quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Um julgamento que antecipa 2026, por Vera Rosa

O Estado de S. Paulo

Lula tenta empurrar desgaste de Bolsonaro para Tarcísio e Centrão barganha anistia

Qualquer estrangeiro que desembarcasse em Brasília ontem – mesmo sem carregar a sirene do apocalipse de Donald Trump – teria certeza de que estamos em um ano eleitoral. Não estaria de todo errado: embora no calendário gregoriano ainda faltem 13 meses para a disputa que vai definir o novo inquilino do Palácio do Planalto, o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF) antecipou essa corrida.

No Congresso, o PP e o União Brasil – dois partidos do Centrão – articulam a candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, à sucessão do presidente Lula e, no embalo do julgamento, anunciaram que seus ministros devem entregar os cargos em 30 dias.

Tarcísio, por sinal, desembarcou em Brasília para tentar convencer o presidente da Câmara, Hugo Motta, a tirar da gaveta o projeto de anistia que beneficia Bolsonaro. O Centrão promete trabalhar pela aprovação da anistia no Congresso, mas, na barganha, quer que Bolsonaro apoie Tarcísio à Presidência.

Enquanto isso, no Planalto, a estratégia traçada pelo ministro da Secretaria de Comunicação Social, Sidônio Palmeira, é mostrar que o governo tem “mais o que fazer” do que assistir ao julgamento de Bolsonaro e outros sete réus. Trata-se de uma tática na linha “Deixa o homem trabalhar”, slogan que marcou a campanha de Lula ao segundo mandato, em 2006.

Nos bastidores, porém, ministros e parlamentares do PT foram orientados a destacar o plano Punhal Verde e Amarelo sempre que questionados sobre a tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023. Motivo: pesquisas mostram que muitos eleitores ainda veem a ameaça de ruptura da democracia como algo abstrato. Caem na real, no entanto, quando são confrontados com o plano de assassinato de Lula, do vice Geraldo Alckmin e do ministro do STF Alexandre de Moraes.

Com 2026 no horizonte e a condenação de Bolsonaro dada como “favas contadas” pelo mundo político e econômico, a outra estratégia do Planalto é colar Tarcísio ao ex-presidente para desgastá-lo. Expoentes do Centrão tentam sair da armadilha, sob o argumento de que o governador atrai o eleitor de centro, aquele que não quer nem Lula nem Bolsonaro. Não foi à toa que Lula disse que Tarcísio será seu adversário em 2026: jogou o rival na arena contra os filhos de Bolsonaro, sobretudo Eduardo, que briga pelo espólio do pai para concorrer ao Planalto.

E as sanções de Trump? O governo não tem dúvidas de que a pressão aumentará após o veredicto contra Bolsonaro, mas também avalia que pode tirar dividendos eleitorais da queda de braço com os EUA. A primavera política promete. •

 

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