sábado, 21 de junho de 2025

O silêncio de Lula - Adriana Fernandes

Folha de S. Paulo

A hora é de valorizar o câmbio

O silêncio do presidente Lula sobre a elevação dos juros para 15%, o maior patamar em quase duas décadas, preserva o presidente do Banco Central, Gabriel Galipolo, de ataques mais virulentos do PT e da esquerda.

Lula tem dado seguidas demonstrações de confiança no seu indicado para a presidência do BC e certamente Galípolo tem usado essa proximidade que conquistou na tentativa de explicar os movimentos do Copom de subida dos juros.

Qual a chance de Lula não estar sendo pautado nessas conversas? Baixíssima. O presidente do BC se transformou num conselheiro de Lula e de outros políticos de Brasília sobre temas econômicos, que vão além dos juros, como foi visto após a repercussão do decreto de alta do IOF.

Poucos se surpreenderam quando Galípolo chegou ao lado de Lula num churrasco na casa do presidente Hugo Motta (Câmara), no fim de semana seguinte à publicação do decreto em meio a um confronto aberto com o ministro Fernando Haddad (Fazenda).

Lula deu moral para Galípolo, mas também conta com o início da queda em 2026, quando quer ir para disputa eleitoral num ambiente mais favorável.

Com Lula em silêncio, a antes ácida ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) chamou de incompreensível a alta de juros, mas resguardou Galípolo.

A ideia colocada pelo governo de que Roberto Campos Neto deixou uma armadilha de alta de juros para Galípolo não se sustenta, após duas altas além do que foi sinalizado em dezembro quando era presidente do BC.

O cálculo também é político para Lula. Não tinha alternativa. A inflação mordeu a popularidade, a hora é de valorizar o real. A queda dos juros pode acontecer se o dólar cair um pouco mais.

A população está mais preocupada com a inflação do que com os juros. Governo e Congresso podem ajudar diminuindo a temperatura da guerra política e acordando as medidas fiscais. Chega de jogo de empurra.

 

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