Avanço de líderes populistas em Europa e EUA traz risco de ruptura do modelo civilizatório ocidental e abre espaço para potências autoritárias, como Rússia e China
A onda populista que se espalha pelo Sul e Leste da Europa não é mera manifestação isolada de rebeldia nacionalista contra Bruxelas e o modelo de desenvolvimento baseado no racionalismo fiscal, defendido pela Alemanha de Angela Merkel. Ela faz parte de um projeto ideológico mais amplo de extrema-direita, que encontra eco igualmente no radicalismo esquerdista, alimentando-se do descontentamento generalizado que obteve fôlego sobretudo após a crise financeira de 2008, cujo impacto negativo afetou a credibilidade do bloco europeu e o sistema de cooperação e integração globais.
Apesar de pregar o isolacionismo por meio da construção de muros, reais e simbólicos, tal ideologia se articula internacionalmente, como evidenciam as visitas de Steve Bannon, ex-estrategista-chefe de Donald Trump e fundador do site de notícias ultraconservador “Breitbart News”, a governos europeus propensos à dissidência, como a Hungria do premier Viktor Orbán. Costura-se, assim, uma frente que poderia muito bem ser batizada de Internacional Populista. E, apesar da derrota eleitoral de líderes como a francesa Marine Le Pen, vozes dissonantes continuam ressoando, sobretudo nas regiões mais pobres do bloco, mirando-se no exemplo do Brexit. A vitória da coalizão de extrema-direita com populistas na Itália é o exemplo mais recente.
A esta ameaça interna somam-se desafios externos ao modelo civilizatório do Ocidente, representado pela UE e nações organizadas sob a ordem democrática. A Rússia de Vladimir Putin, que nos últimos anos consolidou sua condição de potência, invadiu parte do território da Ucrânia e anexou a Crimeia. Também fincou pé no Oriente Médio, como aliada do ditador sírio Bashar al-Assad, e até mesmo interferiu no processo eleitoral americano de 2016, que levou Donald Trump à Casa Branca.
Pequim, por sua vez, ocupou parte do território do Mar do Sul da China e alterou o status do presidente Xi Jinping para líder supremo, com direito de permanecer no poder indefinidamente. Tal avanço ocorre num momento em que a China se consolida como segunda maior economia do mundo, com um mercado interno robusto, e forte presença no comércio internacional.
Inversamente, essa conjuntura geopolítica se dá em meio ao enfraquecimento da Otan, diante da retirada de apoio de Washington e em razão de disputas internas, como os conflitos entre o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, e líderes europeus, sobretudo a alemã Angela Merkel, em torno da acusação de violações de direitos humanos pelo regime turco.
O avanço geopolítico de Rússia e China diante do Ocidente se beneficia da guinada isolacionista de Trump e da expansão das forças nacionalistas — a Internacional Populista — que desestabilizam a Europa como projeto de integração global. Trata-se de um risco concreto de um retrocesso histórico.
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