- Folha de S. Paulo
Cientistas políticos ligam onda de populismo a uma insatisfação popular com as elites
Cientistas políticos vêm associando a onda de populismo que varre algumas democracias estabelecidas a uma espécie de revolta da população contra a arrogância de elites políticas, econômicas e culturais, que sempre exerceram posições de mando na democracia.
Fenômenos como o Brexit, Trump e até Bolsonaro seriam a reação a um establishment que cessou de dar aos eleitores o que eles exigem. É um populismo que tende à direita, tem fortes traços de anti-intelectualismo e pendor por uma retórica mais efusiva, para não dizer violenta.
Razões para as pessoas se sentirem insatisfeitas é o que não falta. Elas vão da má distribuição de renda à corrupção, passando pela imigração e o desemprego. Cada país terá o seu próprio blend de tendências globais e elementos locais. Cobrar mais dos administradores, mandando-os para casa quando a gestão deixa a desejar, é algo que está inscrito no DNA da democracia.
É preciso cuidado, porém, para não jogar fora a criança com a água do banho. Em primeiro lugar, não dá para dizer que o sistema não tenha entregado nada, pelo menos não quando se considera o horizonte das décadas e séculos. A feliz conjunção da revolução tecnológica com governos democráticos proporcionou à humanidade uma era de prosperidade e segurança como nunca se viu na história.
Nos últimos dois séculos, nas contas de Deirdre McCloskey, o habitante médio do planeta viu sua riqueza multiplicar-se por dez, chegando a 30 nos países desenvolvidos —isto é, nas democracias mais maduras. Também experimentamos quedas brutais nos índices de violência e de mortalidade infantil.
Cientistas políticos ainda não sabem bem por que as democracias funcionam —não é pela sabedoria dos eleitores—, mas desconfiam de que as liberdades intrínsecas ao sistema tenham algo a ver com isso. É uma boa razão para não as entregarmos ao primeiro populista autoritário que aparece nas urnas.
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