- Folha de S. Paulo
Joaquim Levy saiu do Ministério da Fazenda, e Nelson Barbosa assume a pasta. A nota positiva da troca de guarda na Fazenda é que ela restaura a vontade das urnas.
O ministro Levy sai porque não conseguiu construir um caminho que garantisse em horizonte razoável —de dois a três anos— que a trajetória da dívida pública se estabilizasse. Para que haja esta estabilização, é necessário haver superavit primário na casa de 3% do PIB. Assim, o ministro Levy falhou na tarefa de construir esse superavit.
Evidentemente, como tem afirmado meu amigo Marcos Lisboa, ajuste fiscal dessa magnitude não é tarefa do Ministério da Fazenda. É necessário que toda a Esplanada dos Ministérios esteja empenha- da nesse objetivo e que o Executi- vo consiga construir uma base de sustentação no Congresso Nacional que dê suporte às diversas medidas que ataquem nosso desequilíbrio estrutural, isto é, as regras que condicionam um crescimento vegetativo do gasto público em ritmo mais rápido que o produto da economia. Adicionalmente, é necessário suporte a medidas que aumentem a carga tributária.
Em vista do enorme estelionato eleitoral praticado pela presidente, dos desdobramentos da Operação Lava Jato entre os políticos e das cicatrizes da campanha eleitoral, que inviabilizaram qualquer conversa mais produtiva com a oposição, a tarefa legislativa necessária para a construção de um superavit primário que estabilize a dívida pública ficou impossível.
Para complicar todo o quadro, o buraco fiscal que se apresentou em 2015 foi de 1 a 1,5 ponto percentual do PIB maior do que as piores estimativas que tínhamos na virada de 2014 para 2015.
Trabalho demais para um governo fraco, no final de longo ciclo de um grupo político que ganhou a eleição à custa de muita mentira.
Apesar de a ida de Barbosa para a Fazenda restituir a verdade das urnas, isso não significa que o governo resolveu alterar a política econômica. Houve tentativas de outros nomes. Parece que a incapacidade de construir uma equipe econômica qualificada representa sinal de desorganização e total incapacidade de governo.
Difícil imaginar os próximos passos. No front inflacionário, as notícias são terríveis. A prévia da inflação deste mês —o IPCA-15 de dezembro— veio acima do que se esperava e a inflação acumulada no ano aproxima-se de 11%. Os núcleos e a difusão vieram muito fortes.
Tudo sugere que a inércia do processo inflacionário brasileiro atingiu novo patamar. É possível divisar forte estagflação em 2016, com a atividade recuando 3%, a inflação acima de 8% e o desemprego atingindo 12% a 13% no fim do ano.
O ciclo de crescimento da década passada terminou. As escolhas de política econômica de 2009 até 2014 colocaram em xeque a geração de emprego e renda. A recessão que se iniciou no segundo trimestre de 2014 continuará conosco em 2016.
O trabalho de década e meia de arrumação de casa foi destruído nos seis anos da nova matriz econômica, também de responsabilidade de Nelson Barbosa. A geração que viveu a esperança de um Brasil como nunca antes na história deste país reencontra a sina do fracasso. Para quem vivenciou o governo Sarney, não haverá novidades.
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