O Globo
Nunca um presidente concorreu à reeleição no Brasil com um quadro tão adverso na economia. A inflação estava baixa e em alguns casos cadente nos anos em que Fernando Henrique, Lula e Dilma disputaram seus segundos mandatos. A inflação é o dado mais sensível para os eleitores. Em 2022, existem outros complicadores, como o risco de falta de diesel se houver congelamento de preços. O PIB do primeiro trimestre, que será divulgado na quinta-feira, vai surpreender positivamente, mas os economistas alertam para o risco de recessão técnica no segundo semestre, momento em que o eleitor irá às urnas. A pesquisa do Datafolha mostra um salto na percepção negativa dos entrevistados. Saiu de 31%, em 2019, para 66%, agora, a fatia dos que acham que a situação econômica do país piorou nos últimos meses.
Em maio de 1998, quando Fernando Henrique disputou o segundo mandato, o país tinha uma inflação acumulada em 12 meses de apenas 3,95%. Em outubro, na hora do voto, havia caído para 2%. A economia estava recessiva e havia uma enorme pressão sobre o câmbio, que explodiu em 1999, mas a inflação estava baixa. Em maio de 2006, quando Lula concorreu ao segundo mandato, a taxa estava em 4,2% e caindo. Em outubro, bateu em 3,26%. Entre maio e outubro de 2014, quando Dilma Rousseff concorreu, a inflação ficou entre 6,37% a 6,59%. Agora, o índice está em dois dígitos desde setembro do ano passado.
Há outras complicações que rondam o
governo. O setor de combustíveis tem alertado sobre o grave risco que o país
corre de faltar óleo diesel próximo às eleições. Isso porque os importadores
podem não querer trazer o produto se o preço permanecer congelado. Um
ex-presidente da Petrobras explicou à coluna que a empresa, claro, pode
aumentar suas importações para suprir o mercado interno, mesmo com prejuízo.
Mas o problema é que há um quadro de escassez global. A Rússia é a maior
exportadora mundial de diesel e teve que reduzir a oferta para atender à
demanda gerada pela guerra e em razão das sanções internacionais. A China está
saindo das medidas de isolamento social, o que deve aumentar o seu consumo.
Além disso, o período de safras no Brasil está próximo, o que também aumentará
o nosso consumo interno.
— Os spreads do diesel e da gasolina estão
em níveis recordes, de US$35/barril e US$41/barril, respectivamente. Isso
significa que seus preços se elevaram bem mais do que o petróleo. Em termos
normais esses spreads giram em torno de US$10/barril — alertou o ex-dirigente
da estatal ouvido pela coluna.
Os preços do petróleo continuam
pressionados nos mercados internacionais. Desde o dia 20 deste mês, a cotação
do brent saltou de US$ 102 para US$ 117, uma alta de 14,7%. A partir do início
da guerra, foram poucos os dias em que a cotação ficou abaixo dos US$ 100. Por
isso, mesmo com a queda do dólar em relação ao real, a Associação dos Importadores
de Combustíveis avalia que os preços do diesel no país estão 11% abaixo das
cotações internacionais, e os da gasolina, 7%. Ou seja, a pressão ainda é
enorme sobre a Petrobras, por novos reajustes.
O otimismo com o PIB do primeiro trimestre,
e até do segundo, cresceu entre os analistas. O IBGE divulgará na quinta-feira
um bom número, e o atual trimestre também pode ficar positivo. Mas o risco é os
dois últimos trimestres serem de recessão técnica. Ou seja, quando o eleitor
for às urnas, a inflação não terá tido queda significativa, o desemprego estará
alto e a economia estará parada. E ainda pode haver problemas de suprimento do
combustível que garante o escoamento da safra.
O governo aposta em três medidas para
reduzir a inflação o mais rápido possível. O primeiro é o corte do ICMS sobre
combustíveis e energia aprovado na Câmara, e que ontem o Senado avisou que será
enviado diretamente ao plenário com relatoria do ex-líder do governo. O
segundo, a intervenção na Petrobras para congelar os preços até as eleições. O
terceiro, vejam vocês, é um presente dado pelo Supremo Tribunal Federal (STF),
tão atacado por Bolsonaro. A corte julgou ilegal considerar o ICMS na base de
cálculo do PIS/Cofins, o que gerou um crédito tributário de R$ 60 bi, que pode
ser usado para abater a conta de luz. No ano passado foram usados R$ 12 bi,
sobram R$ 48 bilhões.
Nesta reta de chegada, Bolsonaro quer usar
todos os truques possíveis, para ver se atenua essa situação na economia, que
nunca foi vivida por qualquer dos seus antecessores na hora de pedir mais um
mandato ao eleitorado.
Um comentário:
Mesmo se a economia estivesse bombando Bolsonaro teria que sair da presidência,não tem envergadura moral pra ocupar tal cargo.
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