Folha de S. Paulo
A hora é de valorizar o câmbio
O silêncio do presidente Lula sobre a
elevação dos juros para 15%, o maior patamar em quase duas décadas, preserva o
presidente do Banco Central,
Gabriel Galipolo, de ataques mais virulentos do PT e da
esquerda.
Lula tem dado seguidas demonstrações de confiança no seu indicado para a presidência do BC e certamente Galípolo tem usado essa proximidade que conquistou na tentativa de explicar os movimentos do Copom de subida dos juros.
Qual a chance de Lula não estar sendo pautado nessas conversas? Baixíssima. O presidente do BC se transformou num conselheiro de Lula e de outros políticos de Brasília sobre temas econômicos, que vão além dos juros, como foi visto após a repercussão do decreto de alta do IOF.
Poucos se surpreenderam quando Galípolo
chegou ao lado de Lula num churrasco na casa do presidente Hugo Motta (Câmara),
no fim de semana seguinte à publicação do decreto em meio a um confronto aberto
com o ministro Fernando
Haddad (Fazenda).
Lula deu moral para Galípolo, mas também
conta com o início da queda em 2026, quando quer ir para disputa eleitoral num
ambiente mais favorável.
Com Lula em silêncio, a antes ácida
ministra Gleisi
Hoffmann (Casa Civil) chamou de incompreensível a alta de juros, mas resguardou Galípolo.
A ideia colocada pelo governo de que Roberto
Campos Neto deixou uma armadilha de alta de juros para Galípolo não se
sustenta, após duas altas além do que foi sinalizado em dezembro quando era
presidente do BC.
O cálculo também é político para Lula. Não
tinha alternativa. A inflação mordeu
a popularidade, a hora é de valorizar o real. A queda dos juros pode acontecer
se o dólar cair um pouco mais.
A população está mais preocupada com a
inflação do que com os juros. Governo e Congresso podem ajudar diminuindo a
temperatura da guerra política e acordando as medidas fiscais. Chega de jogo de
empurra.
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