Folha de S. Paulo
Retornados de Israel, prefeitos não sabem
explicar motivo da missão nem de onde saiu o dinheiro
As autoridades que viajaram a Israel e
foram surpreendidas pelo conflito com o Irã estão
voltando ao Brasil. A julgar pelo que contam, parece terem vivido uma odisseia
mais perigosa que a de Ulisses.
Se o herói grego no seu retorno para casa teve de enfrentar o ciclope Polifemo
e a feiticeira Circe e resistir ao canto das sereias, eles relatam o confinamento em bunkers, os explosivos e mísseis voando
sobre suas cabeças, a travessia demorada por terra até a Jordânia e a Arábia
Saudita em busca de rotas alternativas de voo. "Glória a Deus",
agradecem em suas redes.
Os mais de 40 prefeitos, vice-prefeitos e secretários só
não informam direito o que foram fazer lá, e de onde saiu o dinheiro para a viagem. Será que ninguém lhes disse —um
porteiro de prédio, um motorista de táxi, um grilo falante— que Israel é um
país sob tensão permanente? Que, em resposta aos ataques terroristas do Hamas em outubro de 2023, iniciou um massacre em Gaza, que até o momento tirou a vida de milhares de
palestinos, a maioria mulheres e crianças?
Parte da comitiva de políticos saiu do Brasil em 8 de junho. A justificativa
era participar de uma feira de segurança, cuja abertura estava prevista para
ocorrer apenas no dia 16. A operação de propaganda, lobby e venda de tecnologia
de vigilância acabou frustrada pelos ataques contra o Irã ordenados pelo
primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Quem pagou a viagem foi a Mashav,
agência israelense de cooperação internacional.
Entre os retornados, além das acusações
ao Itamaraty por
falta de ajuda, há duas certezas: a missão teve caráter técnico e nenhuma conotação ideológica.
Poderiam bolar uma desculpa mais crível —a de que são vítimas do desejo
incontrolável de viajar sem mexer no bolso.
Estão em boa companhia: 60 deputados confirmaram presença no Fórum Jurídico de
Lisboa, nome oficial do "Gilmarpalooza", a realizar-se no início de
julho, durante dias úteis. O STF e o Congresso vivem às turras no Brasil, mas
em Portugal dividem o pastel de nata e a ginjinha.
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