terça-feira, 18 de junho de 2024

Lula ataca Banco Central e critica isenções em entrevista à rádio CBN

Por Jenifferr Gularte e Bernardo Lima /O Globo

Na véspera da reunião do Copom que deve interromper a queda de juros, presidente afirma que Campos Neto 'trabalha muito mais para prejudicar o país do que ajudar' e o compara a Sérgio Moro

Na véspera da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) para decidir a nova Taxa Selic, e num momento em que analistas do mercado preveem que os juros vão parar de cair, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva atacou nesta terça-feira o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. A reunião para definir a Selic começa nesta terça-feira. A taxa atual está em 10,5% e, se for mantida, vai interromper uma sequência de redução nos juros iniciada em agosto de 2023 .

Lula afirmou que o comportamento da instituição é a única coisa "desajustada" na economia do país. E comparou Campos Neto ao ex-juiz e hoje senador Sergio Moro (União-PR), que foi o responsável por condená-lo na Lava-Jato. Segundo o petista, Campos Neto tem "lado político" e não demonstra "capacidade de autonomia".

— Nós só temos uma coisa desajustada no Brasil nesse instante, é o comportamento do Banco Central, essa é uma coisa desajustada. Um presidente do BC que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político e que na minha opinião trabalha muito mais para prejudicar o país do que ajudar, porque não tem explicação a taxa de juros do jeito que está — afirmou o presidente em entrevista à CBN.

O presidente ainda criticou reunião de Campos Neto como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), aliado de Jair Bolsonaro cotado para concorrer à Presidência em 2026:

— O que é importante saber é a quem esse rapaz é submetido. Como que ele vai para uma festa de São Paulo quase que assumindo um cargo no governo de São Paulo. Cadê a autonomia dele? Então veja eu trato com muita seriedade, muita seriedade, vou escolher um presidente do BC que seja uma pessoa que tenha compromisso com o desenvolvimento desse país, controle da inflação, mas que também tenha na cabeça que a gente não tem que pensar só no controle da inflação, nós temos que pensar em uma meta de crescimento, porque é o crescimento econômico, da massa salarial que vai permitir a gente controlar a inflação.

O presidente ainda criticou reunião de Campos Neto como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), aliado de Jair Bolsonaro cotado para concorrer à Presidência em 2026. Na ocasião, segundo o jornal Folha de S.Paulo, o presidente do BC disse que aceitaria ser ministro da Fazenda em um eventual governo de Freitas.

— Não é que ele encontrou com o Tarcísio em uma festa. A festa foi para ele, foi uma homenagem que o governo de São Paulo fez para ele, certamente porque o governador de São Paulo está achando maravilhoso a taxa de juros de 10,50%. Deve estar achando maravilhoso. Então, quando ele se auto lança para um cargo, eu fico imaginando, a gente vai repetir um Moro? O presidente do BC está disposto a fazer o mesmo papel que o Moro fez? Um paladino da Justiça, com rabo preso a compromissos políticos? Então o presidente do BC precisa ser uma figura séria, responsável e ele tem que ser imune aos nervosismos momentâneos do mercado.

Perguntado sobre a possibilidade de rever gastos do governo para equilibrar as contas pública, o petista disse "estar disposto" a discutir o orçamento do ano que vem.

— Estou disposto a discutir o orçamento com a maior seriedade com a Câmara, com o Senado, com a imprensa, com os empresários, com os banqueiros, mas para que a gente faça com o povo mais humilde e trabalhador não seja prejudicado como em alguns momentos da história foi — afirmou Lula em entrevista Rádio CBN.

A fala ocorre um depois do presidente reunir a equipe econômica no Palácio do Planalto para iniciar a discussão sobre revisão de gastos do governo.

— Estamos fazendo um estudo muito sério sobre o orçamento. Não gosto de gastar aquilo que eu não tenho — afirmou Lula. — A equipe econômica tem que me apresentar as necessidades de corte. Ontem quando eu vi a demonstração da (ministra do Planejamento, Simone Tebet), disse para ela que fiquei perplexo. A gente discutindo corte de R$ 10 bilhões, R$ 15 bilhões aqui e de repente você descobre que que tem R$ 546 bilhões de benefício fiscal para os ricos nesse país, como é que é possível? Você pega, por exemplo, a Confederação da Agricultura, que tem uma isenção de quase R$ 60 bilhões, pega setor de combustível que tem insenção de quase R$ 32 bilhões, ou seja, você vai tentar jogar isso em cima de quem? Do aposentado? Do pescador? Da dona de casa? Da empregada doméstica? Então quero discutir com seriedade.

O governo vem sendo pressionado a promover um equilíbrio nas contas públicas por meio da revisão de despesas, e não apenas com aumento de arrecadação. No sábado, Lula afirmou que irá discutir uma revisão de gastos do governo, mas ponderou que não irá fazer ajuste fiscal "em cima dos pobres".

— Se o Haddad tiver uma proposta, ele vai me procurar essa semana e vai discutir economia comigo — afirmou — A gente não vai fazer ajuste em cima dos pobres.

A discussão ocorre em após um forte revés para o governo no Congresso. Na última quarta, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) devolveu ao Executivo uma Medida Provisória que limitava o crédito de PIS/Cofins para empresas após reação negativa entre parlamentares e empresários. Foi a primeira vez no atual mandato do presidente Lula que o Legislativo rejeitou uma medida provisória, num recado de que o Congresso não aceitará novas medidas de arrecadação que mexam nos tributos.

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