O Globo
Quem determinará a vitória, como aconteceu em
2022, será o eleitorado de centro-direita ou centro-esquerda
Para que a farsa seja completa, resta ao presidente Lula vetar o Projeto de Lei da dosimetria, que reduz as penas do ex-presidente Bolsonaro, dos militares golpistas, e assessores idem, além das centenas de “bois de piranha” estimulados a participar das badernas de janeiro de 2023. Assim, o presidente atual acha que enganará seus simpatizantes, mostrando-se independente, para depois o Congresso derrubar seu veto. Está evidente, porém, que o ocorrido na madrugada desta quarta-feira, culminando com as votações apressadas na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, depois no plenário, foi um amplo “acordão” que envolveu todos os Poderes da República, até o Supremo Tribunal Federal (STF).
Em troca da facilidade que a nova legislação
criminal dará aos condenados pela tentativa de golpe, o PT e a esquerda de
maneira geral aprovaram leis que deram ao governo cerca de R$ 20 bilhões de
fôlego, com corte linear dos benefícios fiscais e outros penduricalhos. O
Supremo, informalmente, aprovou a nova lei criminal; o PT, partido do governo,
não opôs resistência à dosimetria bolsonarista, e até Lula pode aceitar colocar
suas digitais em tal aberração, que será estendida a outros crimes comuns por
meio da alteração do sistema de progressão de regime. Para libertar Bolsonaro
em prazo curto da cadeia fechada, vale tudo em ano eleitoral.
A pesquisa Quaest sobre a disputa
presidencial de 2026 divulgada na terça-feira, a primeira em que Flávio
Bolsonaro aparece como candidato, agradou a todos. Flávio ganhou fôlego que
pode tornar sua candidatura irreversível. Ele se sai melhor que qualquer outro
candidato da direita, especialmente o governador de São Paulo, Tarcísio de
Freitas, antes o favorito. Os bolsonaristas gostaram de constatar que o
sobrenome fortalece a candidatura de oposição, não o contrário.
Lula, por seu lado, adorou saber que a
candidatura de Flávio ganhou tração neste início de campanha. Nada melhor para
se apresentar como alternativa democrática ao golpismo da direita. Ficou
demonstrado que, se houver acordo entre os candidatos de direita num eventual
segundo turno, pode ser que a candidatura de Flávio ganhe força para competir
com Lula. Mas esse é um retrato do momento. Temos ainda um ano pela frente para
que as candidaturas se consolidem. E o sobrenome Bolsonaro não une.
O que a família Bolsonaro conseguiu foi
encurralar Tarcísio, a quem só resta se recandidatar ao governo de São Paulo.
Como ele, os governadores que serão candidatos à Presidência têm de deixar o
cargo até abril, quando as candidaturas estarão esclarecidas. A possibilidade
de os candidatos de direita se unirem em torno de uma só é pequena sem Tarcísio
na disputa. Dois deles, Ratinho Junior, do Paraná, e Romeu Zema, de Minas
Gerais, podem se juntar numa única chapa. O primeiro aparece na pesquisa Quaest
com mais votos que os demais e tem no PSD um partido forte a apoiá-lo.
Mais que Flávio, Ratinho pode ser o candidato
que una o centro democrático contra bolsonarismo e petismo. Mas, a longo prazo,
não há indicação de que a direita terá força para derrotar Lula, especialmente
porque, no segundo turno, parte dos eleitores que votarem na direita não se
sentirá segura para votar em Flávio, que se lança como “bolsonarista moderado”.
Quem determinará a vitória, como aconteceu em 2022, será o eleitorado de
centro-direita ou centro-esquerda, que poderia escolher Tarcísio, pode ainda
escolher Ratinho, dependendo de como se apresentará ao eleitorado, ou, no
limite, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. Mas Lula continuará
sendo a escolha mais fácil contra o golpismo se Flávio for para o segundo
turno. Se um candidato do centro democrático for para o segundo turno, pode
derrotar Lula.

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