Luiz Carlos Mendonça de Barros
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
O Fed começou a construir a estratégia de saída dessa parte menos convencional de sua intervenção no mercado
NA ÚLTIMA quarta-feira, o mundo econômico parou na expectativa do resultado da reunião do Fed. Embora até as pedras soubessem que seria mantida a política de taxas de juros próximas de zero, havia uma grande expectativa quanto às palavras que ele utilizaria para comunicar sua decisão. Qualquer mudança seria lida e interpretada com muito cuidado pelos especialistas, pois poderiam esconder informações preciosas sobre o futuro da política monetária na maior economia do mundo.
Existem hoje três leituras principais sobre o futuro da economia nos Estados Unidos. A primeira, herdada da crise bancária que estamos vivendo, chama a atenção para o risco de uma verdadeira depressão econômica, com risco de deflação, como a ocorrida nos anos 30 do século passado. Foi leitura dominante nos meses que se seguiram ao colapso do banco Lehman Brothers. Hoje, ela está um pouco desprestigiada, devido à recuperação da atividade econômica nos últimos dois meses, mas ainda faz sucesso em certos meios acadêmicos.
Uma segunda leitura incorpora essa recuperação e trabalha com a volta de crescimento moderado já no último trimestre deste ano. Em 2010, ajudado em parte pelo vigor dos países emergentes, o mundo voltaria a crescer 4%. Mas, no chamado G7, a atividade econômica seria ainda débil, e o desemprego continuaria a subir nos primeiros meses do ano.
Somente a partir de 2011 é que a atividade econômica chegaria perto do potencial. A inflação continuaria baixa, permitindo a lenta reversão dos estímulos monetários adotados para combater a crise. Finalmente, outro grupo de analistas que olha para o futuro com extrema preocupação de uma volta súbita da inflação, devido à política monetária extremamente expansionista, pedia uma mudança já na atitude do Fed.
O Fed tem mantido até agora uma política agressiva e fora dos padrões de expansão monetária para lidar com o primeiro cenário. Ela incorpora, além de um compromisso com juros muito baixos, instrumentos não convencionais na tentativa de substituir os bancos privados nos mercados de crédito. Para atingir esse objetivo, comprometeu-se a comprar até US$ 1,6 trilhão em títulos públicos e em papéis hipotecários.
Como resultado dessas iniciativas, o volume de dólares em circulação nos mercados financeiros atingiu números extremos. Nesse movimento, o total de ativos do Fed passou de algo como US$ 800 bilhões para mais de US$ 2 trilhões. Mas, com a redução do risco de deflação, o mercado passou a especular sobre o momento em que o Fed terá de voltar a um comportamento mais convencional. Não por outra razão, tivemos um agressivo movimento de elevação dos juros mais longos nos Estados Unidos nas últimas semanas. Mas é importante separar os problemas. Uma coisa são as taxas de juros muito baixas, que devem continuar, pois a recuperação ainda é muito frágil. Isso foi reforçado pelo Fed no comunicado desta semana. Outra coisa são os mecanismos de expansão quantitativa de moeda, que foi adotada de forma emergencial há alguns meses e que começa a perder seu sentido.
O Fed começou a construir, de forma eficiente, a estratégia de saída dessa parte menos convencional de sua intervenção. Sem se comprometer com datas e valores, a autoridade monetária deu um sinal claro, ao mencionar que ajustará esses mecanismos de forma adequada ao cenário dos próximos meses. Os mercados reagiram muito bem a esse movimento, mostrando que Ben Bernanke e sua equipe sabem o que estão fazendo.
Luiz Carlos Mendonça De Barros, 66, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
O Fed começou a construir a estratégia de saída dessa parte menos convencional de sua intervenção no mercado
NA ÚLTIMA quarta-feira, o mundo econômico parou na expectativa do resultado da reunião do Fed. Embora até as pedras soubessem que seria mantida a política de taxas de juros próximas de zero, havia uma grande expectativa quanto às palavras que ele utilizaria para comunicar sua decisão. Qualquer mudança seria lida e interpretada com muito cuidado pelos especialistas, pois poderiam esconder informações preciosas sobre o futuro da política monetária na maior economia do mundo.
Existem hoje três leituras principais sobre o futuro da economia nos Estados Unidos. A primeira, herdada da crise bancária que estamos vivendo, chama a atenção para o risco de uma verdadeira depressão econômica, com risco de deflação, como a ocorrida nos anos 30 do século passado. Foi leitura dominante nos meses que se seguiram ao colapso do banco Lehman Brothers. Hoje, ela está um pouco desprestigiada, devido à recuperação da atividade econômica nos últimos dois meses, mas ainda faz sucesso em certos meios acadêmicos.
Uma segunda leitura incorpora essa recuperação e trabalha com a volta de crescimento moderado já no último trimestre deste ano. Em 2010, ajudado em parte pelo vigor dos países emergentes, o mundo voltaria a crescer 4%. Mas, no chamado G7, a atividade econômica seria ainda débil, e o desemprego continuaria a subir nos primeiros meses do ano.
Somente a partir de 2011 é que a atividade econômica chegaria perto do potencial. A inflação continuaria baixa, permitindo a lenta reversão dos estímulos monetários adotados para combater a crise. Finalmente, outro grupo de analistas que olha para o futuro com extrema preocupação de uma volta súbita da inflação, devido à política monetária extremamente expansionista, pedia uma mudança já na atitude do Fed.
O Fed tem mantido até agora uma política agressiva e fora dos padrões de expansão monetária para lidar com o primeiro cenário. Ela incorpora, além de um compromisso com juros muito baixos, instrumentos não convencionais na tentativa de substituir os bancos privados nos mercados de crédito. Para atingir esse objetivo, comprometeu-se a comprar até US$ 1,6 trilhão em títulos públicos e em papéis hipotecários.
Como resultado dessas iniciativas, o volume de dólares em circulação nos mercados financeiros atingiu números extremos. Nesse movimento, o total de ativos do Fed passou de algo como US$ 800 bilhões para mais de US$ 2 trilhões. Mas, com a redução do risco de deflação, o mercado passou a especular sobre o momento em que o Fed terá de voltar a um comportamento mais convencional. Não por outra razão, tivemos um agressivo movimento de elevação dos juros mais longos nos Estados Unidos nas últimas semanas. Mas é importante separar os problemas. Uma coisa são as taxas de juros muito baixas, que devem continuar, pois a recuperação ainda é muito frágil. Isso foi reforçado pelo Fed no comunicado desta semana. Outra coisa são os mecanismos de expansão quantitativa de moeda, que foi adotada de forma emergencial há alguns meses e que começa a perder seu sentido.
O Fed começou a construir, de forma eficiente, a estratégia de saída dessa parte menos convencional de sua intervenção. Sem se comprometer com datas e valores, a autoridade monetária deu um sinal claro, ao mencionar que ajustará esses mecanismos de forma adequada ao cenário dos próximos meses. Os mercados reagiram muito bem a esse movimento, mostrando que Ben Bernanke e sua equipe sabem o que estão fazendo.
Luiz Carlos Mendonça De Barros, 66, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).
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