O Estado de S. Paulo
Lula tenta empurrar desgaste de Bolsonaro para Tarcísio e Centrão barganha anistia
Qualquer estrangeiro que desembarcasse em
Brasília ontem – mesmo sem carregar a sirene do apocalipse de Donald Trump –
teria certeza de que estamos em um ano eleitoral. Não estaria de todo errado:
embora no calendário gregoriano ainda faltem 13 meses para a disputa que vai
definir o novo inquilino do Palácio do Planalto, o julgamento do ex-presidente
Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF) antecipou essa corrida.
No Congresso, o PP e o União Brasil – dois partidos do Centrão – articulam a candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, à sucessão do presidente Lula e, no embalo do julgamento, anunciaram que seus ministros devem entregar os cargos em 30 dias.
Tarcísio, por sinal, desembarcou em Brasília
para tentar convencer o presidente da Câmara, Hugo Motta, a tirar da gaveta o
projeto de anistia que beneficia Bolsonaro. O Centrão promete trabalhar pela
aprovação da anistia no Congresso, mas, na barganha, quer que Bolsonaro apoie
Tarcísio à Presidência.
Enquanto isso, no Planalto, a estratégia
traçada pelo ministro da Secretaria de Comunicação Social, Sidônio Palmeira, é
mostrar que o governo tem “mais o que fazer” do que assistir ao julgamento de
Bolsonaro e outros sete réus. Trata-se de uma tática na linha “Deixa o homem
trabalhar”, slogan que marcou a campanha de Lula ao segundo mandato, em 2006.
Nos bastidores, porém, ministros e
parlamentares do PT foram orientados a destacar o plano Punhal Verde e Amarelo
sempre que questionados sobre a tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023.
Motivo: pesquisas mostram que muitos eleitores ainda veem a ameaça de ruptura
da democracia como algo abstrato. Caem na real, no entanto, quando são
confrontados com o plano de assassinato de Lula, do vice Geraldo Alckmin e do
ministro do STF Alexandre de Moraes.
Com 2026 no horizonte e a condenação de
Bolsonaro dada como “favas contadas” pelo mundo político e econômico, a outra
estratégia do Planalto é colar Tarcísio ao ex-presidente para desgastá-lo.
Expoentes do Centrão tentam sair da armadilha, sob o argumento de que o
governador atrai o eleitor de centro, aquele que não quer nem Lula nem Bolsonaro.
Não foi à toa que Lula disse que Tarcísio será seu adversário em 2026: jogou o
rival na arena contra os filhos de Bolsonaro, sobretudo Eduardo, que briga pelo
espólio do pai para concorrer ao Planalto.
E as sanções de Trump? O governo não tem dúvidas
de que a pressão aumentará após o veredicto contra Bolsonaro, mas também avalia
que pode tirar dividendos eleitorais da queda de braço com os EUA. A primavera
política promete. •
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