• Nos palanques, impeachment de Dilma marca discursos pró e contra o afastamento da petista
Sérgio Roxo e Silvia Amorim - O Globo
-SÃO PAULO- No pontapé inicial da campanha para a prefeitura de São Paulo, candidatos deram sinais de que a conjuntura nacional vai pautar o debate na disputa pelo comando da maior cidade do país. O impeachment da presidente Dilma Rousseff foi citado nos discursos, tanto dos que se opuseram ao seu afastamento como dos que trabalharam para que Michel Temer assumisse o poder.
Ao ser homologado como candidato à reeleição em convenção ontem, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), afirmou que o país “vive um retrocesso”.
— O que está em jogo nesta eleição é muito mais do que um partido, é muito mais do que um candidato. O que está acontecendo no país é um retrocesso do ponto de vista civil, político, trabalhista e social. Se não tivermos consciência disso, não vamos para a rua com a energia necessária para ganhar a eleição — disse.
No palanque que oficializou a candidatura do PSDB, com o empresário João Doria, o impeachment e a corrupção na Petrobras inspiraram discursos. O governador Geraldo Alckmin, padrinho político de Doria, acusou o PT de ter “saqueado” o país.
— Treze anos do lulopetismo levaram o país a ser saqueado, período difícil do qual se busca virar a página. O PT quer vencer a eleição para se redimir. O João quer vencer para resolver os problemas do povo — afirmou.
Doria usou a expressão “maldito” ao se referir ao PT, e seu vice, Bruno Covas, defendeu o “enterro” da sigla.
— O partido do Lula e da Dilma entregou um legado aos brasileiros de 12 milhões de desempregados. Muitos passam fome e necessidade aguda por causa de um legado maldito do PT — disse Doria.
Antevendo as críticas, o expresidente Luiz Inácio Lula da Silva, que acompanhou Haddad na convenção, orientou candidatos e militância a não aceitarem o rótulo de “ladrão”:
— Não pode aceitar desaforo. Não pode aceitar ser chamado de ladrão. Ladrão, eles sabem quem é.
Outra candidatura formalizada ontem foi a da deputada Luiza Erundina (PSOL), que também explorou os recentes episódios da política nacional.
— Temos que fazer uma campanha pedagógica, para ensinar política e resistir ao golpe e aos retrocessos. Eu não ficarei no gabinete, vou andar por toda a cidade.
Russomano e o STF
O deputado Celso Russomanno (PRB) foi o único dos candidatos a prefeito de São Paulo homologados ontem a fugir da nacionalização do debate eleitoral. A preocupação no PRB é com a ação penal contra o deputado no Supremo Tribunal Federal por peculato. Se condenado, ele ficará impedido de disputar a eleição, ao se tornar ficha-suja.
— Assim como o meu, existem outros 116 casos análogos, e todos foram aprovados — disse Russomanno.
Como sinal dos novos tempos da política com a limitação de recursos por causa da proibição da doações de empresas, tanto o PT como o PSDB realizaram eventos simples e com pouca estrutura para lançar seus candidatos, algo muito diferente do que vinha acontecendo nas últimas eleições.
Na convenção tucana, uma outra preocupação rondou o evento: a falta de unidade do partido em torno de Doria. Sem lideranças importantes do PSDB na festa, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, foram diversos os apelos pela união. Um deles veio do presidente nacional do PSDB, Aécio Neves.
— As disputas existem e fazem bem à democracia. Mas agora é hora da unidade — afirmou o líder nacional tucano, em um vídeo gravado para a convenção, já que ele está em viagem a Portugal.
A legenda está dividida desde a prévia. Fernando Henrique, o ministro José Serra e outros tucanos apoiaram o vereador Andrea Matarazzo para candidato. Derrotado, este deixou o partido e se filiou ao PSD.
De olho em 2018
Pré-candidatos a presidente em 2018 marcaram presença nos eventos do PT e do PSDB. Lula e Ciro Gomes (PDT) foram ovacionados. O governador Alckmin foi recebido com gritos de “presidente do Brasil”.
Já Dilma Rousseff não compareceu à convenção do PT, mas enviou um carta em que dizia que o “Brasil golpista e o Brasil democrático estarão duelando na eleição em São Paulo”.
Questionado se terá Dima em seu palanque, Haddad respondeu que a participação dependerá dela e que “não se pode constranger um presidente a fazer ou não campanha”. E Lula afirmou que a eleição será a mais difícil do PT na cidade e se colocou à disposição.
Doria, por sua vez, disse que espera a participação de Fernando Henrique. O tucano ilustre mais mencionado ontem, porém, foi o ex-governador Mario Covas, que morreu em 2001.
Pesquisa Datafolha aponta Russomanno na liderança, com 25%, seguido por Marta (16%), Erundina (10%), Haddad (8%), Doria (6%) e Matarazzo (4%).
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