Folha de S. Paulo
Podemos aprender com erros e acertos de
experiências como o furacão Katrina
Os efeitos econômicos de desastres
naturais podem ter dono ou não. Não me interessa muito, neste
momento, buscar
culpados. Como muitos brasileiros, admiro quem está fazendo o máximo para
ajudar e espero muito mais das esferas governamentais. Obrigado a todos os
brasileiros que estão doando, dos mais pobres às celebridades, que estão
gastando tempo e dinheiro tentando fazer algo.
Como analista, me preocupo com a reconstrução de Porto Alegre e outras cidades. E, sim, partes de muitas cidades precisam ser reconstruídas, não na sua essência, mas em infraestrutura e organização para sobreviver aos próximos desastres, alguns que serão inevitáveis. E podemos aprender com os erros e acertos de experiências internacionais, como as dos furacões Katrina e Rita, que devastaram Nova Orleans e outras cidades em 2005.
O Estado americano colocou montanhas de
dinheiro para a reconstrução. De acordo com Kevin Gotham, de 2005 a 2011, o programa GO
Zone entregou US$ 23 bilhões em subsídios livres de impostos para famílias e
empresas nas áreas afetadas. Além disso, O Departamento Federal de
Desenvolvimento Urbano investiu mais US$ 19 bilhões para apoiar a reconstrução
de infraestrutura.
O problema foi a falta de planejamento desses
programas. O dinheiro não foi alocado de forma eficiente, muitas vezes indo
para áreas pouco afetadas. A maior parte dos subsídios comerciais foi para as
grandes empresas, as que precisavam menos de ajuda.
Houve também muitos gastos ineficientes
regionalmente. Webster e Adelson mostram, em uma análise de 92 mil
subvenções, que o principal programa do departamento federal, Road Home,
entregou para os bairros mais ricos mais dinheiro do que precisavam e deixou as
áreas mais pobres com muito menos recursos do que necessitavam. Para ter uma
ideia, se as famílias nas áreas mais pobres tivessem recebido os mesmos
recursos, cada uma teria recebido, direta ou indiretamente, mais US$ 18 mil.
Pelo menos há esperança em relação ao mercado
de trabalho. Estudos de Groen
e Polivka, Zissimopoulos e Karoly e Brown e coautores mostraram que efeitos sobre o
desemprego local duraram somente cerca de um ano nos estados da Louisiana e do
Mississippi, com número de postos de trabalho e desemprego no nível pré-Katrina
depois disso. Ainda assim, os efeitos de curto prazo foram grandes, com número
de empregos formais caindo 35% em Nova Orleans e 12% em todo o estado da
Louisiana.
No Brasil, muitas vezes o sujeito é
indeterminado. Problemas
não têm donos e ninguém coloca a cara a tapa para admitir erro. Em casos de
desastres naturais, às vezes não há mesmo o que fazer, embora haja como se
preparar minimamente (o que o governo do Rio Grande do Sul parece não ter
feito).
Mesmo que a prevenção completa não seja
possível, é ainda mais importante ter processos para lidar com as
consequências. Precisamos de recursos robustos para as comunidades do Rio
Grande do Sul quando o pior da crise passar, para ajudá-las a se reerguer. No
mínimo, precisamos aprender com os erros dos outros.
É possível fazer direito, limitando os danos
de longo prazo e ajudando os mais pobres (renda diretamente para eles é sempre
o melhor remédio). O problema é que vão aparecer abutres em cima de qualquer
dinheiro para o Sul.
Que desta vez eles não consigam e tenhamos
uma resposta que seja tão forte quanto as de quem tem ajudado. De verdade.
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