O Estado de S. Paulo
Apesar dos avanços já alcançados, a inclusão
financeira ainda é frágil e incompleta no País
O recente relatório Brazil’s Journey Toward
Financial Inclusion – Midterm Report, do Centro de Estudos de Microfinanças e
Inclusão Financeira da FGV, oferece um retrato relevante dos progressos e
desafios que o Brasil enfrenta para ampliar o acesso de sua população ao
sistema financeiro formal. Além dos dados, ele evidencia avanços sociais cuja
extensão nem sempre é visível no debate público.
Um dos avanços mais significativos está no acesso digital. O uso de contas digitais e plataformas como o Pix cresceu rapidamente, especialmente durante e após a pandemia, promovendo a bancarização de milhões. O relatório mostra que, com o apoio de diversas políticas públicas, o Brasil avançou na integração de pessoas ao sistema financeiro, por meio de contas bancárias, poupança, crédito, seguros e outros pilares da vida econômica moderna. Como reconhecem os autores: “Muitos brasileiros, especialmente os pobres, estão há muito tempo excluídos desse sistema. Mas isso começou a mudar”.
Dados do Relatório de Cidadania Financeira do
Banco Central (citados no estudo) apontam que, entre os 40% mais pobres da
população, a titularidade de conta corrente subiu de 57% em 2014 para 82% em
2021. No mesmo período, o uso de cartão de crédito aumentou de 44% para 66% e os
pagamentos digitais saltaram de 51% para 72%. A expansão foi impulsionada por
políticas inovadoras, como os bancos correspondentes, o Bolsa Família, o Pix, o
Open Finance, além do crescimento das fintechs e da digitalização dos bancos
tradicionais.
A pesquisa foca em como governo e setor privado têm atuado para incluir financeiramente famílias de baixa renda. Mas o relatório não fecha os olhos para os riscos dessa trajetória. A inclusão acelerada também trouxe efeitos colaterais, como o endividamento excessivo entre recém-incluídos. Ter uma conta não significa, necessariamente, estar financeiramente incluído. Milhões permanecem “subbancarizados”: possuem conta, mas não utilizam plenamente serviços como crédito, seguros ou investimentos. Grupos com menor escolaridade, renda informal ou moradores de regiões remotas ainda enfrentam barreiras estruturais e comportamentais. O uso do sistema financeiro continua desigual. Há uma segmentação clara por gênero, idade e região. Mulheres e jovens, por exemplo, têm menos acesso ao crédito.
O Brasil avançou significativamente no acesso
à inclusão financeira nos últimos dez anos, especialmente para as populações de
baixa renda – mas a inclusão ainda é frágil e incompleta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário