*Luiz Werneck Vianna (1938-2024), Sociólogo, “Abrir a arca do tesouro”. Blog Democracia Política e novo Reformismo, 8 de fevereiro, 2023.
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
terça-feira, 16 de dezembro de 2025
Opinião do dia - Luiz Werneck Vianna*
O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões
Ataque antissemita na Austrália é alerta para todo o mundo
Por O Globo
No lugar de
alimentar discurso de ódio, Brasil deve resgatar tradição de tolerância que
sempre o definiu
Não faltou aviso para o risco de crescimento do antissemitismo na esteira da resposta israelense ao ataque terrorista do Hamas no 7 de Outubro. Em agosto passado, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, enviou carta ao australiano, Anthony Albanese, acusando-o de “lançar gasolina no fogo antissemita” e de “encorajar o ódio aos judeus” por atos que, dizia Netanyahu, favoreciam terroristas do Hamas. É compreensível que o morticínio e a violência dos ataques israelenses em Gaza tenham despertado uma onda de simpatia pela justa causa palestina, mas isso não pode justificar ser contra a existência de Israel. O atentado antissemita na Praia de Bondi, em Sydney, que deixou pelo menos 15 inocentes mortos numa das principais celebrações do judaísmo — a primeira noite da festa das luzes, Chanucá — , comprova que Netanyahu não falava no vazio. O ódio milenar a judeus encontrou na defesa dos palestinos um biombo atrás do qual se oculta para passar por aceitável.
Difícil ganhar sempre. Por Merval Pereira
O Globo
O que parecia ser uma solução negociada com
todas as partes agora está sob perigo.
Está difícil acertar o “acordão” (grande acordo, não o acórdão do juridiquês) entre os Poderes da República quando se tem apenas quatro dias para montar uma equação em que todos saiam ganhando — menos o povo, que os colocou lá, mas isso é mero detalhe. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, garante que a proposta de dosimetria das penas vai a votação, como prometido. Em contrapartida, já ganhou alguns mimos, entre eles o poder único de manusear as informações que a Polícia Federal extraiu dos celulares do banqueiro Daniel Vorcaro.
A estratégia antiesquerda do partido de Bolsonaro para 2026. Por Malu Gaspar
O Globo
O Partido Liberal (PL),
legenda do ex-presidente Jair
Bolsonaro, divulgará aos filiados uma resolução interna que proíbe
alianças com partidos de esquerda nas eleições de 2026. Entre as siglas vetadas
estão PDT, PSB, PT, PSOL e PCdoB.
A medida valerá para a disputa presidencial e também para as coligações nos
estados, envolvendo candidaturas aos governos estaduais e ao Senado
Federal.
O texto da resolução está em fase final de elaboração e deve ser submetido aos filiados pelo presidente nacional do partido, Valdemar Costa Neto. A proposta estabelece que o PL não poderá firmar coligações ou apoiar candidaturas em parceria com legendas de esquerda.
Quando é que o Brasil se perdeu. Por Fernando Gabeira
O Globo
Não há mais grande debate sobre os rumos do
país. Isso é poesia diante da tarefa principal: obter o máximo de dinheiro
Vendaval, voos cancelados, tempo perdido nas cadeiras de Congonhas. A única saída é pensar. Uma palavra me veio à mente diante das crises sucessivas do poder em Brasília: entropia. Não a uso com o rigor da termodinâmica, mas no sentido de que algo está se decompondo, como uma barra de gelo. O governo em crise com o Congresso em crise com o Supremo parece ter entrado num labirinto assustador.
Cruzada de Dino vai substituir a de Moraes em 2026. Por Maria Cristina Fernandes
Valor Econômico
Com o inquérito do fim do mundo prestes a ser
encerrado, o do orçamento secreto assumirá o protagonismo num momento em que
Lula disputa o eleitor antissistema e o Congresso busca nova equação de poder
Em seminário recente, o ministro Flávio Dino, a pretexto de se defender da acusação de ativismo nos inquéritos do orçamento secreto, perguntou: “Quantos parlamentares hoje estão presos por causa de emenda parlamentar?” Ele mesmo respondeu: nenhum. “Quantas buscas e apreensões na Câmara e no Senado deferi?” A negativa a esta segunda pergunta durou oito dias. Aquela que deu à primeira pergunta ganhou prazo de validade na sexta-feira.
A operação que mirou a assessora da liderança do Progressistas na Câmara e mais longeva operadora do organograma das emendas parlamentares, Mariângela Fialek, com busca e apreensão em seu gabinete e na sua residência, foi recebida, em Brasília, como um aperitivo do que vai dominar o Supremo Tribunal Federal em 2026.
Os Correios em um mundo sem cartas. Por Míriam Leitão
O Globo
Empresa pediu aos bancos um prazo de três
anos de carência para se recuperar. E promete ajuste com redução de quadro e
agilidade logística
Não haverá aporte de R$ 6 bilhões do Tesouro
nos Correios.
Menos mal. Essa seria a opção caso não fosse possível o empréstimo
de R$ 12 bilhões de um consórcio de bancos, entre eles Banco do
Brasil e Caixa, mas a operação está avançando. É muito dinheiro, com
aval do Tesouro, e não há qualquer garantia de retorno. Emmanoel Rondon, novo
presidente que assumiu em setembro, está preparando o plano de reestruturação
da empresa e deve anunciar em breve. A falta de informação oficial sobre o
futuro só piora a situação.
Os Correios perderam, nos primeiros meses do ano, R$ 2,2 bilhões em receita porque os clientes se irritaram com a qualidade dos serviços e passaram a fazer as entregas eles mesmos. A deterioração do caixa da estatal vem da piora da operação e acaba gerando mais perda de caixa. Virou um círculo vicioso.
Os meninos da Austrália. Por Pedro Doria
O Globo
Teremos números de saúde pública: saúde
mental, autoestima, suicídios. Teremos dados escolares. Haverá estudos de
sociólogos e antropólogos
Faz uma semana que as redes sociais australianas estão com 1 milhão de usuários a menos. É o resultado do início da proibição de acesso por menores de 16 anos. No país, a medida é popular: dois terços da população aprovam. Mas nada está de todo sedimentado. Existem alguns processos pedindo à Justiça que considere a medida inconstitucional, assim como existem algumas empresas do Vale do Silício, como Reddit, tentando definir de forma mais estrita o que é uma rede social. Ela jura não ser. Tem cara de que a lei ficará de pé, ao menos por alguns anos. É o que pensam os analistas locais. Pois o mundo, a partir de agora, prestará muita atenção.
A hora de Lira. Por Carlos Andreazza
O Estado de S. Paulo
Lança-se hostil o 2026 de Arthur Lira; para Arthur Lira. Já este Natal de 2025 trouxe presente-revés para o ex-presidente da Câmara. A cassação de Glauber Braga lhe era objetivo pessoal. Foi derrotado, via censor Motta – talvez mesmo constante, no contrato que firmou pela ascensão de Huguinho, a cláusula-compromisso sobre o mandato do deputado psolista. Nada a ver com a agressão física geradora do processo. O menino não entregou. Perderam. Perdeu. (Aborrecido com a fraqueza do afilhado, o tutor Lira largou-lhe a mão.) Será a menor das derrotas.
Cristianismo cultural e a bancada cristã. Por Marina Basso Lacerda
O Estado de S. Paulo
Ao elevar o cristianismo a representação política oficial, o projeto deixa em aberto uma pergunta inevitável: e as demais matrizes religiosas?
Com 398 votos, a Câmara dos Deputados aprovou
em outubro a urgência para a criação da bancada cristã. A justificativa repousa
sobre o argumento de que o Brasil é “uma nação de maioria cristã”, citando o
último censo.
A iniciativa, requerida pelos presidentes das
frentes católica e evangélica, se aprovada, dará à bancada assento no colégio
de líderes e tempo de fala nas sessões. Uma voz oficial no coração do Estado.
Será, assim, a formalização de um fenômeno que estudiosos vêm mapeando há anos:
o cristianismo cultural.
Trata-se de conceito acadêmico. Autores como Tobias Cremer, Anja Hennig e Oliver Hidalgo mostram que o cristianismo cultural funciona, em contextos europeus e nos EUA, como uma identidade majoritária acionada em disputas políticas contemporâneas, notadamente em contraste com populações muçulmanas, frequentemente apresentadas como uma ameaça ao chamado Ocidente.
PF põe saia justa no STF ao explicar sigilo do Master. Por Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense
Durante a Operação Compliance
Zero, deflagrada para apurar um esquema bilionário de fraudes bancárias, a PF
identificou possível conexão com autoridade detentora de foro
O caso do Banco Master assombra o Supremo
Tribunal federal (STF). A explicação pública do diretor-geral da Polícia
Federal, Andrei Rodrigues, sobre a adoção do sigilo ampliado no caso Master
colocou o Supremo numa saia justa institucional. Ao detalhar, com cautela
técnica, que a PF interrompe investigações sempre que surge um “achado” envolvendo
autoridade com prerrogativa de foro para evitar nulidades processuais,
Rodrigues expôs um ponto sensível: o STF passou a concentrar integralmente o
controle do inquérito por força de um modelo jurídico que vem ampliando, de
forma contínua, o raio de ação da Corte.
O procedimento adotado pela PF é formalmente correto e segue jurisprudência consolidada. O problema não está no rito, mas no efeito político e institucional produzido pela transferência automática de todas as ações ao Supremo e pela decisão do relator de impor sigilo máximo ao caso. Ao explicar o processo com transparência, Rodrigues deixou claro que a iniciativa não partiu da corporação, mas de uma obrigação institucional que concentra no STF o comando de investigações sensíveis. O foco do escândalo financeiro agora está no colo do próprio Supremo.
Como o Congresso se move sob baixa aprovação popular
Evelyn Apolinaria, Maria Letícia Wendt , Ysadora Monteiro e Adrián Albala — membros do Observatório do Congresso/UnB / Correio Braziliense
O risco é de que a sucessão de pautas sensíveis no Congresso continue alimentando um ciclo de desgaste institucional e ceticismo da população
A movimentação da última semana no Congresso Nacional ocorreu em um momento em que pesquisas como a Quaest, divulgada em julho de 2025, apontam um padrão persistente de desaprovação da população em relação ao Poder Legislativo, hoje em torno de 51%. Mesmo sob esse cenário de baixa confiança, o Parlamento viveu dias de intensa atividade em pautas polêmicas: a Câmara avançou no PL da Dosimetria, deliberou o novo Plano Nacional de Educação (PNE) em comissão especial e pautou dois processos disciplinares envolvendo parlamentares de espectros ideológicos opostos: Carla Zambelli (PL-SP) e Glauber Braga (PSOL-RJ). O contraste entre a atividade legislativa e a avaliação negativa pela opinião pública compõe o pano de fundo para compreender o cenário político da semana e as tendências para essa reta final de legislatura.
Nossa tragédia é o devaneio”- conivência parafrastica. Por Aylê-Salassié Filgueiras Quintão*
O articulista ampara suas afirmações em três hipóteses: “A política alheia ao País”, “O que não se discute”, “Sabemos fazer, e não fazemos”. Reducionista, porque não escancara a ferida da política econômica voltada claramente para redistribuição da riqueza (dos outros), sem uma contrapartida do aumento da produção e da produtividade, legando a tarefa ao ativismo do MST e aos trabalhadores urbanos sindicalizados que, ao contrário, estão conquistando um dia mais de folga na semana: de 6x1 para 5x2. No modelo de trocas que aí está, o redistributivismo tende a beneficiar, sim, os burocratas hegemônicos no Poder: o Judiciário, recorrente, já voltou a reivindicar aumento de 28 % nos salários dos seus ministros e servidores; o Ministério da Fazenda – o órgão redistribuidor – propõe estender para os funcionários da Carf -Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, as vantagens pecuniárias da “periculosidade”. E, assim por diante. Absurdos compatíveis com os devaneios organizacionais da atual gestão de governo.
Retomando o fio da meada. Por Ivan Alves Filho*
Hoje, as agremiações políticas pararam de examinar os problemas mais agudos do país, isto é, de propor alternativas democráticas aprofundadas. Viraram máquinas eleitorais apenas. Distanciados dos movimentos sociais, desprovidos de quadros com capacidade de elaboração teórica e articulação política, os partidos políticos deixaram de atuar como intelectuais coletivos e se transformaram em meros organismos de Estado.
Foram, de certa forma, "estatizados", limitando-se a caminhar do Estado para a sociedade e não o contrário.
Dir-se-ia que a sociedade civil, sempre maior que o Estado por sinal, passou a ser encarada como um detalhe.
Sistema consegue moderar candidatos? Por Hélio Schwartsman
Folha de S. Paulo
Representante da direita radical vence com folga segundo turno da
eleição presidencial no Chile
José Antonio Kast, porém, não deu sinais de que atuará contra o
sistema como Trump ou Bolsonaro
Sem surpresa, José
Antonio Kast foi eleito presidente do Chile. E foi de
lavada, por
58% contra 42%. A dúvida agora é como Kast governará.
O primeiro ponto a observar é que ele vem de uma cepa da direita muito mais radical do que a de Sebastián Piñera, que governou o Chile por duas vezes após a redemocratização do país, em 1990. Kast é abertamente pinochetista, rompeu com a direita tradicional para fundar um partido que fosse mais veemente na defesa de pautas conservadoras e é ultracatólico, daqueles de se opor a todos os métodos de controle de natalidade. Tem nove filhos.
Congresso 'inimigo' é retrato do povo. Por Dora Kramer
Folha de S. Paulo
Poder Legislativo não deve ser confundido com
a atuação dos eleitos e eleitas para dar expediente por lá
Pessoas podem ser trocadas pelo voto, mas a
instituição permanece guardada por cláusula pétrea da Constituição
O mote "Congresso inimigo
do povo" pode ser visto de várias formas: como um achado de palanque, um
ataque equivocado a um dos pilares da República ou um elogio àquele tipo de populismo
que rejeita a política e dá margem ao atraso e a aventuras nefastas.
Numa compreensão mais elaborada, pode também ser recebido como alerta didático, um chamado à responsabilidade do eleitorado como agente formador da composição do colegiado.
Segurança em xeque: suspeita de vazamentos compromete operações. Por Alvaro Costa e Silva
Folha de S. Paulo
Ação em São
Gonçalo envolveu mil policiais e 20 blindados, mas não prendeu ninguém
Na região
metropolitana do Rio, 4 milhões de pessoas vivem sob jugo de criminosos
Foi a maior
operação policial realizada no Rio de Janeiro desde
aquela que deixou
122 pessoas mortas nos complexos do Alemão e da Penha, em 28 de outubro, e
que pôs a segurança pública no centro da campanha eleitoral de 2026, com Lula
de um lado e governadores de direita do outro.
Na quinta (12), mil homens das Polícias Militar e Civil invadiram o complexo do Salgueiro, em São Gonçalo. O objetivo era cumprir 25 mandados de busca e apreensão e 44 mandados de prisão, entre eles o do traficante Antônio Hilário Ferreira, o Rabicó, da cúpula do Comando Vermelho. Rabicó conseguiu fugir.














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