Mariana Carneiro / O Estado de S. Paulo
Para governador do ES, agenda de esquerda não serve ao presidente neste momento
“Lula não precisa de uma agenda de esquerda.
O presidente tem que ir conduzindo no dia a dia, focando na agenda econômica e
nas necessidades do governo”
Governador do Espírito Santo pela terceira
vez, Renato Casagrande (PSB) defende que os políticos de esquerda devem buscar
o ajuste fiscal como forma de obter “resultados efetivos” na administração
pública.
O tema é espinhoso para partidos como o dele
e para o PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, hoje às voltas com
cobranças para entregar um maior equilíbrio nas contas do governo.
Em entrevista ao Estadão,o governador, diz que Lula deve apostar no ajuste como forma de reconquistar aliados que já estiveram no lado dele contra adversários à direita.
A seguir, os principais trechos:
Economistas que declararam apoio a Lula
apontam críticas e decepções com a condução da política fiscal do governo. O
presidente Lula perdeu apoio desses eleitores?
O presidente está dialogando com um Congresso
de perfil muito mais conservador, então, há um choque permanente. Outra questão
que é importante registrar é o debate ideológico, que é muito superficial, sem
entrar em conteúdo. Lula não conquista e não consegue as vitórias que desejava
para avançar, por exemplo, em medidas para ampliar receitas ou reduzir
despesas, e as metas estabelecidas pelo Ministério da Fazenda têm dificuldades
no Congresso Nacional.
Mas existe uma crise de confiança.
A impressão que passa do governo é que em
alguns momentos não tem uma preocupação com a busca do equilíbrio fiscal. O
ministro (Fernando) Haddad está focado nisso, mas frequentemente há especulação
de que existe uma disputa no governo entre quem quer gastar mais e quem não
quer gastar.
Essa divisão no governo pode indicar um
isolamento do ministro Haddad na agenda fiscal?
Acredito que não. O presidente Lula tem
avalizado e estado quase todas as vezes com o ministro Haddad.
Existe a leitura que os políticos de esquerda
não concordam com a agenda de ajuste fiscal. Dá voto defender responsabilidade
fiscal?
Quando fui governador pela primeira vez, de
2011 a 2014, nós levamos o Estado a ser nota A na gestão fiscal. Hoje, temos
capacidade de investimento diferenciada. Enquanto o Brasil investe 7% da sua
receita corrente em infraestrutura, eu invisto 20%. São resultados objetivos,
efetivos. A partir da hora que você conquista esse equilíbrio, você transforma
isso em resultado político. Os partidos progressistas precisam enfrentar esse
debate, não pode ser essa a marca dos partidos de esquerda.
O senhor vê chances de o governo Lula
abandonar de vez a agenda do ajuste fiscal?
Nenhuma chance. A sociedade brasileira neste
momento é mais conservadora. O presidente é respeitado no campo da
centro-esquerda. Nós sabemos que ele precisa buscar alianças em grupos que não
têm simpatia pelo trabalho desenvolvido pela liderança dele. O que eu espero
que ele faça é que ele busque politicamente estabelecer pontes de contatos com
segmentos que hoje têm menos identidade com a sua atuação.
Como?
Criando canais de diálogo. Está claro, por
exemplo, que é preciso estabelecer contatos e criar políticas públicas para o
mundo cristão evangélico, para o mundo do agronegócio.
Na área de segurança pública, o governo pode
ser mais audacioso e demonstrar mais ação e preocupação. São setores e áreas
temáticas em que o governo precisa ampliar a sua atuação para ganhar apoio na
sociedade e diminuir as suas dificuldades no Congresso.
Se o governo não fizer isso fica arriscada
uma eventual reeleição em 2026?
Está cedo ainda para falar da eleição de
2026, mas a de 2022 já foi muito disputada. Foi uma eleição empatada
praticamente, da qual saiu um Congresso conservador. E tudo aponta que o
próximo Congresso eleito em 2026 também será conservador.
O senhor fez uma projeção de ampliação dos
partidos conservadores.
Para o Parlamento. Pelo tamanho dos partidos
e pelo resultado dos partidos, a tendência é a gente continuar com um Congresso
mais conservador. Na eleição municipal também.
Isso pode suscitar uma reforma ministerial
por parte do presidente Lula?
O presidente já abriu espaço para os partidos
conservadores. União Brasil, PP, MDB já fazem parte do governo. É uma
necessidade desses partidos estarem alinhados com o governo e do governo buscar
um ajuste de posição para que os partidos de fato tenham resultado efetivo nas
votações do Congresso.
Neste cenário no Congresso, é possível ao
presidente impor a sua agenda?
Lula não precisa de uma agenda de esquerda. Tributação de grandes fortunas? Poderia ser um tema, mas não vai entrar. O presidente tem que ir conduzindo no dia a dia, focando na agenda econômica e nas necessidades do governo. Não tem que levar para o Congresso debate que fortaleça posições ideológicas. Agora é a necessidade do pragmatismo do ato de governar.
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