O Globo
A defesa do Estado Democrático de Direito é
também a luta por uma sociedade menos desigual, sem espaço para acordos que
ferem a essência do pacto republicano
No bicentenário da Independência do Brasil
e às vésperas da nona eleição direta para a Presidência da República após a
reabertura política, assistimos a manifestações e chamamentos públicos que
tentam desestabilizar o Estado Democrático de Direito e desafiam o mais
importante projeto nacional das últimas quatro décadas: o regime democrático no
país, assentado na Constituição Federal de 1988.
Assim como o nosso Brasil, a Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – a Unesp – é uma grande construção comunitária advinda de batalhas que travamos ao longo de toda a nossa trajetória. Combatemos a ocupação da Unesp por tropas de choque da Polícia Militar; participamos do movimento pela democratização da nossa universidade na época em que os reitores eram nomeados pelo governador, sem consulta à comunidade; e estivemos presentes na conquista da autonomia universitária em São Paulo. Não há espaço para qualquer ameaça à democracia.
O ambiente criado por ataques infundados ao
funcionamento das urnas eletrônicas, desacatos às instituições da República e
ameaças ao Estado Democrático de Direito forjou os dois manifestos em defesa da
democracia que serão lidos neste 11 de agosto no Largo São Francisco: um
assinado por centenas de milhares de brasileiros como eu, médico e professor
universitário; e outro subscrito por mais de cem pessoas jurídicas, entre as
quais entidades representativas do empresariado nacional, dos trabalhadores, do
terceiro setor e do mundo acadêmico, como a Universidade Estadual Paulista
“Júlio de Mesquita Filho”.
Como reitor da Unesp e defensor dos valores
internacionais definidores da missão das universidades, tenho absoluta certeza
de que a autonomia intelectual, a busca pelo conhecimento baseada no pensamento
crítico e a investigação científica realizada com integridade e ética em prol
do desenvolvimento humano sustentável ressoam com os ideais perseguidos pelos
regimes políticos democráticos.
Nesse sentido, a defesa da democracia
assentada em nossa “Constituição Cidadã” estará sempre interligada à defesa
stricto sensu da autonomia universitária e, em sentido mais amplo, à luta por
uma sociedade menos desigual, sem espaço para narrativas negacionistas nem para
acordos que ferem a essência do pacto republicano.
No atual cenário, é extremamente necessária
uma frente plural e apartidária que reaja a investidas que fragilizem o
equilíbrio institucional do país ou ataquem quem guarda os fundamentos
conquistados por quem lutou por soberania, pluralismo político e dignidade da
pessoa humana. Em qualquer outro cenário político que não seja o respeito às
eleições diretas, ficaremos à mercê de uma janela de ventos autoritários que
poderão soprar para qualquer lado e anunciar um inverno sem data para terminar.
A Carta Magna de 1988 resultou em
conquistas que criaram condições para o avanço de programas sociais e o
estabelecimento de políticas públicas essenciais para a universalização do ensino
fundamental e a construção do Sistema Único de Saúde. Com a democracia em dia,
seguirão coexistindo o nacionalismo do 7 de Setembro de 1822 e o modernismo
expresso um século depois, na Semana de 22, e o Brasil ainda poderá fazer
correções de rota necessárias, buscar o protagonismo científico-tecnológico e
desempenhar com propriedade o papel de destaque que lhe cabe globalmente.
*Pasqual Barretti é médico nefrologista, professor universitário e administrador hospitalar; desde janeiro de 2021, é o reitor escolhido pela comunidade universitária para dirigir a Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, a Unesp
2 comentários:
Caro professor como pode ter tanta confiança no sistema em que nenhum país desenvolvido está utilizando , todos tem comprovante físico de papel, só Butão e Bangladeche usam esse sistema ultrapassado, além do mais ao inquérito na polícia federal pedido pelo próprio tece é para investigar um hacker que penetrou no sistema lá ficou seis meses de maio a meados de outubro de 2018 após o primeiro turno
O disco que registrou todos os passos do invasor foram apagados pelo próprio Tribunal e a polícia federal não pode concluir o inquérito, todas as provas foram destruídas, como confiar nesse tribunal, como confiar nesse sistema eleitoral?
Bonito,mas precisa combinar com os bolsonaristas.
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