Gilberto Scofield Jr.
Correspondente
DEU EM O GLOBO
Correspondente
DEU EM O GLOBO
América Latina receberá US$ 90 bilhões de organismos multilaterais de crédito
WASHINGTON, LONDRES e TÓQUIO. O Fundo Monetário Internacional (FMI) informou ontem que a crise econômica mundial vai afetar mais profundamente as economias, reduzindo o crescimento e fazendo o Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos em um país) global encolher 1,3% — o mesmo percentual de retração previsto para o Brasil. Em janeiro, o FMI ainda estimava que a economia brasileira cresceria 1,8% este ano. Para 2010, o organismo prevê que o Brasil crescerá 2,2%, contra os 3,5% estimados anteriormente.
A queda da economia mundial será a maior desde a Segunda Guerra Mundial, com a recessão atingindo 75% das economias do planeta, segundo o estudo “Perspectivas para a economia mundial”, divulgado ontem. Os países da América Latina, como um todo, vão encolher 1,5%, afetados, principalmente, pela queda nos preços internacionais das matérias-primas exportadas pela região.
— Este não é um momento de complacência, e a necessidade de políticas fortes, tanto no front macroeconômico quanto no financeiro, nunca foi tão urgente — afirmou o economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard.
— Mas com a aplicação dessas políticas, pode-se enxergar luz no fim desse longo túnel. O crescimento mundial pode se tornar positivo até o fim deste ano, e o desemprego pode recuar até o fim do ano que vem.
Blanchard observou que, apesar de o G-20 (grupo que reúne as principais economias, industrializadas e emergentes) ter adotado medidas positivas em sua reunião, este mês, a confiança nos mercados financeiros ainda é baixa e compromete a recuperação mundial este ano. As economias dos países ricos vão encolher 3,8% este ano, sendo o Japão o mais afetado, com retração de 6,2%. O governo japonês informou ontem ter registrado seu primeiro déficit comercial em 29 anos: 725,3 bilhões de ienes (US$ 7,4 bilhões), no ano fiscal findo em março.
Para o Reino Unido, o FMI prevê retração de 4,1% este ano e de 0,4% em 2010. Ontem, o ministro de Finanças britânico, Alistair Darling, fez uma projeção um pouco menos pessimista, de queda de 3,5% este ano.
Ele também informou que a nova alíquota do Imposto de Renda, para quem ganha mais de 150 mil libras anuais (US$ 217 mil), será de 50% e entrará em vigor em abril. O Reino Unido também registrou déficit público de 90 bilhões de libras (US$ 117 bilhões), o maior no pós-guerra.
Entre os emergentes, segundo o FMI, a pior queda será a da Rússia: 6% em 2009. Nos latinos, será o México, com retração de 3,7%, devido a sua dependência dos EUA.
Já a China, a maior locomotiva mundial hoje depois dos EUA, sofrerá uma desaceleração forte no crescimento, que passará de 9% em 2008 para 6,5% este ano e 7,5% em 2010. Ambos os percentuais estão abaixo do que Pequim considera ideal para evitar conflitos sociais no país: 8%. O Goldman Sachs, no entanto, divulgou ontem um relatório prevendo expansão de 8,3% para a China este ano. Já a Índia crescerá 4,5% este ano e 5,6% em 2010.
Presidente do Bird: é preciso evitar crise social e humana Organismos multilaterais de crédito com projetos para a América Latina vão destinar à região US$ 90 bilhões, nos próximos dois anos, para ajudar os países a enfrentarem a recessão. O anúncio foi feito ontem por Banco Mundial (Bird, que vai destinar US$ 35,6 bilhões), Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID, US$ 29,5 bilhões), Cooperação Andina de Fomento (US$ 20 bilhões), Banco Central Americano para a Integração Econômica (US$ 4,2 bilhões) e Banco de Desenvolvimento do Caribe (US$ 500 milhões).
O presidente do Bird, Robert Zoellick, disse que é preciso “evitar uma crise social e humana” na região.
— A recessão na América Latina ameaça o progresso social do continente e pode reverter o progresso social dos últimos anos — disse Augusto de La Torre, economistachefe para a região do Bird.
Nenhum comentário:
Postar um comentário