Folha de S. Paulo
Quem mais trabalha para acelerar a crise
climática é o Congresso
"Todos os modelos climáticos mostram
que, com o aumento da temperatura global, vai aumentar a quantidade de chuvas e
secas intensas", disse o físico Paulo
Artaxo para a repórter Jéssica Maes. Ele deu a declaração após o flagelo no
Rio Grande do Sul. Mas há pelo menos 20 anos ouvimos a frase, quase com as
mesmas palavras, e nada tem sido feito.
Na contramão do que recomenda o pesquisador da USP, a Prefeitura de Porto Alegre não investiu um real em prevenção a enchentes em 2023. "Aumentar o orçamento das defesas civis, multiplicando por cinco, por dez. Desse modo, é possível ter toda a estrutura de resgate pronta antes de desastres acontecerem e salvar vidas", afirmou Artaxo, lembrando que o prejuízo é maior para a população de baixa renda, que não tem para onde ir.
Além da falta de investimento, não há ações
integradas entre municípios, estados e governo federal. Aliás, quase não há no
país integração em qualquer setor, o que existe é o atropelo depois da casa
arrombada (ou submersa), evidenciando a crise federativa. A primeira coisa que
fez Eduardo Leite —patrocinador do desmonte ambiental— foi pedir ajuda ao
Planalto. O detalhe é que o governador preferiu as redes sociais para fazer o
apelo. Nem precisava politizar a tragédia, ela é essencialmente política.
Quem mais trabalha para estimular a
destruição é o Congresso. Os deputados acabam de aprovar um projeto que na
prática vai acelerar a substituição de florestas nativas por plantações de
eucalipto —e há mais de 25 PLs do mesmo tipo. Desde 2023, apenas uma única
deputada, Célia
Xakriabá, destinou recursos relacionados às mudanças climáticas, enquanto
os redutos eleitorais receberam derramas de dinheiro para uso sem controle.
Não bastasse a chuva, está em cartaz um circo de mentiras sobre a assistência aos desabrigados. Como na época da pandemia, é uma tática da extrema direita.
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