- Folha de S. Paulo
É preciso monitorar de perto os pacientes para reduzir a mortalidade na rede pública
A Covid-19 funciona em muitas situações como uma enzima, acelerando processos que já estão em curso. Isso é particularmente notável na economia (aumento da desigualdade), mas também na política (governos autoritários acumularam superpoderes) e até no comportamento (expansão do home office).
A saúde não é exceção. Um bom exemplo disso está no levantamento feito pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira, que revela que a mortalidade de pacientes de Covid-19 em UTIs públicas é quase o dobro da das privadas (38,4% contra 19,5%). Os dados foram obtidos de 16.399 pacientes de Covid-19 que passaram por UTIs de março a maio.
A principal explicação para a diferença é que os pacientes da rede pública já chegaram às UTIs em pior estado. Numa das escalas que mede a gravidade, a Sofa, usuários do sistema público apresentaram um índice que é quase o dobro do dos serviços privados. E isso apesar de a taxa de comorbidades dos dois grupos ser a mesma e de a concentração de idosos ser maior nos hospitais privados.
Uma possibilidade é que a superlotação tenha retardado a ida dos pacientes da rede pública para a UTI. Isso pode ter acontecido em alguns casos, mas não parece ser o panorama geral, já que a média de ocupação das UTIs não excedeu muito os 75% em nenhum dos dois sistemas.
Também é interessante notar que a diferença na mortalidade foi bem menor entre os pacientes ventilados (70,5% contra 63,6%) do que entre os que precisaram de UTI, mas não de suporte respiratório mecânico.
Disso tudo, parece lícito concluir que a melhor maneira para reduzir a mortalidade na rede pública é monitorar de perto os pacientes, internados ou não, para levá-los à UTI ao primeiro sinal de agravamento e postergar ao máximo a intubação, investindo em pronação e fisioterapia. O maior quadro de equipes multiprofissionais é um dos traços que distingue a rede privada da pública.
Nenhum comentário:
Postar um comentário