SONHO DE VERÃO
Eliane Cantanhêde
Eliane Cantanhêde
BOGOTÁ - A sensação aqui na Colômbia é que não são apenas as Farc que estão se desmilingüindo. As oposições também.
O senador Gustavo Petro, do Pólo Democrático Alternativo, discorda firmemente. Também, pudera. Aos 48 anos, ele é a estrela oposicionista em ascensão e figura nas pesquisas como um dos presidenciáveis potenciais para 2010. Petro se apoia em um tripé:
1 - Sem Uribe na disputa, os cinco primeiros nomes em intenções de voto eram independentes e do Pólo, dispostos a marchar numa frente democrática e oposicionista onde Ingrid Betancourt, por exemplo, poderia brilhar. Juntos, eles tinham 35% nas pesquisas anteriores à ação espetacular de resgate dos reféns. Perderam circunstancialmente, mas vão se recuperar.
2 - O presidente Álvaro Uribe, duro, de direita e alinhado incondicionalmente a Washington, é resultado direto das Farc. Farc fortes, Uribe forte. Com as Farc em declínio, Uribe perde o discurso e, ao longo do tempo, pode perder até mesmo o sentido. Além de correr o risco de ficar sem os bilhões de dólares norte-americanos.
3 - Sem o foco único do combate à guerrilha, que domina tudo e todos, o povo vai naturalmente voltar a cobrar o que todo povo cobra, em especial aqui na América Latina: mais empregos e menos custo de vida.
Aparentemente, está acontecendo o contrário.
Por enquanto, são sonhos de verão de uma oposição acuada e que não sabe para onde correr. O fato concreto na política colombiana hoje é que Uribe está com a faca e o queijo na mão para mudar a Constituição mais uma vez e disputar o terceiro mandato. Na pesquisa Gallup de ontem, sua popularidade bateu em 85% -um recorde.
Mas não custa repetir que, em política, mais ainda do que em todo o resto, nunca se sabe o dia de amanhã. Muita água ainda pode rolar até as eleições de 2010. E espera-se que só água, não tiros.
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