BRASÍLIA - Ao se trancar em casa, sem condições políticas e psicológicas de ir ao Congresso, o ex-presidente da República e tri-presidente do Senado, José Sarney, 78, começou -embora negue- o movimento de saída do cargo, empurrado pela crise que é dele e da instituição. A história se repete. Foi assim com Antonio Carlos Magalhães, Jader Barbalho, Renan Calheiros, que se enredaram nos próprios erros e tiveram de renunciar, vítimas da misteriosa cadeira ejetora da presidência do Senado.
Durante anos se ouve falar de histórias esquisitas que perseguem como sombras a trajetória de cada um deles. Elas só vêm a público daqui e dali, porque "ouvir falar" é bem diferente de "comprovar", mas consolidam percepções do próprio meio político e da imprensa -logo, da opinião pública.
Um belo dia, o poderoso é eleito ou reeleito presidente do Senado, e o que era de "ouvir falar" ganha corpo, pernas e provas. O resto é pretexto. ACM foi derrubado por quebra de sigilo dos votos em plenário; Jader, por escândalos de décadas na Sudam; Renan, pela namorada.
Sarney afunda sob o peso de boas ações para parentes e apadrinhados com dinheiro público e de ligações perigosas com o submundo da burocracia parlamentar. E repete o script dos antecessores de cargo e de infortúnio.
Primeiro, desdém. Depois, perplexidade. Logo, a tese do complô entre inimigos no Estado, adversários no Congresso, funcionários invejosos e, claro, a imprensa. Enfim, a denúncia de uma "campanha midiática", como diz Sarney, também repetindo ACM, Jader, Renan, sem as devidas explicações. O ataque de Pedro Simon não é pá de cal, é detalhe previsível. Sarney chegou ao momento dramático da solidão, da tristeza e de reunir as últimas energias para tentar resistir, gritando socorro para o Planalto. Costuma, porém, ser só questão de tempo. A não ser que refaça o final de um filme que a gente já viu e reviu.
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