Folha de S. Paulo
O assunto, economia, vai se tornar ainda mais
político depois da prisão de Jair Bolsonaro
Setor externo evita que segundo trimestre
fique no vermelho
A
economia brasileira cresce a um ritmo menor, desacelera, como deveria ser
previsível, dado o aumento brutal da taxa de juros, entre outros problemas.
Andou mais devagar no segundo trimestre, mas em uma toada compatível com as
previsões de redução de crescimento anual dos 3,4% de 2024 para os 2,3% deste
2025. Nos últimos quatro trimestres, ainda cresceu 3,2%.
O assunto, economia, vai se tornar ainda mais
político depois
da prisão de Jair Bolsonaro. Certamente assim será a partir de dezembro,
com a eleição de 2026 tendo impactos econômicos mais diretos.
Lula 3 tomará alguma providência a fim de evitar desaceleração maior em 2026? Vai exagerar de modo a piorar ainda mais os problemas de 2027? A probabilidade maior ou menor de vitória de uma candidatura de direita, "fiscalista", terá efeito nos ativos financeiros (dólar, juros, ações) e em decisões de investimento produtivo e de contratações. Qual o impacto disso já na economia de 2026 e ainda mais na de 2027? Em 2027, a vida será dura para quem quer que venha a ser eleito.
A
sensação térmica do PIB é menor do que a sua medida mais evidente. A
"demanda doméstica" (consumo privado, do governo e investimento),
tirou pontos do crescimento no segundo trimestre (0,19). Exportações de bens e
serviços fizeram a variação do PIB ficar no
azul (exportações "líquidas": descontadas as importações), com
contribuição de 0,66. Agro, petróleo e ferro, além de alguns serviços, levaram
a economia adiante.
Como já havia se visto na pesquisa mensal
sobre comércio do IBGE de abril a junho, o setor encolhia em relação ao início
do ano. A inadimplência das famílias, mostram as estatísticas do Banco Central,
tem crescido. A confiança dos empresários embicou decisivamente para baixo
neste trimestre, mostram as medições do Ibre da FGV.
Nos números do PIB, diminuiu o investimento
em expansão de capacidade produtiva, assim como o gasto dos governos (todos os
governos, conta que aqui não inclui transferências sociais, como Bolsa Família
etc.). O
consumo privado, "das famílias", cresceu bem menos do que no
primeiro trimestre.
Se o crescimento trimestral for nenhum, zero,
nesta segunda metade do ano, o PIB deste 2025 cresceria uns 2,4%. É um espanto
que o Brasil ainda cresça a esse ritmo, com uma taxa real de juros para um ano
perto de 10% ao ano. É como correr com um saco de cimento nas costas.
No entanto, o efeito das altas taxas de juros
permanecerá mesmo depois que o Banco Central comece a talhar a Selic (em 2026)
e que os juros no atacado do mercado de dinheiro caiam para níveis abaixo
daquele de sufoco. Investimentos terão sido retardados ou até cancelados. O
endividamento excessivo leva tempo para ser atenuado.
De 2022 ao final deste 2025, o PIB (renda)
per capita terá crescido 2,3% ao ano, em média, o melhor quadriênio desde 2013.
Como se observa faz tempo nestas colunas, algo mudou na economia brasileira
durante e depois da epidemia. Quanto ao mundo do trabalho, pode haver menos
desemprego sem que a inflação aumente excessivamente (embora aumente). O setor
de serviços cresce muito mais, aparentemente ficando mais atualizado em termos
tecnológicos. Faltam medidas e estudos melhores para entender essas aparentes
mudanças.
Quanto a outro assunto que importa, o país
continua cronicamente inviável. A taxa de investimento do segundo trimestre foi
de 16,8%, muito abaixo daquelas dos anos entre 2003 e 2014, já insuficientes.
Assim, não vai dar. Assim como não vai dar se não forem feitas mudanças
fundamentais.
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