O Estado de S. Paulo
Ex-réu, é presidente onipotente de uma Câmara com lideranças murchas
De repente se descobriu Lira. De novo
descoberto. De repente, de novo. De repente de novo. Dilapidador do processo
legislativo desde 21, solapador da democracia representativa, presidente da
Câmara cujos métodos para destruir os tempos da atividade parlamentar foram
admitidos, muitas vezes aplaudidos, ao operar por agenda de interesse do
governo da reconstrução.
O amor e a esperança voltaram; não os mecanismos de obstrução por meio dos quais as oposições freavam imposições. Obra de Lira. A política voltou, marginalizadas as comissões técnicas e a representação partidária proporcional. A democracia venceu. Com Lira. O sistema de votação remota instrumentalizado para ministrar esvaziamentos episódicos do plenário, com o que controla-cassa os debates.
Se o arreganho formal vai pela causa
considerada virtuosa, beleza. E então o escândalo, oh!, quando a manipulação de
urgências vem tratorando por projeto infame.
Tentou blitz pelo PL das Fake News. Raros
entre os ora ofendidos acharam ruim a disfunção estrutural produzida pelo
regime de pressas-conveniências de Lira. Era por razão nobre. Né?
A tramitação da PEC da Transição – derrama de
R$ 150 bilhões para que o governo de nossos salvadores pudesse nos salvar à
larga – atropelou o rito, projeto malocado em outro já avançado. A reforma
tributária aprovada com o texto final desconhecido, contrabandos metidos no
conjunto enquanto o plenário já o debatia. Era por bons motivos.
“Insanidade” é que se tenha tratado Lira como
democrata e interlocutor por programa reformista liberal. O senhor da
constituição imperial do orçamento secreto. Que o blinda. Que continua,
ministro Dino. Nas barbas do Supremo. O blindado sendo primeiro-ministro dum
parlamentarismo orçamentário sem responsabilidades pela conta que pendura.
A Corte contribui para a blindagem. Ou, a
respeito das traficâncias com kits de robótica, não teremos investigação para a
qual o STF declarou, na prática, inexistir foro? O troço não pode ser apurado,
nem embaixo nem em cima, provas ao lixo – e tranca. Estímulo que abre veredas.
(Nada a ver com o hospital de Maceió.)
Houve também o episódio da desdenúncia. Por
unanimidade. Lira desdenunciado no caso do assessor interceptado com grana no
aeroporto. O tribunal que aceitara a acusação de súbito voltando atrás.
Ex-réu. E presidente onipotente de uma Câmara
com lideranças murchas, pervertidas em donatários de emendas. Presidente
reeleito – isto é perturbador – por “frente ampla” que uniu, menos de mês
depois do 8 de janeiro de 23, bolsonaristas e petistas. Uma República saudável.
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