sábado, 21 de junho de 2025

Viajandão em Israel - Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Retornados de Israel, prefeitos não sabem explicar motivo da missão nem de onde saiu o dinheiro

As autoridades que viajaram a Israel e foram surpreendidas pelo conflito com o Irã estão voltando ao Brasil. A julgar pelo que contam, parece terem vivido uma odisseia mais perigosa que a de Ulisses.

Se o herói grego no seu retorno para casa teve de enfrentar o ciclope Polifemo e a feiticeira Circe e resistir ao canto das sereias, eles relatam o confinamento em bunkers, os explosivos e mísseis voando sobre suas cabeças, a travessia demorada por terra até a Jordânia e a Arábia Saudita em busca de rotas alternativas de voo. "Glória a Deus", agradecem em suas redes.

Os mais de 40 prefeitos, vice-prefeitos e secretários só não informam direito o que foram fazer lá, e de onde saiu o dinheiro para a viagem. Será que ninguém lhes disse —um porteiro de prédio, um motorista de táxi, um grilo falante— que Israel é um país sob tensão permanente? Que, em resposta aos ataques terroristas do Hamas em outubro de 2023, iniciou um massacre em Gaza, que até o momento tirou a vida de milhares de palestinos, a maioria mulheres e crianças?

Parte da comitiva de políticos saiu do Brasil em 8 de junho. A justificativa era participar de uma feira de segurança, cuja abertura estava prevista para ocorrer apenas no dia 16. A operação de propaganda, lobby e venda de tecnologia de vigilância acabou frustrada pelos ataques contra o Irã ordenados pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Quem pagou a viagem foi a Mashav, agência israelense de cooperação internacional.

Entre os retornados, além das acusações ao Itamaraty por falta de ajuda, há duas certezas: a missão teve caráter técnico e nenhuma conotação ideológica. Poderiam bolar uma desculpa mais crível —a de que são vítimas do desejo incontrolável de viajar sem mexer no bolso.

Estão em boa companhia: 60 deputados confirmaram presença no Fórum Jurídico de Lisboa, nome oficial do "Gilmarpalooza", a realizar-se no início de julho, durante dias úteis. O STF e o Congresso vivem às turras no Brasil, mas em Portugal dividem o pastel de nata e a ginjinha.

 

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