ 400 milhões e acabou ficando em R$ 1 bilhão. Teve que entrar em negócios dos quais desconfiava seriamente da viabilidade.

Nome aos bois | Eduardo Cucolo

- Folha de S. Paulo

"Garrastazu, Stalin, Erasmo Dias, Franco, Lindomar Castilho, Nixon, Delfim, Ronaldo Bôscoli..." Esse era o primeiro verso da música "Nome aos Bois", composição dos titãs Nando Reis, Marcelo Fromer, Arnaldo Antunes e Tony Bellotto lançada há 30 anos.

Eram 34 nomes entre genocidas, ditadores e pessoas das quais os autores simplesmente não gostavam.

Nesta semana, depois de uma longa espera, foram divulgados os vídeos nos quais os delatores da empreiteira Odebrecht também dão nome aos bois. Mais de duas dezenas deles.

E agora, que reforma aprovar? | Celso Ming

- O Estado de S. Paulo

A lista do ministro Fachin pede urgência para a reforma política. Mas fazer o quê? Quando o assunto é esse, cada um quer uma coisa, ou não quer nada.

Uns querem resolver o problema do financiamento de campanha; outros, pedem cláusula de barreira, para impedir a excessiva dispersão dos partidos cujo único objetivo é abocanhar fatias do fundo partidário. Os políticos, por exemplo, quase todos no modo de sobrevivência, sonham com uma anistia que os mantenha no jogo, preferivelmente em situação melhor do que a de agora. As minorias pretendem aumentar sua representatividade e sua influência. Outros pleiteiam a substituição do regime presidencialista pelo parlamentarista. Os que defendem o voto distrital querem garantir maior engajamento do político eleito na solução dos seus problemas. Outros, ainda, pretendem a criação de um mecanismo que erradique a corrupção, sem apelar para o simplismo do velho projeto de lei, de um só artigo, que exigisse vergonha na cara.

Os sinais da recuperação | Roberto Freire

- Diário do Poder

Apesar de todas as dificuldades enfrentadas em decorrência da herança perversa deixada pelos governos anteriores, o Brasil começa a experimentar o início do que pode se configurar uma tão esperada e necessária recuperação de sua economia. A essa altura, já não são poucos os indicadores que apontam para uma retomada, o que é resultado direto da responsabilidade e da racionalidade adotadas na condução política econômica.

Uma das medidas mais acertadas foi a liberação de saques do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), determinada ainda no fim do ano passado pelo presidente Michel Temer. As estimativas indicam que mais de 30 milhões de trabalhadores que pediram demissão ou foram demitidos até 31 de dezembro de 2015 sejam beneficiados em todo o país. Ao todo, os recursos totalizam R$ 43,6 bilhões referentes a nada menos que 50 milhões de contas inativas.

As relações tóxicas da política com negócios – Editorial | O Globo

Na reconstrução do sistema político e no combate à corrupção deve -se acabar com os partidos de aluguel e reduzir o tamanho do Estado, fonte do dinheiro usado nas falcatruas

O impacto dos vídeos de delações da cúpula da Odebrecht é de fato grande, por expor pessoas de carne e osso com suas expressões de nervosismo ou de tranquilidade, enquanto relatam, num tom de voz que demonstra tensão ou não, histórias de falcatruas tramadas nos governos do PT, em administrações estaduais do PSDB e com políticos diversos, muitos do PMDB, sem que faltem representantes de diversas outras legendas.

Um dos momentos emblemáticos das delações gravadas é quando Marcelo Odebrecht relata acertos financeiros com Antonio Palocci e, depois da saída do ministro-chefe da Casa Civil de Dilma, com Guido Mantega, da Fazenda. O testemunho é de um alto executivo, frio e objetivo, numa conversa de negócios. Percebe-se que, para Marcelo, tratava-se mesmo de um negócio. Só que de compra de um governo inteiro — Lula e Dilma — e de parte do Congresso Nacional.

Dificuldades além das teorias | José Paulo Kupfer

- O Globo

Frustrações com o comportamento da economia, em razão de crenças em teses que acabam não se confirmando, podem se repetir ao longo deste ano

São muitas as teorias ainda sem confirmação que andam circulando por aí. A mais recente é a de que o mercado já teria “precificado" os efeitos da abertura, na terça-feira, das delações da Odebrecht, com denúncias de uso de caixa 2 eleitoral e recebimento de propinas envolvendo meio mundo político, incluindo quatro ex-presidentes e importantes gabinetes do governo de Michel Temer.

O tédio dos índices da Bolsa e das cotações do dólar, na sequência da divulgação da longa e diversificada lista de investigados, está sendo usado como uma comprovação da teoria. A mensagem transmitida pelos sonolentos pregões do dia seria a da crença dos “mercados" no avanço das reformas, apesar dos altos riscos embutidos nas turbulências que ainda podem ser produzidas pelos desdobramentos das denúncias de corrupção nas operações da Odebrecht e de outras empreiteiras.

Os juros e o jogo do poder – Editorial | O Estado de S. Paulo

Com mais um corte de juros, desta vez para 11,25% ao ano, o Banco Central (BC) contribui de novo para a reativação dos negócios e para a redução dos encargos do Tesouro. Cada ponto porcentual a menos proporciona uma economia de bilhões na despesa financeira do setor público. Mas o afrouxamento monetário só poderá prosseguir enquanto houver segurança quanto ao recuo da inflação e ao avanço no conserto das contas oficiais. Esse conserto inclui a execução da pauta de reformas, a começar pela da Previdência, já em discussão no Congresso. No Brasil, os obstáculos a uma política de crédito mais farto e mais barato são muito mais políticos do que técnicos.

A cada mês e meio os membros do Copom, o Comitê de Política Monetária do BC, reúnem-se para discutir as próximas ações. O exame das condições e perspectivas dos mercados interno e externo é só uma parte do trabalho preliminar. Também é preciso levar em conta as formas de ação do presidente da República e de seus ministros, seus objetivos e o andamento do jogo entre o Executivo e o Congresso.

Breve o dia | Fernando Pessoa

Breve o dia, breve o ano, breve tudo.
Não tarda nada sermos.
Isto, pensado, me de a mente absorve
Todos mais pensamentos.
O mesmo breve ser da mágoa pesa-me,
Que, inda que mágoa, é vida.

Meu amor marinheiro