Por Andrea Jubé e Marcelo Ribeiro | Valor Econômico
BRASÍLIA - O Palácio do Planalto foi surpreendido positivamente pelo anúncio ontem do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de que estuda rescindir parcial ou integralmente as colaborações premiadas dos executivos do grupo JBS que implicam o presidente Michel Temer e dezenas de políticos em crimes de corrupção.
A avaliação interna do Planalto é de que a decisão de Janot comprova a tese inicial da defesa de Temer de que havia "omissão e mentira" nas acusações e que houve "açodamento" da Procuradoria-Geral da República ao denunciar um presidente da República sem aprofundar-se nas provas.
Outra conclusão é de que os fatos novos fortalecem politicamente o governo diante da iminente segunda denúncia contra Temer, pelos crimes de obstrução de justiça e organização criminosa, que Janot estuda apresentar após o feriado de 7 de setembro.
A avaliação interna no Planalto é de que segunda acusação, se vier, chegará "fragilizada" ao Judiciário e ao Congresso. Sobretudo porque a nova acusação será baseada na delação premiada do operador Lúcio Funaro, ligado ao PMDB.
Um auxiliar presidencial relembra que, no passado, Funaro mentiu em outras colaborações premiadas, o que comprometeria a credibilidade de suas eventuais acusações contra o presidente da República.
O mesmo auxiliar presidencial, que conversou com Temer após as declarações de Janot, ressalta que Antônio Mariz já apontou incoerências no argumento de Janot de que as colaborações da JBS são questionáveis, mas não invalidam as provas.
O presidente Michel Temer foi avisado por assessores, por volta das 18 horas de Brasília - cerca de 5 horas em Xiamen, na China, - que Rodrigo Janot concederia uma entrevista coletiva revelando fatos graves, possivelmente sobre a colaboração premiada da JBS.
Ao final das revelações, assessores relataram a Temer o conteúdo da fala do procurador. De imediato, Temer contatou o criminalista e amigo Antônio Claudio Mariz de Oliveira, responsável pela sua defesa no Supremo Tribunal Federal.
Líderes aliados também consideraram que o pronunciamento de Janot enfraquece os efeitos de uma eventual nova denúncia contra o presidente. Para o relator da reforma da Previdência, deputado Arthur Maia (PPS-BA), a decisão evidenciou o açodamento no processo de delação dos executivos do grupo JBS. "Isso desmoraliza por completo a ideia de uma nova denúncia contra o presidente Temer. Se ele [Janot] quer consertar o erro que cometeu, não penso que seja razoável enviar uma nova denúncia faltando dez dias para sair do cargo", disse.
Já o deputado Henrique Fontana (PT-RS) afirmou que eventuais omissões não podem enterrar as apurações. "Nós não vamos aceitar a obstrução das investigações. Não adianta Temer desqualificar os delatores", destacou.
Temer volta hoje da China, após uma visita de Estado ao país e participação na Cúpula do Brics. Ele deve desembarcar em Brasília na madrugada de amanhã.
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