O Estado de S. Paulo
Em vez de passear de jet ski em Santa Catarina, Bolsonaro fez sobrevoo e comício no Recife
Nada poderia ser mais sarcástico e
irritante, neste momento de horrores, do que o sanguinário Vladimir Putin
enviar mensagem para o presidente Jair Bolsonaro lamentando a tragédia em
Pernambuco. Qual o sentido de quem massacra milhares de ucranianos lastimar a
morte de dezenas de brasileiros?
“A Rússia compartilha o pesar daqueles que
perderam seus parentes e entes queridos como resultado do desastre natural
desenfreado e espera uma rápida recuperação de todas as vítimas”, diz a
mensagem de Putin a Bolsonaro, depois postada no Telegram.
Putin não está nem aí para mortes no Brasil
e fica claro o namoro com Bolsonaro desde a ida do presidente brasileiro a
Moscou, com o filho especialista em internet e toda a cúpula militar, às
vésperas da invasão da Ucrânia. Os objetivos, os interesses e as intenções
nunca foram devidamente explicados.
As reações do próprio Bolsonaro a dor, morte e destruição em Pernambuco, sobretudo no Recife, não são de um presidente preocupado com seu povo e de um ser humano com empatia e coração. São de um candidato que só pensa na reeleição.
Se pudesse, Bolsonaro repetiria o que fez
quando as chuvas devastaram a Bahia no início do ano: largaria tudo para lá e
iria passear de jet ski nas águas paradisíacas de Santa Catarina. Mas generais
e líderes do Centrão deram um toque: não pegou nada bem. Só por isso ele foi a
Minas e agora a Pernambuco durante as enchentes.
Mas “todo mundo morre” e o presidente “não
é coveiro”, lembram? Em vez de demonstrar compaixão, dedicou-se a fazer comício
de campanha no Recife. Falou de auxílio emergencial na pandemia, de Auxílio
Brasil (um Bolsa Família para chamar de seu) e das maravilhas do seu governo.
De quebra, atacou governadores, pelo isolamento social contra o vírus, e
particularmente o do Estado, Paulo Câmara (PSB).
Segundo Bolsonaro, Câmara não foi acertar
ações comuns entre os governos federal e estadual contra a tragédia. Já o
governador informa que nem sequer foi comunicado da ida do presidente ao
Recife. No Datafolha, o ex-presidente Lula tem 62% e Bolsonaro, 17% no Nordeste.
E o recorde de votos de Lula é sempre em Pernambuco, onde nasceu.
“Catástrofes acontecem...”, deu de ombros o presidente para quem perdeu amores, parentes e bens e suas casas. E, ao comentar a barbárie contra Genivaldo, trancado no porta-malas com gás lacrimogêneo e spray de pimenta por agentes da PRF, defendeu “justiça, mas sem exagero”. Sem exagero?! O ex-presidente Lula não precisa fazer campanha e Ciro Gomes e Simone Tebet podem deixar Bolsonaro para lá. Ele dispensa adversários, é o seu maior adversário.
Um comentário:
Bolsonaro tem que ser deixado pra lá mesmo.
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