Por Estevão Taiar, Thais Carrança, Ana Conceição e Sergio Lamucci | Valor Econômico
SÃO PAULO - A recuperação da atividade vai ganhar força nos próximos trimestres, com a possibilidade crescente de expansão do PIB superior a 2% em 2018, um movimento puxado basicamente pelo consumo das famílias e pela queda dos juros. A despeito da gravidade da situação fiscal, que continuará a exigir a aprovação de reformas mesmo diante da melhora da atividade, economistas que participaram de debate do Comitê de Acompanhamento Macroeconômico da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), realizado ontem no Valor, têm visão positiva sobre a economia do país.
Os cenários traçados por Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra, Fernando Honorato, economista-chefe do Bradesco, David Beker, chefe de economia e estratégia do Bank of America Merrill Lynch no Brasil, e Luiz Fernando Figueiredo, diretor da Mauá Capital, não contemplam guinadas na política econômica com a eleição de 2018. A retomada mais firme da atividade reforçaria candidaturas com discurso reformista e de austeridade fiscal.
O ano eleitoral deve chegar com taxa de juros e inflação baixas, situação muito confortável no balanço de pagamentos, recuperação do emprego e da atividade, e, pela primeira vez, segundo Kawall, haveria espaço para uma campanha em que questões como a redução do tamanho do Estado e privatização sejam tratadas abertamente.
Economistas veem retomada mais firme
A recuperação da atividade vai ganhar força nos próximos trimestres, com a possibilidade crescente de uma expansão do PIB superior a 2% em 2018, um movimento puxado basicamente pelo consumo das famílias e pela queda dos juros. Essa melhora da atividade deve ajudar os cofres públicos, mas nem de longe resolverá o problema fiscal, que necessita a continuidade da agenda de reformas.
Esse é um consenso entre os economistas que participaram do debate do Comitê de Acompanhamento Macroeconômico da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), realizado ontem no Valor. O cenário básico dos economistas da entidade não contempla guinadas na política econômica na eleição de 2018 - a retomada mais firme da economia reforçaria candidaturas com um discurso reformista e de austeridade fiscal.
"Há amplo consenso de que o problema fiscal é gravíssimo e só pode ser resolvido com reformas", disse Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra. Além dele, participaram do debate Fernando Honorato, economista-chefe do Bradesco e vice-presidente do comitê, David Beker, chefe de economia e estratégia do Bank of America (BofA) Merrill Lynch no Brasil, e Luiz Fernando Figueiredo, diretor da Mauá Capital e ex-diretor do Banco Central.
A despeito do diagnóstico sobre o cenário fiscal, os economistas têm visão positiva para a economia do país, mesmo com um provável aumento de incertezas em 2018. Além de descartar o sucesso de candidaturas com propostas consideradas populistas, eles acreditam que há uma possibilidade crescente de a população entender que reformas como a da Previdência são necessárias.
Na sexta-feira, dia em que foi divulgado o crescimento de 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre, o comitê revisou para cima suas projeções para a atividade deste e do próximo ano. As estimativas, todas de crescimento, passaram de 0,3% para 0,4% em 2017 e de 2% para 2,2% em 2018. Como as revisões foram feitas no mesmo dia do PIB, nem todos os integrantes do comitê já haviam calculado suas novas projeções. Por isso, mesmo essas novas estimativas têm viés de alta. "Quando começamos a falar na ideia de que o PIB vai crescer mais, isso vai melhorando tudo", inclusive o quadro fiscal, diz Kawall.
Essa melhora, contudo, é relativa e a questão fiscal continuará no centro do debate, em especial porque ameaça o cumprimento do teto de gastos já nos próximos anos e a dinâmica da dívida é muito preocupante. "Não é verdade que se a reforma da Previdência não for aprovada cumpre-se o teto. Há ampla gama de esforços que precisam ser feitos", afirma Kawall, para quem, sem reformas, o país não volta a um resultado primário positivo.
Dados apresentados pelo comitê mostram que a dívida bruta pode ter uma trajetória um pouco menos explosiva por causa da queda dos juros, apesar dos déficits primários sucessivos. No entanto, as perspectivas para sua evolução continuam ruins. O comitê calcula que a dívida bruta terminará este ano em 76% do PIB e em 79,4% no ano que vem.
Ainda há fatores que podem contribuir para que a dívida seja menos pressionada, como a aprovação do teto dos gastos, a devolução de recursos do BNDES ao Tesouro Nacional, as privatizações e uma queda adicional dos juros até 2018. Kawall calcula que o BNDES chegará no fim de 2017 com cerca de R$ 200 bilhões em caixa, o que permitiria uma nova devolução ao Tesouro.
Os economistas não têm como cenário-base o risco de descontrole na economia nem agora, em que se espera uma nova denúncia contra o presidente Michel Temer, nem em 2018, quando as eleições devem elevar as incertezas sobre a economia. Segundo Kawall, a calma que se vê no mercado deve-se, além do cenário externo favorável aos emergentes, à crença de que a política econômica não será alterada. Os economistas não veem, por enquanto, espaço maior para a hipótese de vitória de um candidato populista em 2018. "Não é que a chance seja zero, mas está se tornando cada vez mais improvável", afirmou Luiz Fernando Figueiredo, da Mauá.
Segundo Figueiredo, o Brasil está saindo da recessão mais longa e aguda de sua história, e as políticas econômicas de agora, apesar do governo impopular, estão produzindo uma melhora do ambiente, com o desemprego caindo mais cedo do que o imaginado. Assim, com a proximidade da eleição, essa melhora estará acumulada por vários trimestres, com um ambiente mais positivo do que hoje. "Se isso for verdade, é de se imaginar que a população queira a continuidade dessas políticas", disse Figueiredo.
Além disso, segundo o economista da Mauá, nenhum candidato "se jogaria deliberadamente no precipício". Para ele, está claro que se não houver reforma, não só da Previdência, mas de toda a questão fiscal, não é possível governar. "Um governo que venha com uma agenda de expandir gastos, sem cuidar do lado fiscal, não vai conseguir governar."
Kawall, do Safra, diz que seu otimismo reside na expectativa de que, pela primeira vez, haverá espaço para uma campanha em que questões como a redução do Estado e privatização serão faladas abertamente. Ele lembrou que, em eleições passadas, candidatos, mesmo de partidos de oposição ao "populismo", na sua visão, defenderam projetos que seguiam a mesma linha.
Além da percepção mais aguçada sobre os problemas do país, o ano eleitoral deve chegar com inflação comportada e juros baixos, depois que os preços surpreenderam em 2017. Na reunião da sexta-feira passada, alguns dos economistas que participam do comitê chegaram a debater a possibilidade de o índice oficial de inflação (IPCA) fechar o ano de 2017 abaixo de 3%, piso do sistema de metas de inflação, e de o dólar ficar abaixo de R$ 3.
Segundo Fernando Honorato, do Bradesco, a inflação foi a grande surpresa para as projeções do comitê no ano. Na primeira reunião de 2017, o comitê projetava o IPCA fechando o ano em 5% e agora a mediana das estimativas dos economistas está em 3,4%. Parte importante da surpresa ficou por conta da queda da alimentação, com a safra melhor e queda de preços internacionais.
Em 2018, o IPCA não deve sair da linha, na visão dos economistas da Anbima. "O legado dessa recessão enorme é uma inflação muito baixa e um nível de ociosidade da economia muito elevado", diz Figueiredo. "A recuperação acaba sendo muito lenta, por isso, a pressão inflacionária acaba sendo mais comedida". Segundo o economista, este cenário, somado a um arcabouço de políticas razoáveis, garante que a inflação não vá voltar para níveis muito elevados.
A retomada do consumo e a queda antes do esperado do desemprego tampouco deve ameaçar o cumprimento da meta de inflação também em 2018. Esses dois fatores suscitaram discussões na reunião de sexta-feira, mas não são vistos como ameaça. "Para a maior parte dos membros, não há nenhum sinal de restrição do PIB potencial, de que o hiato [do produto] já esteja fechado, de que haverá inflação iminente. Não há nada disso", disse Honorato.
Quanto ao dólar, uma cotação abaixo de R$ 3 em 2017 não faz parte do cenário-base. As projeções do comitê para o câmbio neste ano, por enquanto, variam de R$ 3 até R$ 3,35 ao fim do período, com mediana de R$ 3,20. Para 2018, a mediana é de R$ 3,4.
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