Nos bastidores do escândalo no Ministério do Turismo, empresários, ex-funcionários de ONGs e da pasta contam detalhes do esquema de corrupção. Segundo eles, a propina cobrada para liberar verba da pasta chegava a 60% - a taxa mais alta de Brasília.
No Turismo, a taxa de propina mais alta de Brasília
ÉTICA X CORRUPÇÃO
Empresários e ex-funcionários de ONGs revelam que valores desviados podem chegar a 60% do dinheiro liberado
Jailton de Carvalho
BRASÍLIA. Com a Operação Voucher, a Polícia Federal trouxe a público o lado podre das relações entre altos dirigentes do Ministério do Turismo e organizações não governamentais de fachada. Mas o problema pode ser mais amplo do que a polícia mostrou. Em conversas reservadas com O GLOBO, empresários, ex-funcionários de ONGs e do ministério relataram que a taxa de desvio chega, em alguns casos, a 60% do dinheiro liberado. É a taxa de corrupção mais alta de Brasília. Supera até valores que seriam desviados em fraudes com obras da construção civil e contratos com empresas de informática.
- Eu falo isso porque conheço a situação por dentro. O desvio é de 60%. Em alguns casos, nada é aplicado no projeto - disse um importante empresário ligado ao turismo.
O filão desse novo mercado da corrupção seriam os cursos de qualificação profissional. A ideia de preparar trabalhadores humildes para os novos desafios do mercado é sempre bem acolhida, e os projetos finais, descentralizados e gigantescos, quase nunca são fiscalizados.
Empresário discrimina divisão da verba fraudada
As manobras de algumas organizações são favorecidas ainda pela obrigação do governo de ampliar recursos para a criação de infraestrutura para a Copa e as Olimpíadas.
Com a condição de não ter seu nome divulgado, o empresário descreveu ao jornal como a entidade da qual faz parte está atolada em corrupção. A organização recebeu expressiva soma em recursos para programas de qualificação profissional. O administrador do convênio embolsou 15% da verba repassada a título de pró-labore. Um percentual mais alto, 25%, seria destinado a um dos servidores do ministério preso na Operação Voucher. Os chefes do administrador ficariam com mais 15%. Os 5% restantes seriam gastos na compra de notas fiscais frias.
Segundo o empresário, o país realmente precisa criar infraestrutura e melhorar a qualidade dos profissionais que terão contato com os turistas nos grandes eventos do calendário esportivo. Mas nem por isso o governo deveria tolerar desvios. As facilidades de se apropriar de dinheiro público teriam deixado os novos ricos deslumbrados. Eles estariam comprando carros de luxo, fazendas e viajando para o exterior sem preocupação em esconder a repentina fortuna.
- O problema é que alguns desses vagabundos (dirigentes de ONGs fajutas) ainda se vangloriam de estarem ficando ricos. Um deles estava dizendo no último Salão do Turismo que o filho já tinha um BMW - diz o empresário.
FONTE: O GLOBO
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