O Globo
Lula criticou "forças extremistas"
que negam aquecimento global; Boric e Petro atacaram republicano, cuja ausência
virou assunto incômodo em Belém
O Tio Sam não quis conhecer o nosso carimbó.
Depois de abandonarem o Acordo de Paris, que estabeleceu metas para frear o
aquecimento global, os Estados Unidos ignoraram a primeira COP realizada na
Amazônia. O boicote transformou Donald Trump num assunto tão incômodo quanto
incontornável em Belém.
Além de não vir, o inquilino da Casa Branca se recusou a enviar representantes à capital paraense. A decisão foi recebida como um ato de hostilidade ao multilateralismo e ao esforço coletivo para reduzir as emissões.
No discurso de abertura da Cúpula do Clima,
Lula ensaiou um contra-ataque. O anfitrião criticou as “forças extremistas” que
negam as mudanças do clima e espalham desinformação para “obter ganhos
eleitorais”.
Sem citar o nome de Trump, Lula também
lamentou os milhões de dólares que poderiam ser investidos no combate às
mudanças climáticas, mas são torrados em guerras e “rivalidades estratégicas”.
Mais uma estocada no americano, que forçou os países da Otan a aumentarem os
gastos militares e agora quer despejar US$ 1 trilhão em Defesa em 2026.
Enquanto o presidente brasileiro usou tom
diplomático, seus aliados regionais rasgaram o verbo contra Trump. O chileno
Gabriel Boric chamou o republicano de mentiroso. O colombiano Gustavo Petro
disse que ele está “100% errado” e é “um negacionista científico”. “Trump está
contra a Humanidade”, sentenciou.
A presença de governadores e congressistas
democratas não atenuou o boicote dos EUA. Sem delegação para representar o
país, os oposicionistas não participam da cúpula de líderes. Até aqui, mal
foram notados na multidão que tenta se deslocar por Belém.
Embora diplomatas brasileiros digam que a
presença de Trump poderia ofuscar os debates, seu forfait reforça a ideia de
que a COP30 será uma cúpula esvaziada. Presidentes que têm boas relações com o
Brasil, como o chinês Xi Jinping, o indiano Nahendra Modi e o sul-africano
Cyril Ramaphosa, também dispensaram a expedição amazônica. O Papa Leão XIV,
convidado pessoalmente por Lula, preferiu ficar no Vaticano.
Questionado sobre tantas ausências, o
ministro Mauro Vieira tentou convencer jornalistas de que a COP não está
esvaziada “de forma alguma”. “O importante é o número de países que participam.
É muito grande”, desconversou o chanceler.

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