sexta-feira, 7 de novembro de 2025

O boicote do Tio Sam, por Bernardo Mello Franco

O Globo

Lula criticou "forças extremistas" que negam aquecimento global; Boric e Petro atacaram republicano, cuja ausência virou assunto incômodo em Belém

O Tio Sam não quis conhecer o nosso carimbó. Depois de abandonarem o Acordo de Paris, que estabeleceu metas para frear o aquecimento global, os Estados Unidos ignoraram a primeira COP realizada na Amazônia. O boicote transformou Donald Trump num assunto tão incômodo quanto incontornável em Belém.

Além de não vir, o inquilino da Casa Branca se recusou a enviar representantes à capital paraense. A decisão foi recebida como um ato de hostilidade ao multilateralismo e ao esforço coletivo para reduzir as emissões.

No discurso de abertura da Cúpula do Clima, Lula ensaiou um contra-ataque. O anfitrião criticou as “forças extremistas” que negam as mudanças do clima e espalham desinformação para “obter ganhos eleitorais”.

Sem citar o nome de Trump, Lula também lamentou os milhões de dólares que poderiam ser investidos no combate às mudanças climáticas, mas são torrados em guerras e “rivalidades estratégicas”. Mais uma estocada no americano, que forçou os países da Otan a aumentarem os gastos militares e agora quer despejar US$ 1 trilhão em Defesa em 2026.

Enquanto o presidente brasileiro usou tom diplomático, seus aliados regionais rasgaram o verbo contra Trump. O chileno Gabriel Boric chamou o republicano de mentiroso. O colombiano Gustavo Petro disse que ele está “100% errado” e é “um negacionista científico”. “Trump está contra a Humanidade”, sentenciou.

A presença de governadores e congressistas democratas não atenuou o boicote dos EUA. Sem delegação para representar o país, os oposicionistas não participam da cúpula de líderes. Até aqui, mal foram notados na multidão que tenta se deslocar por Belém.

Embora diplomatas brasileiros digam que a presença de Trump poderia ofuscar os debates, seu forfait reforça a ideia de que a COP30 será uma cúpula esvaziada. Presidentes que têm boas relações com o Brasil, como o chinês Xi Jinping, o indiano Nahendra Modi e o sul-africano Cyril Ramaphosa, também dispensaram a expedição amazônica. O Papa Leão XIV, convidado pessoalmente por Lula, preferiu ficar no Vaticano.

Questionado sobre tantas ausências, o ministro Mauro Vieira tentou convencer jornalistas de que a COP não está esvaziada “de forma alguma”. “O importante é o número de países que participam. É muito grande”, desconversou o chanceler.

 

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