O Globo
Forças que conduziram a redemocratização não
fizeram um exame profundo dos seus erros
Para além das questões cotidianas, de vez em
quando me pergunto onde estamos e para onde vamos. E aproveito grande parte do
tempo livre para ler sobre o assunto. No momento, leio Peter Turchin, que
escreveu um livro chamado “Fim dos tempos: elites, contraelites e o caminho da
desintegração política”.
Ufa, só o título já consome parte da energia
do leitor. Ele trabalha com uma equipe investigando inúmeros exemplos de
História universal, dinastias chinesas, França medieval, tudo isso com o
objetivo de explicar a polarização americana e a emergência de Donald Trump.
Turchin e sua equipe usam fórmulas matemáticas, poderosos computadores, mas suas conclusões não impressionam muito meu precário conhecimento empírico. A tese é que o empobrecimento popular é motivo da queda de governos quando está ligado a uma superprodução de elites, estas no sentido econômico, político, cultural, enfim nas suas várias formas. O encontro da insatisfação popular com a frustração de parte da elite que não consegue ascender é a centelha que acende a fogueira.
Preciso ler o livro com mais cuidado, mas, na
minha opinião, Lênin, Tróstki e os intelectuais russos não tinham nenhuma
pretensão de um bom emprego na estrutura do czarismo. Prefiro, momentaneamente,
pois estou ainda estudando os exemplos de Turchin, acreditar, como Isaac
Deutscher, que uma grande insatisfação popular acaba rachando as elites
políticas até de um partido único, tirando-as de sua zona de conforto.
Prometo estudar mais. Meu problema é o
Brasil. Sinto que o período de redemocratização foi relativamente instável, e o
grande sinal do início da decadência foram as manifestações de junho de 2013.
No caso brasileiro, o bolsonarismo acabou se aproveitando da grande crise em
2018, mas acabou mergulhando nela de cabeça. Bolsonaro cooptou Moro, iniciou o
desmantelamento da Lava-Jato, criou o orçamento secreto, e seus aliados hoje
lutam na Câmara para derrubar o instrumento da delação premiada.
A derrota de Bolsonaro poderia pura e
simplesmente continuar o processo revelado em 2013 ou iniciar uma nova fase.
Minha hipótese é que as forças que conduziram a redemocratização não fizeram um
exame profundo de seus erros e substituíram Bolsonaro no poder como se nada
tivesse acontecido.
O noticiário é desolador. E não é só o
esforço para derrubar instrumentos de investigação. Um líder partidário foge da
polícia porque desviou R$ 36 milhões de dinheiro público; o ministro das
Comunicações é acusado de participar de uma quadrilha; um leilão de compra de
arroz acaba num escândalo com uma modesta loja de queijos de Macapá indicada
para importar R$ 736 milhões do cereal.
Todos esses fatos acontecem, e deputados se
enfrentam aos gritos e empurrões discutindo o problema das rachadinhas. O que
levou a 2013 tinha muito de frustração com o fato de a população pagar muito
imposto e receber serviços precários de volta.
O que os políticos tramam no intervalo são
projetos cabulosos, como o que ameaça as praias e o que agora determina que a
menina violentada terá pena maior que o estuprador se fizer um aborto.
Os caminhos da desintegração estão
desenhados. Há clareiras, como as políticas sociais que ainda confortam os mais
pobres, mas a própria classe média pode se rebelar.
Vejo certo consenso nas forças políticas
quando se trata de enfraquecer o combate à corrupção. E um estranho consenso em
torno de projetos conservadores. Como estão em minoria, os progressistas se
escondem na hora da votação.
Nas corridas de cavalo, quando um corredor se
distancia, costumamos dizer: de trás não vem ninguém. No momento, podemos
dizer: nas elites políticas, não há quase ninguém. Minha hipótese é que estamos
nesse ponto. No momento, não tenho nenhuma ideia de para onde vamos.
7 comentários:
Hmmmmm...
Não sabia que arroz é cereal.
😊
"Não sabia que arroz é cereal."
Pensou que era legume?
MAM
Pois digo desde junho de 2013: vamos pro pau! Pra Guerra Civil...
MAM
Pensei que era a sua mãe.
Primeiro artigo meio confuso que leio de Gabeira.
A palavra cereal tem sua origem na deusa romana do grão, Ceres. Os principais cereais são trigo, milho, arroz, centeio, cevada, aveia, triticale, milhetos (várias espécies parecidas, importantes na África e Ásia) e sorgo. Todos são gramíneas com um tipo especial de fruto, o cariopse, um grão de tamanho e forma variável, mas sempre rico em carboidratos e com uma única semente no seu interior, unida à parede (pericarpo) do fruto.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Cereal
Perfeito.
👍🏿👍🏿👍🏿
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