DEU EM O GLOBO
Membros da Alba, aliados do governo Zelaya, retiram seus embaixadores e OEA pode decidir hoje a exclusão de país
MANÁGUA. O golpe de Estado ocorrido domingo em Honduras promoveu uma pausa nas diferenças entre os países do continente, que condenaram a ação por unanimidade. Líderes de tendências tão diferentes quanto o venezuelano Hugo Chávez e o americano Barack Obama afirmaram que só reconhecem Manuel Zelaya como o presidente de Honduras, isolando politicamente o novo governo. Expulso do país ainda de pijama, Zelaya foi convidado a participar hoje dos encontros da Organização dos Estados Americanos (OEA), e da ONU.
Zelaya - que havia desacatado a Suprema Corte, o Congresso e as Forças Armadas ao manter ilegalmente uma consulta sobre reforma Constitucional - fora enviado à Costa Rica pelos militares. Ele chegou à Nicarágua, onde 15 chefes de Estado, convocados pelo aliado Hugo Chávez, discutiram o problema.
- Estamos diante de um fato com o qual concordamos independentemente das ideologias. É uma prova dos passos positivos que vem dando a América Latina - disse Chávez.
Em Honduras, Roberto Micheletti, empossado presidente pelo Congresso, disse que a deposição de Zelaya foi uma forma de evitar que o governo se tornasse de esquerda radical.
- Zelaya estava levando o país ao chavismo - disse.
Alba afirma que apoiará rebelião popular
O tom, no entanto, variou de país a país. À reunião dos países do Sistema de Integração Centro-Americana (Sica), juntarem-se os membros da Alternativa Bolivariana das Américas (Alba), que mais tarde se encontraram com o Grupo do Rio. As discussões reuniram do presidente mexicano, Felipe Calderón - que chegou acompanhado pela chanceler hondurenha, Patricia Rodas, que fora expulsa do país - ao cubano Raúl Castro.
Guatemala, El Salvador e Nicarágua decidiram suspender o comércio terrestre com Honduras.
Além de condenar o golpe, os líderes da Alba decidiram retirar seus embaixadores de Honduras - numa medida que deve ser acompanhada pela Sica - e apoiar a insurreição popular.
- Estamos prontos a apoiar a rebelião popular. O povo tem o direito de recorrer à insurreição em defesa da ordem constitucional - afirmou Chávez.
Também em Manágua, o secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, fez um duro pronunciamento e anunciou o envio de uma delegação a Honduras.
- Foi um golpe e devemos manter a pressão sobre o governo ilegítimo - disse Insulza, destacando que a reunião de hoje da OEA poderá decidir pela exclusão de Honduras.
Embora a princípio Chávez e Zelaya tenham sugerido que os EUA pudessem estar envolvidos no golpe, o presidente Barack Obama disse que o ocorrido "pode abrir um precedente se o golpe não for revertido e Zelaya reconduzido ao poder".
- Vamos trabalhar com a comunidade internacional para restaurar Zelaya de forma pacífica, mediando um acordo entre as partes - disse Obama.
A secretária de Estado, Hillary Clinton, pediu o restabelecimento da ordem democrática: - As tensões em Honduras evoluíram para o que parece ser um golpe e vamos nos posicionar a favor do restabelecimento da democracia - disse Hillary, que negou planos de suspender a ajuda de US$43 milhões.
As declarações geraram situações raras, como o elogio do ex-presidente cubano Fidel Castro a Hillary, em artigo. "Com esse comando golpista não se pode negociar. Até a senhora Clinton declarou que Zelaya é o único presidente, e os golpistas hondurenhos sequer respiram sem o apoio dos EUA", escreveu.
Zelaya negou novamente que houvesse renunciado:
- Quero voltar ao meu país. Sou presidente de Honduras.
Colaborou Marília Martins, de Nova York
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