terça-feira, 5 de setembro de 2017

Alckmin e Doria aceleram disputa por 2018

Prefeito de SP admite sair do PSDB para ser candidato, enquanto governador manda recado a correligionário

Sérgio Roxo | O Globo

-SÃO PAULO- Em mais um capítulo da disputa velada pelo posto de candidato do PSDB à Presidência da República, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o prefeito João Doria saíram discretamente em defesa de suas candidaturas e mandaram indiretas um para o outro. Alckmin chegou a dizer que, na política, “o novo é falar a verdade”. Doria não só disse que tem “praticado a verdade” como deixou assinalado que, por enquanto, não pretende deixar o partido, num sinal claro de que pode abandonar o ninho tucano caso seja preterido como presidenciável em 2018.

Os dois tucanos participaram ontem do mesmo evento. Diante dos holofotes, ao se encontrarem, trocaram um rápido abraço. Em seguida, refugiaram-se em uma sala para uma conversa reservada de aproximadamente cinco minutos. As declarações de Doria, publicadas anteontem pelo jornal “Estado de S. Paulo”, dizendo que o candidato do PSDB deve ser escolhido com base na avaliação de pesquisa de intenção de voto, tornaram ainda mais tenso o clima de desconfiança.

Pesquisa Datafolha de junho mostra os dois tucanos com o mesmo patamar, mas Doria é menos conhecido e tem menor rejeição, o que, segundo avaliações internas, indicaria uma possibilidade maior de crescimento. Alckmin, por sua vez, tem em mãos a máquina do partido, dado principalmente à sua gestão no estado, onde venceu na grande maioria das cidades.

De forma discreta, bem ao seu estilo, Alckmin, que peitou figuras históricas do PSDB, entre eles, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, para garantir a candidatura de Doria a prefeito no ano passado, não perdeu a chance de cutucar o seu afiliado político político, sem citá-lo nominalmente.

CUIDADO PARA EVITAR CLIMA DE GUERRA
Ao ser perguntado durante fórum com empresários por que pretende ser presidente da República , o governador respondeu:

— Eu fui a Porto Alegre e me perguntaram: O que é o novo na política? O novo é idade? É ter 30 anos, 70 anos? Eu acho o Fernando Henrique (Cardoso) novo e ele tem um pouco mais do que isso. O novo é nunca ter sido candidato? O novo é, em primeiro lugar, falar a verdade. É você olhar nos olhos, e as pessoas poderem acreditar — disse o governador.

Justamente o prefeito de São Paulo, eleito no ano passado, na primeira disputa eleitoral de sua vida, e com um ritmo intenso de publicações nas redes sociais, tem se apresentado como “o novo na política”. Questionado de forma provocativa se tem sido verdadeiro na disputa interna do PSDB com Alckmin, Doria afirmou:

— Tenho falado a verdade e praticado a verdade. E é isso que vou continuar a fazer. Eu serei candidato no dia em que eu me manifestar claramente e tiver o apoio de um partido.
Em sua palestra no evento de ontem, Doria se preocupou, antes de mais nada, em repetir mais uma vez que não existe qualquer problema em sua relação com o padrinho político.

— Queria começar a minha exposição dizendo que a minha relação com o governador Geraldo Alckmin é a melhor possível. Não tem nenhum rompimento, nenhum atrito e nenhum arranhão. Nunca teve, não tem e não terá.

Mas, quando indagado se pode deixar o PSDB para se candidatar a presidente, Doria reafirmou ter recebido convite de quatro partidos (PMDB, DEM e outras duas legendas que ele não revela) para se filiar.

— Eu agradeci os convites, foram honrosos, mas eu disse: eu não tenho razões para sair do PSDB. Por enquanto, nenhuma razão. O futuro a Deus pertence — disse o prefeito paulistano, sem fechar totalmente a porta para uma saída.

Diante das especulações, Alckmin tratou de de colocar panos quentes:

— Acho que o João não sai do PSDB, ele tem compromisso com o PSDB.

Enquanto Alckmin é claro ao afirmar “querer, sim, ser candidato”, Doria se mantém em cima do muro ao abordar a questão:

— Veremos. No momento, eu sou prefeito da cidade de São Paulo.

ALCKMIN BATE EM DILMA; DORIA, EM LULA
Por outro lado, Doria não perde a oportunidade de se colocar como oponente do ex-presidente Lula, que tem anunciado que será candidato ao Planalto pelo PT no ano que vem. Na palestra de ontem, chamou o petista de “Luiz Inácio Mentiroso da Silva”. Já Alckmin, no máximo, faz críticas à ex-presidente Dilma Rousseff, considerada uma figura fora dos principais debates da política nacional no momento.

Em meio a todas as polêmicas, o prefeito só garante que não disputará prévia com o padrinho político.

— O que não farei é disputar (prévias) contra Geraldo Alckmin. Não faz sentido isso, pois tenho uma relação de amizade, de estima, de respeito e consideração por ele — disse Doria, lembrando que a Executiva do PSDB ainda não decidiu a forma que será escolhido o candidato tucano a presidente.

O prefeito de São Paulo ainda nega que exista uma disputa velada de bastidores dentro do ninho tucano paulista:

— Nem velada nem revelada. Há um bom entendimento entre nós. A relação nossa é muito boa. Vamos que você ainda queria imaginar que o PSDB pode ter dois candidatos. É um privilégio para o PSDB ter dois nomes lembrados (para disputar a Presidência da República).

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