segunda-feira, 25 de junho de 2018

Almir Pazzianotto Pinto: A cristianização de Geraldo Alckmin

- Diário do Poder

Um dos momentos mais nebulosos da política brasileira ocorreu nas eleições de presidenciais de 3 de outubro 1950, tendo como personagem central e vítima o mineiro Cristiano Machado.

Presidia a República o general Eurico Gaspar Dutra, eleito pelo Partido Social Democrático (PSD) em dezembro de 1945. Concorreria, pela União Democrática Nacional (UDN), o brigadeiro Eduardo Gomes, por ele derrotado naquela ocasião. Confinado em São Borja, Getúlio Vargas aguardava a evolução dos acontecimentos. Em silêncio estimulava o lançamento da sua candidatura pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Sabendo que era a grande liderança popular da política nacional, planejava, como hábil jogador de pôquer, a volta triunfal ao Palácio do Catete.

No dia 15 de junho Ademar de Barros, governador de São Paulo, em comício no Vale do Anhangabaú lançou o nome de Vargas como candidato à presidência pelo Partido Social Progressista (PSP). No dia seguinte o PTB homologou a candidatura do ex-presidente. Veja-se o que relata Hélio Silva, nesse sentido, no livro 1954: Um Tiro no Coração “ (Civilização Brasileira, 1978, pág. 75).

Sob o argumento de que a candidatura de Cristiano Machado resultava de imposição do presidente Dutra, o PSD dividiu-se e parcela considerável do partido abandonou o candidato próprio, escolhido em convenção, para apoiar Getúlio Vargas. No Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro (DHGB), editado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), em parceria com o Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC), lê-se o seguinte: “Nas eleições de 3 de outubro de 1950, a chapa Cristiano Machado-Altino Arantes (PSD-PR) concorreu com as de Eduardo Gomes-Odilon Braga (UDN) e Getúlio Vargas-Café Filho (PTB-PSP), entre os mais importantes. Vargas saiu vitorioso, contando, inclusive, com vários redutos do PSD. O refluxo do setor getulista desse partido em relação à candidatura de Cristiano Machado e a transferência de seus votos a Vargas configuram um processo de esvaziamento eleitoral que ficou conhecido no jargão político como ‘cristianização’”(2ª edição, 2001, vol. III, pág. 3381).

Guardadas as diferenças é o que pressinto ocorrer, dentro do PSDB, com a candidatura do ex-governador paulista Geraldo Alckmin. Em campanha difícil e disputada, o paulista de Pindamonhangaba enfrenta, ao menos aparentemente, aquilo que comentei em artigo anterior (23/5), cujo título é A maldição de Ademar de Barros.

Com dificuldade de subir nas pesquisas de opinião pública, Geraldo Alckmin correria perigo de abandono pelos tucanos, em busca de alguém supostamente mais viável como João Dória, o gestor que deixou a prefeitura de São Paulo com pouco mais de um ano de mandato, para disputar o governo do Estado.

O jornal “O Estado”, cuja idoneidade é conhecida, noticiou na edição de 23 deste mês, na página A10, que “Em jantar, Maia, Temer e Aécio discutem candidatura tucana”. A matéria trata de encontro na residência oficial do presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia, tendo como convidados o presidente Michel Temer e o senador Aécio Neves, onde teria sido examinada a possibilidade da substituição de Alckmin por Dória, em aliança com o MDB e o DEM.

Nada mais surpreende os brasileiros quando o assunto é política. Estará Geraldo Alckmin sendo cristianizado pelo partido? Afinal, como poderá subir nas pesquisas de opinião se os maiores adversários com ele convivem no interior do PSDB?
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Almir Pazzianotto Pinto é advogado. Foi Ministro do Trabalho e presidente do Tribunal Superior do Trabalho.

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