O PIB da China subiu menos em 2011. Cresceu 9,2%, algo significativamente inferior ao obtido em 2010, quando avançou 10,4%. Mas o mercado financeiro global festejou, porque esperava um avanço mais lento nessa expansão, ao redor de 8,6% e, também, porque o governo da China deu mostras de que controla o processo.
Os fatores que levaram observadores a contar com crescimento mais baixo foram as importações de petróleo apenas 6% mais altas do que no ano anterior; um grande encalhe no setor de veículos; uma forte desaceleração do mercado imobiliário; e a redução de encomendas do exterior.
As estatísticas econômicas divulgadas pelo governo da China não se notabilizam pela transparência. Em todo o caso, um impulso no PIB meio ponto porcentual acima do projetado tem de ser levado em conta.
A comemoração tem a ver, digamos, com o efeito fio de cabelo. Um milenar provérbio chinês diz o seguinte: "No início de uma trajetória, um erro da largura de um fio de cabelo pode provocar um desvio de mil quilômetros no ponto de chegada".
Por isso, faz muita diferença um erro da largura de um fio de cabelo, tanto para mais como para menos, no tamanho do PIB da China (US$ 7 trilhões) - especialmente quando se leva em conta sua influência sobre um mundo em crise.
O consumo interno chinês está crescendo o dobro do que cresce o PIB. Elevou-se nada menos que 18,1%. Parte desse efeito aconteceu concentradamente em dezembro e pode ser atribuído a antecipação de compras provocada por anúncios de cortes de subsídios a vigorarem neste ano. De todo modo, o governo da China parece que vem conseguindo deslocar para o consumo interno o centro dinâmico do seu desenvolvimento econômico - até recentemente, excessivamente concentrado nas exportações.
Essa é uma manobra complicada porque implica redução da poupança interna, hoje de mais de 50% do PIB. Como a maior parte desse volume é produzida pelo setor público (governo e estatais), essa transferência exige aumento das despesas públicas e dos salários sem produção de inflação nem de bolhas financeiras - que reduziriam a renda do consumidor em termos reais ou poderiam desestabilizar a economia.
O Escritório Nacional de Estatísticas da China não mostrou os números do investimento. O que alguns analistas vêm afirmando é que o avanço desse índice em 2011 deve ter sido pelo menos 0,75 ponto porcentual mais baixo do que os 24,5% ocorridos em 2010, sobretudo pela desaceleração do mercado imobiliário, o mais sério candidato a bolha.
Do ponto de vista global, uma economia chinesa mais robusta do que o esperado e, em especial, de crescimento sustentável implica mais encomendas de petróleo, de matérias-primas e de alimentos do resto do mundo. Foi o que puxou ontem os preços das commodities.
E é este efeito que beneficia o Brasil, hoje um grande produtor de matérias-primas e de alimentos - e futuro grande exportador de petróleo.
Muito além. Em apenas cinco anos (desde 2007), o PIB da China cresceu 63,0%. Nesse mesmo período, a economia dos países mais ricos que fazem parte da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) não cresceu, na média, mais do que 3,0%.
Velocidade da inclusão. Embora venha incorporando anualmente em torno de 30 milhões de habitantes ao mercado de trabalho (e também ao de consumo), a China ainda tem cerca de 400 milhões de cidadãos excluídos. Um crescimento mais baixo da economia chinesa implicará uma redução da velocidade da incorporação dessas pessoas.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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